JOÃO RABUGENTO, O LADRÃO DE PIPAS

Conta-se uma história que numa cidade todas as crianças gostavam de empinar pipas durante as férias escolares.

As meninas espoletas gostavam de fazer pipas violetas com as formas das borboletas.

Os meninos travessos preferiam fazer pipas pelo avesso, com as formas dos pássaros ou dos aviões.

As pipas que essas crianças faziam eram muito especiais, porque em cada tirinha amarrada no rabo da cauda elas escreviam um grande desejo.

Três varetas de bambu

Borboleta de papel

É morcego ou urubu?

Vi voando lá no céu

Tem fitinha cor de abelha

Um desejo a realizar

Já que a nuvem tem orelha

Teu segredo vai escutar

Num certo dia, quando as crianças estavam brincando no campinho de futebol, elas perceberam que suas pipas misteriosamente desapareceram lá no alto com as nuvens.

Então, elas descobriram que escondido atrás do matagal estava o senhor João Rabugento, um velhinho baixinho, barrigudo, narigudo, orelhudo, que não gostava de barulho e da bagunça das crianças.

João Rabugento não gosta de vento

Tem pé fedorento

É muito briguento

João Rabugento tem muito piolho

Um olho caolho

Não come repolho

João Rabugento não quer euforia

Pirueta, alegria

Que criança sorria

Depois que todas as crianças perderam seus brinquedos de papel e as linhas do carretel, elas combinaram que iriam elaborar um plano para recuperar as pipas.

Todas as meninas e os meninos se juntaram e começaram a fazer uma enorme pipa com a forma de uma centopéia. Em cada parte do bichinho cada criança escreveu um desejo bonito para aquele velhinho ranzinza.

Quando o João Rabugento roubou a pipa centopéia e começou a ler todos os pedidos das crianças, ele ficou com vergonha e se arrependeu de ser tão mal humorado.

João Rabugento não é mais jumento

Já gosta das pipas

Já quer movimento

João Rabugento já quer alegria

Já gosta de farra

Não quer calmaria

João Rabugento não faz mais maldade

Ficou mais feliz

Entregou mais bondade

Depois desse dia, João Rabugento deixou de ter chulé porque aprendeu a lavar o pé, e prometeu que nunca mais roubaria os sonhos das crianças.

Nota: Por distintas razões de caráter social, cultural ou econômico, muitas vezes os pais não são capazes de reconhecer quando uma criança precisa de um atendimento e uma terapia com um fonoaudiólogo. Justamente durante o período pré-escolar e nos primeiros anos do ciclo Fundamental, são os educadores que assumem esse papel relevante quanto a “triagem” e “detecção” das crianças que apresentam transtornos de linguagem.

As palavras escolhidas para a composição desse conto (as rimas e as semelhança dos sons) teve como objetivo criar propositalmente uma “dificuldade visual e auditiva”.

Millarray
Enviado por Millarray em 01/09/2011
Reeditado em 01/09/2011
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