A morte d'Ele

Posso ver no brilho da bota à minha frente, o sangue que escorre do meu couro cabeludo. É uma boa bota, mas ficou com uma mácula de sangue, o meu. Era a terceira vez que ela dava com minha boca, e eu ainda sorria ao cuspir o último dente que me restava na frente. Sabe aquelas crianças com janelinhas, esse sou eu, nesse momento, sangue escorrendo e grudando nos longos fios de cabelos dourados, poucos dentes restantes na boca, escárnio dos inimigos, ajoelhado no chão, meia dúzia de pistolas apontadas pra mim. Se eu pudesse, pegava a pistola que levo no meio das pernas e mijava em todos eles, depois de matá-los com dois ou três tiros bem dados. Como que eu vim parar aqui? Longa história que envolve um rabo de saia que leva o nome de Puta mais Foda do Oeste, vê se eu nego, não estou fodido bem agora?

Se eles vão me matar? Claro que vão. Quem se arriscaria a me deixar vivo para enfrentar minha vingança? O Morte, eles me chamam. Mundícia, para os íntimos. Mete profundo, para as íntimas. Não dou ponto sem nó, sequer soco sem sangue, não erro um tiro sem querer e não deixo filhos espalhados por aí. A raça ruim do meu sangue morre por cima da barriga da mulher. Não, a raça acaba comigo, e parece que vai ser agora. Sorrio para eles, o que os deixa mais furiosos. Uma bicuda me acerta nos rins. Puta que pariu, vejo estrelas com um sorriso na cara. Eles me olham raivosos, sabem que eu não vou arredar para eles.

Ouço o clique do gatilho. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete gatilhos prontos pra me enfiar balas. E começa o show. O primeiro tiro é no braço, depois o ombro, as pernas, o peito, o pescoço, e eu vivo, me mantendo firme nos joelhos, como? Temos um pacto, A Morte e eu, eu morro com dignidade perante meus inimigos, ela leva minha alma podre onde bem entender, e se não estou muito enganado, vai ser para o inferno.

Sucumbo com a última bala, direto no coração, mais para a esquerda que para a direita. Eles riem quando me veem tombar com a cara no chão, comendo terra. Uma pancada e eles dão mais um tiro para terem certeza. E estou morto...?

14/12/2014

16:53

Edivana
Enviado por Edivana em 11/02/2016
Reeditado em 11/02/2016
Código do texto: T5540515
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