A comedia da vida mundana.

A comédia da vida mundana.

Angélica tinha decidido ir a casa de sua irmã do outro lado da cidade, não se viam a seis meses, viviam com seus afazeres domésticos.

Luiza casara-se com dezesseis anos, ainda na adolecência, grávida de seis meses.

Angelica e Luiza eram filhas de dona Marta e seu Antenor, descendentes de portugueses vindos na época da colonização do Brasil. Onde muitos aqui chegavam, a procura de uma nova vida, sem saber que enfrentariam muitos obstáculos. Não fora diferente para eles, os netos cresceram e logo vieram os filhos dos netos.

Chegando lá, logo foi entrando no barraco da irmã. A uns dez anos Luiza morava na periferia com Godofredo. Não casara-se por causa do salário de feirante dele.

Três anos depois, já com dois filhos pequenos, Godofredo decide trocar de emprego, passando a ser entregador numa mercearia perto de casa. O salário mal dava pra pagar as contas, mas eram felizes, era o que sempre afirmava a irmã.

Angélica sentia ser verdadeira as palavras de Luiza, mas temia pelo fracasso do relacionamento de ambos, devido ao ciúme exagerado de ambos.

__ Que bom que você veio minha irmãzinha. _ falou Luiza com os olhos radiantes ao ver Angélica na porta da cozinha com um sorriso.

__ Eu disse que viria. -falou rumando para um abraço no sobrinho que ao ouvir sua voz veio correndo para abraçá-la.

__ Tia, você veio mesmo né? - falou Enrico com um lindo sorriso.

A criança de três aninhos, a seu colo aperta-lhe o pescoço de emoção.

__ A titia veio te ver meu querido. - disse beijando-lhe as buchechas rosadas.

Colocando-o ao chão, senta-se em frente a Luiza, que agora segura o filho no colo, continuando a dar-lhe o seio.

__Você ainda o amamenta?

__ É. Ele ainda não deu jeito de largar o peito. O médico disse que tenho que tirar, mas fico morrendo de pena. Acho uma judiação fazer isto com o coitadinho.

__Coitada de você Luiza. Trabalha feito uma louca e ainda dá de mamar a ele. Sem contar que atrapalha o desenvolvimento do Enrico. Já é tempo dele ir para a escolinha, não acha?

__ O Godofredo vive brigando comigo por causa disto. Mas já disse que não vou tirar o peito dele.

__ Mas você esta se acabando Luiza. - respondeu Angélica tentando convencer a irmã.

__ To não mana, não se preocupe. A Flora mamou até os sete anos e esta ai forte como uma bezerrinha.

__ E você magra que dá dó. Você deve se alimentar mal.

__ Não. O Godofredo, quando não bebe é um bom marido. - falou abaixando os olhos.

__ E ainda bebe o homem? Imagino como deve ser sua vida.

__ Não se preocupe, não conte pros pais. O pai pode ficar bravo e a mãe você conhece né?

__ Sim e se conheço. O pai pula fininho com ela. - falou dando boas risadas da cara da Luiza de espanto.

__ Aiii, tenho até medo da mãe sabia? Ela quando cisma...

__É. - falou Angélica levantando-se.

__ Vou ao banheiro. - saiu rumando para o interior do barraco.

__Vai, enquanto issso vou passar um café, você deve estar com fome.

Luiza apanha a chaleira debaixo da pia, colocando água para o café. Pega uma colher, o açúcar, o pó e o bule, enquanto aguarda Angelica voltar, decide fazer uma broa, assim podem tomar o lanche enquanto colocam as novidades em dia.

Flora entra casa a dentro aos gritos.

__Mãe? Mãe? Mãe?

__O que menina, pare com esta gritaria, não viu sua tia?

__ Vi mãe. Posso brincar com a Bianca lá na frente? - perguntou a menina toda afoita.

__Lá na frente onde? -perguntou olhando fixamente a pequena.

__Lá mãe, lá, não ta vendo? - retrucou a menina apontando a parede do barrraco.

__Não to vendo. Lá é a parede.

__ Não é a parede. É la fora perto da casa da Bianca.

__Ai. Ai. Ai. Nem sei quem é a Bianca garota. - falou virando-se para a janela do barraco.

Tentava advinhar onde Bianca morava.

__A mãe dela vende bolinhos. A senhora conhece mãe.

__ Há! A filha de dona Clotilde?

__É ela sim.

__Ta bom, mas quando eu chamar venha logo viu?

__Ta! Eu venho correndo mamãezinha bonitinha. - saiu correndo como se tivera sido mordida por uma vespa.

Angélica ali parada observava o semblante da irmã, agora envelhecido, por uma vida repleta de privações.