Luxúria

Três anos já haviam se passado desde o começo daquela vida. Era noite de sábado e tudo estava apenas começando: perfume marcante, roupa fácil de ser tirada, salto agulha e cabelo solto. O último cliente do dia já esperava por ela na portaria:

__ Nossa, você está maravilhosa!

__ Obrigada.

Sem mais conversa amigável foram à boate. Chegando lá o mesmo ambiente de sempre, discreto, sofisticado, quase fora de suspeitas.

Os dois entraram e já foram direto ao bar tomar uns Martinis:

__ Então, já encontrou alguém interessante?__ Ela perguntou esperando ouvir um impossível “claro, você!”.

__Não. __ Respondeu o empresário casado, pai de três filhos, completamente desolado. __ Mas vamos indo pros corredores, pode ter alguém lá.

Ela levantou-se, arrumou a saia e seguiu-o. Àquela hora os corredores já estavam um tanto cheios. As mesmas caras, os mesmos cheiros, as mesmas vozes, os mesmos olhares a devorá-la.

Não demorou muito e ele encontrara um casal bem simpático, bonito. Não demorou muito e logo começaram. Rápido, prático, fácil. Pronto, feito. Logo os dois estavam novamente bebendo no bar.

Apesar de ser rotina, aquela noite, em especial, não estava indo muito bem. Ela se sentia mal, sentia os músculos rígidos e a respiração difícil. Ela pensou em dizer a ele e ir embora, mas era um cliente bom, pagava bem, não poderia se desfazer dele por um mal estar:

__ Ana, o que você acha daqueles ali? A de blusa rosa e o de camisa preta?

__ Bonitos. Gostou deles?

__ Aham. Vamos tomar alguma coisa com eles.

__ Vamos. Só vou dar uma passadinha no banheiro, já volto. __ O mal estar só piorava. __ Vai indo lá, em cinco minutos te alcanço.

Deu uma piscadela ao cliente e um beijo obrigado. Ali eles eram um casal, tinham que manter as aparências. Em troca ele apalpou sua coxa.

Ela seguiu em direção ao banheiro, meio zonza, puxando as pernas, seu corpo inteiro parecia endurecer. Até mesmo seus seios, suas pálpebras, o cabelo antes tão macio:

__ Estou morrendo! __ Ela pensou. Tentou gritar mas a voz não saía __ Alguém tem que me ver! Tenho que ir pra um lugar alto!

E já quase se arrastando ela subiu numa coluna, tinha uma espécie de degrau onde ela pôde se apoiar. Ainda assim ninguém a via. Já no auge do desespero ela caiu de joelhos sobre o degrau, os olhos arregalados expressavam sua agonia. Agora, sem conseguir respirar, ela tentara arrancar a blusa na tentativa de aliviar aquela sensação de sufocamento. Um último movimento: as unhas enterradas sobre a pele acinzentada. E nada mais. Imóvel, gélida, morta.

Um casal passa e admira:

__ Olha amor, que escultura linda! __ Diz a mulher

Passando a mão pelas pernas ele diz:

__ É... gostei das coxas.