A FIGUEIRA DOS DIABOS

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Recontando Contos Populares

Um amigo, que por alguns anos atuou como delegado em uma cidadezinha do interior, narrou-me esse "causo". Eu não sei se o acontecido é verdadeiro ou não; certo é que poderia ser. Mas “assim ou assado”, eu lhes conto, com minhas letras o que dele ouvi.

Havia, dentro do cemitério dessa pequena cidade, uma figueira "lotada" de frutos. Dois irmãos, seduzidos pelos figos, decidiram entrar no cemitério, na calada da noite, e pegar uma porção de figos. Pois então..., pularam o muro, aproximaram-se da figueira e o irmão mais velho subiu na árvore, enquanto o mais novo ficou embaixo para "catar" os figos que o mais velho deixava cair lá de cima.

E vêm, e vêm figos. De repente o irmão mais novo grita para o mais velho:

— Mano! Dois figos caíram do lado de fora do muro.

— Não tem importância, depois que a gente terminar aqui, pegamos os outros.

E vêm figos. Terminada a colheita, o mais velho desceu da árvore e com o mais novo, começou a repartir o resultado da coleta:

— Um pra mim, um pra você; um pra mim, um pra você; um...

E assim, cada qual ia colocando os figos em suas respectivas sacolas.

Segundo a crença de nossos sertanejos, a figueira é planta do diabo. É tido como certo que nas figueiras há reunião de demônios que ali fazem suas orgias. Então, um bêbado que passava do lado de fora do muro, escutou aquela conversa de "um pra mim, um pra você"; para ter certeza de que não estava imaginando coisas, parou e escutou novamente: "um pra mim, um pra você". Não deu outra, lançou-se numa carreira despinguelada até a delegacia da cidadezinha. Chegou quase sem fôlego, mas teve força suficiente para dizer ao delegado:

— Doutor, vem comigo! Os diabos estão no cemitério, debaixo da figueira, dividindo as almas dos mortos!

O delegado, suspeitando ser conversa fiada de cachaceiro, ameaçou-o de prisão caso não saísse, imediatamente, da delegacia. Ao que o bêbado respondeu:

- Juro Doutor! Juro por Deus que é verdade! Vem comigo!

Diante de tanta insistência, o delegado resolveu acompanhar o bebum. Foram até o cemitério, chegaram perto do muro e escutaram a repartição dos irmãos:

- Um pra mim, um pra você... Um pra mim, um pra você...

O delegado um tanto assustado exclama:

- Ora essa! É verdade! Eles estão dividindo as almas dos mortos!

Mal o delegado acabara de falar, os dois irmãos terminam a divisão dos figos; então o mais novo pergunta ao mais velho:

— Pronto, acabamos. E agora?

— Agora, a gente vai lá fora e pega os dois que estão do outro lado do muro…

O resto da história vocês podem imaginar, foi um tal de salve-se, quem puder. ®Sérgio.

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Texto livremente inspirado no folclore popular.

Imagem: Pescando. Óleo sobre tela de José Ferraz de Almeida.

Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 23/04/2010
Reeditado em 08/11/2013
Código do texto: T2215500
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