Carta de despedida

"Por que você me salvou? Para me deixar assim? Nem ao menos esperou que me recuperasse.

Eu estava morrendo aos poucos, morrendo por dentro e você me salvou, me libertou, me fez sentir viva outra vez, especial, me fez sentir amada novamente e para quê? Como você pôde? Eu te amei intensamente e você sabe disso.

Agora você me deixou e sinto-me sozinha novamente. Não sei como seguir em frente. Estou perdida, sinto que começo a morrer novamente, definhando aos poucos. Tudo dentro de mim está confuso, nem ao menos sei mais quem sou, perdi minha essência.

Juro que tentei seguir em frente, tentei ser feliz novamente, mas não deu, não consegui. Você era meu chão, meu refúgio, meu alicerce e tê-lo perdido foi demais para suportar. Quando me sentia triste era você quem procurava. Você me consolava, dizia que tudo ia ficar bem e realmente ficava. Quando sentia medo você me abraçava e sentia que era somente isso que precisava. Cada segundo sem você doe, dilacera a minha alma.

Às vezes penso que seria melhor nunca tê-lo conhecido, que seria melhor ter me deixado morrer. Me pouparia de uma dor ainda maior, me pouparia do sofrimento de sua perda."

Colocou a caneta sobre a mesa e dobrou a carta em um quadrado perfeito, colocando-a dentro de um envelope branco. "Destinada a Vitor Lacerda", escreveu na frente do envelope, uma gota de lágrima escorreu por sua face e gotejou logo abaixo do nome de seu grande amor.

Seguiu até a janela de seu apartamento no oitavo andar, olhou para a carta em mãos e subiu no parapeito da janela. O vento gélido de final de tarde esvoaçava seus cabelos. O céu estava encoberto por densas nuvens cinzentas, como se Deus, sabendo de todo o seu sofrimento, estivesse sofrendo junto com ela.

Virou-se de costas para a rua e deu uma última olhada no apartamento, que outrora presenciou tanto amor. Inclinou o corpo para trás, se lançando em uma queda fatal. Apertou a carta com força e lágrimas começaram a riscar sua face, intensamente.

Encontrou o chão ainda com vida e viu quando uma multidão de pessoas se aglomerou ao seu redor, apavorados. Sabia que muito sangue escorria de seu corpo.

- Chamem uma ambulância, rápido! Ela ainda está viva! - Escutou uma voz masculina perto de seu ouvido.

Mas sabia que era tarde demais para ela, ninguém poderia salvá-la. Sentia a vida se esvaindo de seu corpo aos poucos. Os sons ficaram cada vez mais distantes e seus olhos se fecharam. A vida a havia deixado!

Alice Moraes
Enviado por Alice Moraes em 26/02/2017
Reeditado em 25/11/2017
Código do texto: T5924518
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