A jiboia que engoliu um elefante

Havia ali naquela grande casa um menino sonhador. Um menino que via flores em paralelepípedos e arco-íris em noite de tempestade. Pablo, certa vez, de tanto sonhar, resolveu guardar tudo aquilo que sonhava e pensava por meio de desenhos.

Pablo passava horas de seu dia trancado em seu quarto, desenhando. Pablo tinha desenhos de crianças voando junto com as pipas, animais falando, pessoas com super poderes e outras coisas atípicas à realidade. Mas não havia adulto que conseguisse ver o que Pablo queria exprimir em seus desenhos, ninguém os entendia!

Pablo, certa vez, desenhou vários prédios diante do mar, com reflexos bem feitos e todos os detalhes. Os adultos perguntavam se eram controles remotos enfileirados.

Outra vez, Pablo desenhou a montanhas altas com o topo branquinho e a base verde, cheia de plantas. Os adultos perguntavam se eram dentes de crocodilo.

Em uma última vez, Pablo desenhou o que aprendera em um livro de ciências de sua escola: o fato de as serpentes deglutirem suas presas inteiras. Então, Pablo desenhou uma jiboia que havia engolido um elefante, mas os adultos diziam que seu desenho mais parecia um chapéu e riam dele. Logo, Pablo pensou em desenhar o interior da jiboia, o que não surtiu efeito e fez com que os adultos dissessem a ele para esquecer as artes plásticas e começasse a estudar as matérias exatas e humanas propostas pelo colégio.

E assim mais uma criança passou a reprimir seus sentimentos para estudar aquilo que é imposto pelos adultos, o que o deixou frio e sem sonhos, à procura de razões científicas para os acontecimentos da vida. Porque os adultos têm necessidade de explicações detalhadas.

Ronaldo Junior
Enviado por Ronaldo Junior em 12/10/2012
Reeditado em 08/01/2013
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