O lado B.

- Olá, eu sou o teu lado B.

- Como assim? Assusta-se a virtuosa.

- Sou sacana, sacou? Ih! Rimou! Ri-se debochado o lado B da virtuosa.

- Co... Como apareceste? Não te chamei.

- Claro que não, vives a me esconder.

- Não mintas! Não te conheço!

- Qual é, chega de hipocrisia, tua hora chegou madame.

- Saia já desta casa! Fora! Grita a virtuosa, olhar desvairado, trêmula, a saliva espumando em fúria nos cantos da boca retorcida.

- Sinto muito, meu amor, se sair terá que ir junto, pois que eu sou eu.

- Sei disto, mas que eu tenho a ver com isto?

- Ok, foi mal. Vamos melhorar nossa comunicação. Eu sou tu.

- Ah! Mas não é mesmo, diz ela mostrando com o dedo indicador imagens de santos vagando pela casa antiga.

Subitamente, o lado B fica sério.

- Certo, acho que não começamos bem. Veja bem, ih, rimou, ri-se novamente. Desculpe, é que eu sou assim, meio irreverente, entende?

- Não, não entendo, responde com raiva a virtuosa.

- Ok, respira fundo o lado B, resolvendo abordar o assunto de outra maneira. Lembras aqueles pensamentos pecaminosos que tão logo chegavam relegavas ao esquecimento por medo?

- Lembro, responde ela já mais calma e muito envergonhada.

- Lembras de quando gostavas de ouvir as safadezas dos outros e sentias secreto prazer?

- Lembro, repete triste e mais envergonhada ainda.

- Pois é, continua o lado B, subitamente triste, era eu tentando falar contigo. Éramos nós, pois que somos um.

- Se eu tivesse te ouvido, diz ela.

- Se tivéssemos nos entendido antes, diz ele.

Choram juntos e definitivamente unidos.

Em paz.

Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 05/11/2011
Código do texto: T3318096
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.