“O PENHOR DESSA IGUALDADE”

Certo dia, cá, pr’as banda do Noroeste do Espírito Santo, surgi o som duma caminhoneta. Atrás da poera, vem um Coroné de nome Alphonso. Sobe ao morro; desce as criança do carro, depois a sua madama. Tira a arma da cintura, dá um tiro de sarve. Põe a mão na testa, como avistasse longi. Sua terra, valoroso homi, deve ser bem abundante! Descendo o sol atrás das montanha, sua madama vai a aldeia. Cumprimenta pajé Pracomim, seu fi, sua fia, suas muié, leva bolo de mio e vai imbora admirando aquelas terra. Gente anssim, da cidade grande, se espanta com tudo que é belo e deferente. À noite vem tiro de novo no ar, deve ser outro sarve. Quantos sarve! Eta homi valoroso! Deve ter o que sarvar! Raia o dia e num se escuta o baruio da aldeia. Some Pracomim, dorme sua fia, dorme seu fio, dorme suas muié, dorme todos. As máquina começa a fazer baruio na aldeia. Coroné ordena pros capatar que ali devi se prantar mio, ali cana, ali café; ali vai vivê os boi. Eta, homi valoroso! Vai trazê progresso inté pro índio! Otra noite vem chegando. Otros sarve se escuta. Antão, di manhã não se vê o negro Cosme. O quilombo tá as mosca, só se vê sua famia dormindo. Devi di ter ido na venda do Coroné fazê compra. Oh o Coroné ali! Eta homi valoroso! Prantando mandioca pro quilombo com seus muito capatar! Chega a tardinha, num se ve mais aldeia, num se ve mais quilombo.Oh o Pracomim e Cosme pedinu acolhida na casa do Ernesto! Eles escuta na rádio que uma tar ONU criô um país pras vítima do genocídi numa tar Alemanha: um tar povo judeu que vivia numa tar Palestina. Oh o homi valoroso! Coroné Alphonso vai dizendo que tem direito sobre as terra ocupada: “Brasil não existiria sem mim – branco, rico, civilizado”; “O Brasil é favor para índios, negros e pobres”. Oh, Cosme e Pracamim indo ali com uma borsa! Vão atrás da tar ONU arresolvê os seus causo. “As terras agora ficam no Brasil e não na antiga tal de Pindorama e nunca ficaram na tal África.” Sábia ideia do Coroné Alphonso. Eta homi valoroso! Oh eu , Zé, aqui......cá no pé-da-serra...só oiando e esperanu minh’ora de pegar as borsa e ir pra tar ONU.

Lucian Rodrigues
Enviado por Lucian Rodrigues em 31/05/2011
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