NÃO PODIA FALAR NOME FEIO E PALAVRÃO
 
Desde cedo escutava dos meus pais que nome feio não podia falar. Se falasse, ganhava um tapa na boca. Tinham muitos nomes feios que não podiam falar e os palavrões. Nome feio eram aqueles vergonhosos que até para o padre ficava difícil de contar. Palavrões eram aqueles que atraíam o mal como: diabo, capeta e tinha filho da puta..., se fosse falar saía com a cara quebrada, por que xingou a mãe de alguém. Essas coisas existiam e as crianças sabiam direitinho o que podiam e não podiam falar.

Uma vizinha certa vez, por algum motivo de aborrecimento em sua casa, resolveu gritar palavrões com a família, capeta, diabo, só nome de coisa ruim e falava filho da puta também. Eu só não sei para quem o pau quebrava lá na casa dela. Ela falava os palavrões de lá e minha mãe dizia para nós que a mulher estava louca falar aqueles palavrões e que o diabo iria tomar conta dela.

Nossa! Eu e meus irmãos tínhamos muito medo. Nunca que nós falaríamos coisa daquele tipo, ficava tudo ao redor da mãe com medo.
O tempo foi passando e nós tudo observando... A mulher nunca mudava o seu jeito de ser e a mãe nunca deixava de reprovar tudo aquilo.

Numa certa noite, de lua cheia muito bonita, a estrada iluminada... A estrada só era iluminada quando tinha lua, não havia luz elétrica. Nesse dia estávamos todos brincando na frente da casa felizes com o luar, quando surgiu algum problema lá na vizinha. O marido havia chegado bêbado. E os palavrões foram aparecendo na boca daquela mulher, como dizia a minha mãe, era de arrepiar o coro.
A nossa distração era grande, brincávamos contentes não importando muito com a mulher que xingava.

Quando menos esperávamos, uma pedra grande foi lançada sobre o telhado da mulher e ninguém sabia de onde veio, a louca xingava mais ainda, saiu pra fora da casa e começou a procurar por quem tinha jogado a pedra, minha mãe também procurava, ninguém via nada.

A lua iluminava tudo, não havia nada mesmo. Criou um clima de suspense...
Minha mãe já começou falar que eram aqueles nomes que a mulher falava... Deixamos a mãe sozinha lá fora com a mulher e corremos para o quarto nas nossas caminhas, cheios de medo. Isso repetiu mais uma vez no outro dia. Um dia eu e meu irmão ficamos espertos e cheios de ideias, e resolvemos aproveitar da situação para brincar de fantasma e deixar todos com medo, até a minha mãe.

Conversamos direitinho e no dia seguinte quando voltamos da escola à tarde, peguei umas pedras e escondi para iniciar o terror assim que anoitecesse. Meu irmão era bom de pontaria e tinha forças para lançar a pedra, eu só ia passando para ele discretamente.

Espalhamos o terror por uma semana, o comentário espalhou na comunidade, que havia fantasma perseguindo aquela família porque falava palavrões. E quanto mais jogávamos pedra, mais a mulher enlouquecia, ela xingava mais e nós jogávamos mais pedras, era muito divertido. Coitada! Quebramos muitas telhas, mas a brincadeira era prazerosa. Ninguém via nada e as pedras caindo... Meu irmão lançava de dentro de casa por uma de nossas janelas, ninguém desconfiava, porque via que estávamos dentro de casa e julgavam que estávamos com medo. Todos acreditavam no fantasma.

Meu pai esperto e desconfiado disse: “hoje eu vou ficar em casa e vou descobrir esse fantasma”. Já havia passado uns dias e a rua estava sempre movimentada a noite, por policiais e religiosos que rezavam. Nesse dia de muito movimento, meu pai ficou para observar, viu quando passei a pedra para o meu irmão na frente da casa e quando meu irmão lançou a pedra pegou no policial. Meu pai pegou discretamente nós dois e levou para o quarto, deu aquela bronca, só não apanhamos por que se fizesse isso iriam querer saber por que apanhávamos.

Ele falou que nós íamos fazer com que ele ficasse preso, como ele iria pagar as telhas quebradas? Não tinha dinheiro e nós não teríamos mais o pai junto, falou um monte de coisas e nós choramos um monte com pena do pai.

Ali acabou a nossa travessura e ninguém sabe até hoje quem jogava pedra. Acreditam que era fantasma mesmo e que a mulher era perturbada. Mas em fim, a mulher continua a mesma até hoje, só não tem lá crianças com loucuras como nós tínhamos. Meu pai, nunca falou a verdade do que havia acontecido, porque ele teria mesmo que arcar com prejuízos.

Ficou em silêncio! E Nós nunca comentamos, com medo do pai ficar preso por nossa culpa. E a primeira e segunda pedra que lançaram antes, que nos despertou criatividade, não sabemos também, quem foi. Hoje não posso me queixar dos meus filhos, eles nunca aprontaram uma dessa. Mas nós escapamos de levar uma surra... Ah, Escapamos!
NATIVA
Enviado por NATIVA em 22/04/2010
Reeditado em 30/08/2013
Código do texto: T2213230
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