DIÁRIO DE UM SUÍNO!

DIÁRIO de um SUÍNO!

RONC RU ROURONC RU ROUC.

- Melhor traduzir a narrativa. –

14 de Agosto de 2009.

Ai ai, -Espreguiçada- hoje acordei indisposto, fez frio durante a madrugada e por umas quinze ou mais vezes o toquinho podado restante de rabo do meu companheiro de Pocilga balançou no meu focinho, acho que ele estava sonhando com ração ou com a porquinha do chiqueiro ao lado. É furtivo sonhar com ela, mesmo sabendo que seu “parafuso” foi castrado com três dias de vida! Razão também desse meu ronc ronc Soprano!

Embora indisposto, devo confessar que os dias aqui na pocilga estão realmente melhores, já não sentimos tanto frio, e não sofremos mais com tantas doenças, embora a sina eminente do matadouro se aproxime, eu, como suíno filosofo, penso que cumprirei a minha sentença.

Foi uma prima irmã minha, que agora se chama “Sadia” que me contou outro dia;

Um de nossos tratadores havia adoentado, pegado uma gripe e morrido!

Fiquei chocado! Ele era um Homem legal, conversava coma gente, vez ou outra jogava uma coisinha diferente pra gente mastigar e até fazia um cafunézinho.

Admira-me ele, partir assim por conta de uma gripe? Logo ele que sempre que alguém na baia espirrava ou tossia, tinha sempre a solução ali, na palma da mão, melhor dizer, na ponta da agulha... Era uma picada só e no outro dia já estávamos dispostos a comer até cascalho se deixassem; e se tivéssemos o direito de possuir dentes claro.

Mais um primo meu, que anteontem cumpriu sua sentença, e que salve os relatos, agora se chama “Perdigão”, me disse que a tal gripe, apesar de ser a mesma que agente pega por aqui, não pode ser curada e tratada com os mesmos medicamentos que tomamos rotineiramente aqui na Pocilga. Mas antes que eu pudesse expressar ao primo minha opinião filosófica sobre assunto, o “Perdigão” agora batizado, saiu em um comboio, e nem preciso te dizer pra onde ele foi né?

A verdade é uma só: e o que vou te dizer, pode ser mais que um RON RONC na suas leituras ou desculpe o trocadilho, uma conversinha mole pra boi dormir... Pode até ser que você já saiba, mas, talvez esse seja meu ultimo relato suíno, meu ultimo grito, minha ultima filosofia. Que seja essa a minha extrema unção!

Vira e meche tem gente nova por aqui. Homens de branco, uniformes polidos, gente inteligente falando difícil, dissertando sobre os mais variados assuntos da genética moderna.

Linhas de produção, aceleramento produtivo, baixo teor de gordura, aumento da natalidade, menores carcaças, maior produção de leite, melhores pernis e lombos.

Gente inteligente que fala de medicamentos milagrosos que curam cada vez mais rápido, que extirpam as doenças e fazem a produção da pocilga cada vez mais prática e conseqüentemente lucrativa.

Você deve estar se perguntando, como esse delicioso projeto de Bacon, sabe de tudo isso? Bem, desde leitãozinho tenro e fofinho, fui selecionado em minha ninhada, preparado, marcado e atentamente acompanhado por tais equipes para um estudo, algo como uma contra prova de algumas de suas teorias. E foi assim, entre folhetos e panfletos, explicando mil coisas, demonstrando novas químicas e técnicas, que eu, sorrateiramente, debaixo de minhas caídas orelhas, pude desenvolver minha teoria. Recentemente ouvi uma sigla, que achei legal... E vou batizá-la de H1N1.

Passadas semanas do fatídico dia em que meu tratador favorito cumpriu a sentença dele, uns senhores muito finos e elegantes estiveram por aqui. Embora usassem mascaras, percebi que eram mais velhos e aparentemente mais experientes no assunto.

Ouvi atentamente os relatos dos cavaleiros mascarados, e pude observar que seus semblantes eram pesarosos e preocupados.

Falavam exaustivamente sobre tal influenza, que a principio não identifiquei bem o teor da palavra... Influenza Influencia? Mas com o tempo fui associando as coisas.

Primeiro, assim, meio à surdina, notei que eles falavam de uma tal Espanhola.

Um dos Barbados afirmava que a tal espanhola havia matado de 20 a 40 milhões de pessoas no mundo todo. Pensei com meus mamilos... Nossa como pode uma única Mulher matar tanta gente? Ronc ronc ronc só mais tarde fui entender que se tratava de uma forte Gripe.

Bem, depois que compreendi melhor o assunto, pude entender que a gripe que abateu o meu tratador, nasceu aqui no chiqueiro. Segundo eles, a constante evolução dos medicamentos e o uso abusivo deles sobre agente. Fizeram com que o nosso organismo despejasse nossos antigos e insistentes inquilinos. O vírus da gripe foi perdendo a força e o espaço em nossos organismos, então com uma ajudinha da mamãe natureza evoluíram do seu lar suíno, agora protegido pelas milícias laboratoriais e forram obrigados a deixar os Chiqueiros.

Este novo vírus agora não mais SUÍNO “Atente para este detalhe, por favor,” Evoluiu para uma nova colônia de vírus capaz de infectar humanos.

Eu acredito que essa probabilidade pode ser muito pertinente,levando em consideração que o falecido tratador tinha como habito uma brincadeira chata de fazer nossos focinhos de tomada, vez ou outra agente ia até ele cheirando curiosamente, ai ele tunff, colocava o dedo indicador e médio no nosso focinho, particularmente comigo não aconteceu. Mas eu vi, pode parecer estranho um porco jurar, mas eu juro, eu vi.

No entanto sabemos que choque mesmo ele nunca levou, mas, carregou consigo parte da colônia do vírus que deveria estar esperando o seu dedo-plug pra fazer a conexão.

Em outra visita , eu reparei que os mascarados estavam verdadeiramente assustados, os homens coletavam amostras de tudo quanto é liquido, todas as secreções de cada baia, de cada Porquinho.

Mas tarde ouvi um deles comentar que já era tarde, a mutação já havia começado e a gripe já tinha se espalhado.

Bom, a granja foi lacrada. Eu ganhei um tempo extra no cumprimento da minha sina. E vários primos não foram encaminhados para o matadouro municipal, e sim direcionados para os laboratórios. Seriam agora cobaias para tentar explicar e encontrar o novo e fatídico vírus.

Engraçado, que apesar da nova gripe ter sido uma ameaça, e toda a pocilga ter sido lacrada, o Sr. Dono da granja não ficou nada triste, os matadouros se afastaram porem apareceram novos Laboratórios interessados em comprar, cobaias, porquinhos que pudessem conter alguma informação sobre o novo vírus. E quando a procura é grande o preço tende a subir... E a julgar pelas risadas e festanças noturnas na fazenda eu acho que eu ele ganhou muito dinheiro.

Pobre Sr. Dono , antes de eu mesmo ser vendido para o Laboratório, fiquei sabendo que em uma noitada dessas ele também gripou, rocheou e morreu!

Danada essa Gripe.

Bem aqui no laboratório as coisas são até que legais; ração de primeira, água fresca e limpa. Incomoda só uma picadinha aqui, uma sangradinha ali, uma escarrada de vez em quando e mais nada.

Foi aqui no complexo Laboratorial que completei meu entendimento e tese filosófica.

Uma enorme tv fazia parte agora do meu cotidiano quase humano. Que maravilha, as informações chegam com estrema clareza e velocidade. Pena eu não conseguir levantar o pescoço, numa altura suficiente para ver as imagens. Porem o que ouvi me deixou indiguinado!

Gripe suína daqui, gripe suína dali, como se a culpa pela existência da gripe fosse toda da raça suína mundial;

O que eu abaixo das minhas nobres e grandes orelhas não compreendo é, como que com tanta informação, com tanta inteligência, eles não entendem que a gripe veio deles pra eles mesmos? Sei que pra você, vai ser difícil assimilar as idéias de um Torresmo falante, mas acompanhe meu raciocínio:

Se ao invés de um porco fosse um cão?

Domesticado a centenas de anos... De repente, contrai um vírus que inicialmente era de um ser humano. E passado um bom tempo, o au au em questão, deixa de ser hospedeiro desse vírus ou bactéria, que por mutação e força da natureza, ganha vida nova, necessita perpetuar suas colônias, ou seguem na tentativa natural de escapar daquilo que a natureza mais teme ...”A abrupta arrogância do ser Humano.’

Ficaria socialmente fácil responder:

A gripe é canina!

E toda a cólera e estupidez do Homem cairão sobre os espirros, rosnados e latidos daquele que sempre foi considerado popularmente como seu Melhor amigo!

Torno a dizer a fatídica gripe, de suína, não tem nada. Eu particularmente a chamaria de GRIPE DO CONSUMO. Nomearia H$C$, ou seja, Homem = Lucro Consumo = Lucro.

A idéia de se fulminar doenças com medicamentos cada vez mais agressivos, de se alterar geneticamente a estrutura dos animais na intenção de aumentar gananciosamente a produção de suínos, Frangos, bois, vegetais, ECT. Impõem os homens a mais poderosa e desafiadora das forças cósmicas. A força da Natureza.

O homem planeja o consumo, consome o que planejou, lucra com o planejado, mas não percebe que esta sendo consumido lentamente... Uma autofagia que pode ser auxiliada por uma humilde e insignificante colônia de bactérias, que tem um mãe imponente e poderosa!

A mãe natureza não afaga os cabelos depois do tombo, ela pode curar algumas feridas mas não vai soprar quando a coisa realmente começar a arder.

E ai quem vai ser o “bode”?

A espanhola? O frango? O porco?

Ou a arrogância cega e consumista?

Quanto a mim, quisera eu cumprir minha sina

Deixar de ser leitão, de ser torresmo e ser vacina.

Vacina não laboratorial, não aplicada por seringa.

Vacina de razão, de emoção, vacina de olhos para vida.

Difícil será acreditar num porco filosofo visionário.

Mais fácil crer na cura, do homem, consumista, milionário autoritário.

Willian Vargas.