O túmulo

Era um túmulo imponente,apesar de ter a aparência de vencido pelo tempo-mofos nas paredes,rachaduras.Estava cercado por uma decoração de paredes rochosas com plantas verdes e de aparência bem cuidada.Um mausoléu de respeito.A corrente que o cercava estava enferrujada,talvez,de propósito para que combinasse.Era grossa,de anéis robustos e firmes.Circundava o portão de entrada.Os bustos de dois anjos pareciam de plantão,como se ali estivessem para proteção do seu habitante.Tinham asas nas costas-abertas-de longas penas alvas,de brancura diáfina.Os olhos abertos e dirigidos para quem se aproximasse da entrada principal-os braços erguidos,abertos. Estavam vestidos com longas vestes desenhadas no mármore,como se fôssem de real tecido, devido ao realce artístico bem confeccionado das dobras e nuances de sua caída natural.Vieram da Itália,que era o berço dos artistas do fabrico de peças de cemitério feitas nas mais variadas pedras naturais.Fôram esculpidas em blocos de mármore Carrara.Diziam que pelo Alemão Johan Van Halbigg. Esculpidas num estilo gótico,com nuances claros de um barroco,mas de proximidade com o Rococó.Sob a escuridão noturna pareciam vivos e atentos aos que se aproximavam.Falavam que casais, que ali adentravam pelo cemitério para algum tempo nos prazeres da carne- assustavam-se olhando para os anjos e fugiam amedrontados, em pânico.Os anjos estavam como se respirassem,ou batiam os olhos.Suas vestes pareciam tremular ao vento da noite.Ficava o mausoléu na parte mais alta do terreno do cemitério.A lua cheia surgia próximo,imponente.Algumas árvores tremulavam os seus galhos retorcidos desenvolvendo uma sintonia assustadora. Um chuvisco fino se fazia presente.O vento sibilava.Era como se fôsse uma cena de um filme classe D, de terror.

-Teremos que nos separar,por aqui.

Ela ficou assustada.Sabia da lenda daquele mausoléu.E tinha medo dos mortos.

-Não acredito-disse com fúria,com a voz tremulando-trouxe-me aqui para depois ir embora?Eu tenho medo dos mortos.Eu odeio cemitérios.Como pôde ter me trazido para cá,e depois quer ir embora e me deixar aqui sozinha...?

-Eu preciso ir.Aqui não é o meu lugar.Também,não gosto daqui

-Eu...não sei se o xingo,ou se o mato...Eu tenho medo dos mortos.Eu tenho medo de ficar sozinha num cemitério.Será que não entende isso?

O ambiente havia ficado mais sinistro quando nuvens cinzas encobriram a lua.Uma coruja passou a ensaiar o seu canto agourento.Morcegos desfilavam rufando suas asas. O rufar das asas da coruja os assustou.

-Eu preciso ir.Eu moro do outro lado para o fundo do cemitério.Não tem problema você ficar por aqui...Pode retornar e voltar sozinha.A lua cheia logo retorna.São nuvens passageiras...

Ela disse um palavrão.Mais outras ofensas morais.Cuspiu. Xingou mais,de forma acelerada.

-Seu filho de uma puta.Depois que se satisfez com todos os prazeres que te ofereci quer me deixar por aqui como se fosse um nada.Covarde,irresponsável.

-Posso te perguntar uma coisa?

-Va se fuder....-disse xingando,com fúria.Tinha os punhos cerrados.Mas, ele insistiu:

-Diga-me para que lado você mora...Sheila é o seu nome?

Então se recordou,que se quer havia tido tempo para lhe dizer o nome.Tudo oque fez foi erguer o vestido e lhe exibir as coxas roliças,bem torneadas e o sexo desnudo.Engalfinharam-se por entre os troncos das árvores,até que atingiram o êxtase com frenético frenesi de gozos diversos-as respirações ofegantes.Gemiam,e ela o enebriava com total habilidade nas coisas dos prazeres da carne.

-Como sabe o meu nome?

Ele a virou para o mausoléu.O mais conhecido daquele cemitério e da cidade.Num bloco de mármore Carrara estava esculpido o busto da mulher.As suas vestes pareciam reais.Ele se afastou sem ter notado se era ela que repousava,agora no pedestal de mármore,de forma incólume,passiva,de olhar gélido,ou que havia embrenhado-se na escuridão do cemitério chocada com a descoberta misteriosa,inexplicável- em busca de uma resposta após ter tido mais uma madrugada de calorosa satisfação sexual.Ele se afastou sem demonstrar medo.Olhou,de relance para os dois anjos e ,agora não mais duvidava que eram os vigias reais do seu mausoléu,e que a cada noite uma surpresa poderia ocorrer.Uma chuva fina desabava sobre os seus ombros.Levava nos lábios o sabor dos seus beijos.Seguiu deduzindo que a bela e sedutora mulher havia retornado para o túmulo,e tinha a certeza absoluta de que ninguém lhe acreditaria nesta história quando contasse para os amigos.A exceção seria o amigo escritor Leônidas Grego.Um conhecido de longas datas.Lia os seus contos de mistérios em muitos sites de contos de terror.Indagou aos seus botões:" ora, se alguém morreu perde o corpo para os vermes,estes o devoram.Como pode ter desejos sexuais?Repousar num túmulo e viver no cemitério?"

A resposta lhe dada pelo amigo Leônidas não lhe convenceu:" os espíritos conservam o que são quando partem da vida material para a espiritual.Os que se drogam querem se drogar,ainda.Os que bebem querem beber,pois,têm sede.Os que são escravizados pelo sexo,querem sexo..."

-Mas,os vermes comem os seus corpos.Apodrecem.Existe a desagregação molecular...

-Os vermes devoram,o que é desse mundo...O corpo astral,períspirito,ou conhecido como duplo etérico, ou alma-este é eterno,indestrutível.É uma cópia perfeita do corpo, que foi pelos vermes devorados- e conserva as suas imperfeições no corpo mental,se não evoluiu o bastante para se desprender das ofertas do plano terreno,da vida material:as viciações,as imperfeições morais.

Falou-lhe,com paciência o amigo Leônidas.Acrescentando que,mesmo desprendido da vida material,um corpo desencarnado pode estar revestido de energias densas,conhecidas como hectoplasma,inconscientemente roubado dos encarnados,ou ser uma fonte,ainda não desprendida do espírito e pode ser sentida,tocada-ter um volume considerável.-Antes de abandonar de vez o cemitério deu uma última olhada e ficou espantado com a realeza da dupla de anjos que pareciam vivos diantes da luz do luar.A chuva fina persistia.Conservava no olfato o odor enebriante do corpo da fêmea que o seduziu e o conduziu aos misteriosos prazeres do pecado.Longos anos depois assim que passava por um cemitério recordava das sensações do mundo proibido que habitava entre covas e túmulos encardidos pelo mofo do tempo.

LG

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 15/10/2017
Reeditado em 30/10/2017
Código do texto: T6142877
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