O Caso da Barriga

Mulher barriguda a ninguém intriga, mas, da noite pro dia, crescer u'a barriga?!

E a filha de Tonha, assim, de repente, surgiu de barriga -- surpreendente! Pelo tamanho da pança, com bem uns cinco contavam e, pelas contas da mãe, umzinho faltava: se dois é pouco e três é melhor, que dirão de quatro?! E de quatro ficou o povo, besta, ao saber: “Quatro marias, Seu Menino, quatro marias vão nascer!” E fizeram assim assim: “Ajude a filha de Tonha, doe aqui, doe acolá, pois a pobre não tem nada, nem marido para dar!“ “E quem foi o responsável por esta geração?” A varinha de condão à sombra de um jatobá, e a cópula, ao pé, debaixo da copa do pau, da árvore, digo. Menino, foi aquela comoção, bem típica da região. Só não creu nisso o Juvenal, filho de Zé do Coco, que estudara na capital e voltara pra terrinha cheio de vontade de ajudar o povo (a se instruir e melhorar). Qual o quê, ignorância é manta de cetim que o povo adora vestir. Quem entende logo isso, e deixa Fufu Lalau, taxado é, rapidinho, de egoísta, ‘traíra’ e tal. Sabendo bem das coisas, foi Juvenal ao grão: “Vou perguntar ao médico que cuida da região.” “Pois há quatro meses, grávida estava não”, disse o médico sem receio. Menino, veja o resultado do falado embaraço: além de perna curta, barriga inflada e cara de pau -- aberração, que em Fufu Lalau há muito virou normal. “Devolva minha doação”, uns foram reclamar. Devolver, nada devolveram e quem deu não quis brigar. E a filha de Tonha, ainda foragida, nunca mais pôs a cara na rua, que dirá a barriga. Mudou-se pra bem longe, dizem, teve tudo o que queria: fez transplante de rosto, lipoaspirou a barriga. A conta da mentira: sete vezes sete, sem juros e em prestações, pagou com a cara mais limpa e as arrecadações. Mas como em Fufu Lalau o povo é muito bonzinho, mais dia menos dia e ninguém falou mais nisso. Mas o besta do Juvenal, que pra não perder a memória registrou tudo nos livros, ao fazer-me uma visita contou-me este ocorrido. Pois é, Juvenalzinho, como bem já haviam dito: pra extinguir a malandragem, só acabando com os bonzinhos.

Causo inspirado em contos do vigário da vida real, aqui contado com elementos de fantasia, portanto: irreal. Qualquer semelhança com nomes de pessoas ou lugares, pura coincidência.