___________ A Moça das Frutas

 
Ela nunca soube de onde vinha aquela sua saudável atração pelas frutas. Seria de seu nome Abba Kate?  Achava que não. Tinham lhe explicado: Abba, por causa de  um grupo sueco de música pop rock de quem a avó era muito fã na juventude. Kate, por causa de Kate Beckinsale, atriz de cinema que o avô achava muito linda.

 Bom, então por que  gostava tanto das frutas?  Ela não tinha explicação. E já que não tinha, melhor mesmo era viver intensamente sua paixão pelas deliciosas e coloridas espécies frutíferas, à disposição em abundância no grande pomar   que vicejava no terreno em declive dos fundos da chácara.

E, brincadeira do destino ou não, Abba cresceu escutando dos vizinhos, parentes e conhecidos:

— Dona Neque Tarina, sua filha é linda!

— Não é? — a mãe respondia devolvendo a pergunta, cheia de orgulho.

— Morena-jambo! ... em pele de pêssego!

— Não é?

— E essa boca de morango! Olha que graça!

— Não é?

— Jesus! Olhos de jabuticaba!

— Não é?

— Elegante que nem um pé de coco!

— Não é?   
  
Abba Kate não era vaidosa... Mas foi ficando. Só elogios!  Como podia  não ficar? “Ah, frutas maravilhosas que me dão vida, saúde e beleza! Como agradecer a vocês, amigas, tantas benesses com que me agraciam?” — ela dizia, esbanjando brilho nos cabelos e sedosidade na pele.

E quanto mais pensava, mais doida Abba Kate ficava pelas frutas. Até que veio a total obsessão. Às sete, bananas e caquis. Às nove, mangas e Kiwis.  Na sobremesa, salada de frutas (de todas as espécies encontradas nos mercadinhos perto de casa). Às três da tarde, mamões e ameixas. Às cinco, goiabas e melões. No lanche da noite Abba Kate e... abacates, encerrando com uma  maçã “calmante natural para um sono repousante”. Isso  tudo sem contar que os intervalos eram dos sucos naturais: de uva, maracujá, tangerina, laranja, pêssego, melancia, abacaxi, caju, umbu, cajá e graviola.

Assim Abba Kate cresceu e resplandeceu no mundo das frutas. Enquanto hidratava os lindos cabelos em água de coco, ela suspirava: “Ô Senhor, permita-me não partir desta vida sem conhecer todas as frutas que existem!”.   O sonho da moça era  um tour por todas as regiões do Brasil, País tropical onde vivia, muito rico em variedades de frutas, pois  lhe incomodava sobremaneira saber que existiam outras espécies em território nacional que ainda lhe eram desconhecidas.

E foi assim que Abba Kate atravessou a infância e a juventude vivendo e usufruindo do frutuoso reino vegetal que tanto a encantava. E devido ao poder poderoso das suas amigas frutas que cuidaram de torná-la cada vez mais bela, ela se tornou megafamosa. No auge da exuberância virou uma exímia dançarina numa boate, e, finalmente descoberta por um olheiro muito experiente no ramo de descobrir moças exóticas, ganhou o foco dos  holofotes, sendo mundialmente (e meritoriamente, claro) conhecida  e reconhecida como Mulher-fruta.


*Nota: Abba kate sempre escorregava à pergunta dos repórteres "Cê gosta de amora?" (AMAVAMORAS!), só pra não ter que ouvir a brincadeira sem graça "Vou contar pro seu pai que cê namora". É que o amor secreto da Mulher-fruta era  fruto proibido e o pai dela era bravo pra caramba... Aliás,  pra carambola!