ALCOÓLATRA.


A vida seguindo seu curso
L eva de volta ao passado
C om saudade, ele pensa
O nde está o meu melhor presente
O s perdi nos extravios do meu percurso
L aços de minha família desfiz
A comodei-me na bebida, sou infeliz
T enho em minhas mãos apenas lembranças
R eunidas neste entulho, onde um dia fui amado
A gora são apenas os cacos que tenho de herança


Angélica Gouvea






De Roberto Pelegrino


Um trechinho do meu novo romance



ALCOÓLATRA.

Agora, ele se encontrava do lado de dentro do quintal da casa que imaginava ainda ser seu lar. Com o dorso da mão ele batia com cada vez mais força na porta da frente. Ninguém respondia. O que estaria acontecendo? A sua família estaria viajando? Ou eles se mudaram de casa? Após bater, de forma desesperada na porta da casa, Pedro agora caminhava de um lado para outro, ia até os fundos da casa e voltava para a porta da frente, mas nada mudava a situação. Bem num dos cantos do fundo do quintal havia um monte de entulhos misturados com velhos objetos. Como um rato de esgoto, utilizava suas mãos finas e retirava do meio dos entulhos objetos antigos. Um cavalo de plástico em forma de gangorra, que, ressequido pelo tempo, se despedaçou ao seu toque. Aquele brinquedo foi um presente de Papai Noel que ele dera para Aline, logo que ela aprendeu a andar. Quantas vezes ele viu a filha brincando com aquele cavalo imaginário! Com as mãos doloridas, garimpando coisas de seu passado, encontrou um velho barbeador que ganhara de Marly, muito tempo atrás, presente do dia dos namorados. Se bem que ele pouco usou, sempre mantinha a barba comprida. Encostada ao muro, coberta de terra suja, achou o corpo da boneca de Beatriz. Com muito cuidado, encostou a cabeça ao corpo sujo e esfacelado da boneca, que parecia sorrir para ele. Aquela mesma boneca, que nos poucos momentos de sobriedade, quando brincava com a filha, ele a chamava de minha netinha querida. Remexendo o lixo encontrou uma velha calculadora científica, presente que ele deu para Marly, quando ela ingressou na faculdade de administração de empresa. Ele colocava separado cada objeto, uns ainda inteiros, outros, ele reunia aos cacos. Cada sucata representava um pedaço do seu passado. Os presentes de outrora se transformaram em lixo. Mas o presente que ele gostaria de ganhar naquele dia não se encontrava ali. 
Onde estaria, naquela hora, o melhor presente da sua vida? A casa se encontrava fechada, possivelmente, não habitada por pessoas, ocupada, tão somente, pelas lembranças do passado.




 
ANGELICA GOUVEA e ROBERTO PELEGRINO
Enviado por ANGELICA GOUVEA em 16/10/2013
Código do texto: T4527647
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.