O último jogo de Tlachtli?

Era um dia muito quente, porém com grande quantidade de nuvens no imenso céu azul-acinzentado, o campo de Tlachtli de Chichén Itza estava cheio, 25000 espectadores agitadíssimos marcavam a presença da liderança asteca. Dos dois lados do campo destacavam-se, totalmente em pedra, os arcos, o círculo que deveria ser acertado pelos jogadores para marcar o ponto. O primeiro time já estava no campo, os seis jogadores vestiam verde, estavam totalmente cobertos por penas de papagaio, todos eram muito musculosos, com os olhos cheios de ira e cabelos escorridos sobre a face, quando esse time corria pela grama para começar a suar, o outro time, já vestido com pele de onça pintada, bebia xocoatl (chocolate quente), prontos para entrar em campo.

Os jogadores entraram em campo e logo os outros pararam de se aquecer, todos deveriam ficar em formação retilínea para uma breve, porém grandiosa, saudação ao deus Sol. Passados dois minutos, os competidores ergueram as faces e, com um altissonante rugido, saíram da formação para começar a partida, que certamente acabaria com ao menos seis cabeças decapitadas, devido ao derramamento de sangue que deveria ser feito com o time perdedor após a longa partida. Os jogadores já estavam posicionados, Cuauhtémoc, o imperador, estava sentado bem ao centro das arquibancadas, marcando seu privilegiado lugar para assistir à partida. Os jogadores estavam posicionados para o início do jogo e logo a grande pelota de borracha foi jogada violentamente ao chão por um tlacotin para ser disputada veementemente pelos jogadores que pularam dando joelhadas uns nos outros para tentar acertar a pesada pelota. O jogo estava muitíssimo disputado, os dois times eram muito fortes tanto atacando quanto defendendo. Com uma hora de jogo, nenhum dos dois times havia marcado ponto algum e três jogadores já estavam gravemente machucados, dois do time com penas de papagaio e um do time com roupa de couro de onça pintada, enquanto isso, do lado de fora do estádio, os pochtecas vendiam febrilmente roupas dos times e pelotas de borracha com mais de três quilos para jogos fora do campo (o que era ilegal, pois Tlachtli era um ritual sagrado), todos claramente desgostosos por não terem tempo para assistir ao jogo, devido às vendas. Da torcida vinham gritos a plenos pulmões com palavras de incentivo aos times, que davam tudo de si, a maioria dos jogadores tinha pelo menos uma parte do corpo ensanguentada, três horas já haviam se passado e o time com vestes de pele de onça pintada marcou finalmente o primeiro ponto, deixando o time com vestes de pena de papagaio ainda mais apavorado, pois a medalha do penoso primeiro lugar seria a cabeça dos quatro que agora estavam em campo.

Diante daquele terrível e sangrento jogo, os espectadores muito divertiam-se, até que um barulho ensurdecedor fez até com que os jogadores parassem de jogar para observar o que acontecia, quando viram um homem barbado, com tantas roupas que parecia sufocado pela temperatura altíssima, juntamente com muitos outros homens de aparência e vestimentas familiares às dele, até que o tal homem, que parecia visivelmente prepotente, gritou a plenos pulmões em um espanhol carregado de sotaques:

-¿Qué está pasando?

E logo depois o sangue dos jogadores multiplicou-se, agora pelo gramado, após todos eles e os espectadores serem violentamente mutilados por algo que eles chamavam de "coisa barulhenta" que estava nas mãos dos espanhóis, e o resto da história já é bem conhecido, né?

Ronaldo Junior
Enviado por Ronaldo Junior em 07/10/2012
Reeditado em 07/10/2012
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