O PADRE ADIVINHÃO

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Recontando Contos Populares

Um dia, foi um jovem empregar-se na prefeitura de uma cidadezinha do interior. No seu primeiro dia de trabalho lhe mandaram podar as árvores da prefeitura. Como não tinha prática desse serviço e era um tanto tapado, apoiou a escada num dos galhos e pôs-se a serrá-lo. Deu de acontecer que passava por ali, numa mulinha avermelhada e troncha; breviário na mão e guarda-sol aberto, o vigário da freguesia. Ao ver o jovem, advertiu-o:

— Menino, serrando desse modo, vai cair daí!

O novato que era, além de estúpido, teimoso; fingiu não ter escutado o padre, e continuou o trabalho.

O vigário, então, prosseguiu seu caminho. Não passou muito tempo... zás! Vem ao chão tanto a escada, como o jovem podador, que ficou com um braço em petição de miséria. Quando voltou do desmaio e retomou os sentidos, ficou muito admirado do certo que saiu o conselho do reverendo; pensou lá consigo que o padre era um adivinhão e como tinha profetizado sua queda, podia acertar o dia de sua morte.

Foi ter com ele:

— A bença, seu vigário.

— Deus te abençoe.

— Vossa Reverendíssima me falhou que eu havia de cair da árvore e, dito e feito, caí mesmo. Bem... queria que agora adivinhasse o dia de minha morte.

Bonachão, o padre achou muita graça no pedido que o jovem lhe fazia e resolveu zombar um pouco dele.

— Olhe, sei quando você há de morrer. Será na hora em que, indo para sua casa, montado em sua mula, a ouça dar três zurros seguidos.

O jovem podador agradeceu muito e foi-se embora.

Toda vez, que voltava para casa, montado em sua mula, ia muito atento a fim de ouvir quando ela dava os tais zurros. E foi que, certo dia, ao chegar numa volta do caminho, a mula preparou-se toda e soltou um, dois, três zurros.

O jovem, que os havia contado com o coração aos pulos e crente na previsão do reverendo, julgou chegada sua hora. De imediato, atirou-se da sela abaixo e soltou um grito:

— Morri!

Não se moveu mais, certo de que estava morto. Vai daí que, logo depois, passaram por ali uns trabalhadores e deram, de cara, com ele estendido no meio do caminho. Acreditando-o morto, foram buscar uma rede no vizinho mais próximo, puseram-no dentro e o conduziram para sua casa, rezando um terço.

Não muito adiante, havia duas encruzilhadas. Os trabalhadores ficaram bestando: qual delas seria o caminho mais curto para chegarem à casa do morto.

Começaram a teimar entre si, até que o defunto ergueu a cabeça do fundo da rede e lhes disse:

— Olhem, amigos, no tempo em que eu era vivo o caminho mais curto era à esquerda.

Assombrados, os trabalhadores atiraram a rede ao chão, com o defunto dentro, e fugiram a toda disparada.

Com a queda o moço veio a morrer mesmo. E a adivinhação do padre saiu certa. ®Sérgio.

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Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 04/12/2009
Reeditado em 21/10/2013
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