Um baque surdo na escuridão

Ele estava se segurava fortemente, havia, pelo menos, uma hora. Estava preso, com as costas voltadas para o chão. Seus braços e suas pernas se agarravam a tudo que existia ao seu redor: um pedaço de ferro não muito largo, não muito grosso. Aliás, suas costas não estavam voltadas para o chão: estavam voltadas para o nada. Não havia nada abaixo. Apenas a escuridão sombria da alma. E ele se segurava.

Seus braços já estavam cansados, doloridos, machucados. Suas mãos suavam, desesperadas. Escorregadias. Suas pernas já estavam dormentes, então ele já não sentia mais dor. Mas conseguia ver a pequena linha vermelha que escorria por sua coxa e molhava seu shorts. Podia apostar que seus pés já não recebiam sangue há algum tempo. E ele se segurava.

A escuridão parecia chamá-lo. Aliás, não parecia não. Ela realmente chamava. Gritava seu nome. Berrava seu nome. Todos ali podiam ouvir. Pelo menos, era o que ele pensava. A voz batia em sua cabeça, dizia que já era hora de ir. Seu coração já não batia tão forte. Fazia, realmente, apenas uma hora? Onde estava o resgate? Já não haviam chamado? "Eles não vêm!" gritava a escuridão. E ele se segurava.

Seus olhos fechavam. O tempo entre as arrumadelas em seu corpo já era bem maior. Estava cansado. Sabia que, se esperasse mais um pouco, que fosse, seria capaz de sair dali. Ele poderia, muito bem, dar um impulso para um dos lados e se virar. "A barra de ferro é muito grossa, você não vai conseguir! Fica aí, eu vou chamar ajuda e já volto!", então ele continuava se segurando. Mas seus braços doiam... ele já não os sentia. O sangue começava a parar de escorrer em sua perna. Ele já não chegava mais até lá. E ele se segurava.

Muitos passaram por ali, mas ele sorriu e disse que estava tudo bem. Que o problema era dele e que ninguém mais deveria se preocupar com isso. Seus braços já fraquejavam quando apareceu-lhe uma mão. "Ajudo-te!" "Não se preocupe. Eu já conseguirei sair. Se você tentar me ajudar, ou mesmo me puxar para cima, vai cair também." "Mas ajudar-te far-me-ia muito feliz!" "Não... não quero te encher com meus problemas. Não te importa. Apenas vá." E ele se segurava.

Mas quando a ajuda se virou e foi caminhando, seus braços não aguentaram mais. Suas pernas, já sem sangue, deixaram de ter força. Suas mãos não o segurariam por muito mais tempo. Seus pés já balançavam na escuridão. Então ele respirou fundo. "Em algum lugar lá em baixo tem um chão. Vou me despedaçar quando cair... mas pelo menos, o sangue voltará a minhas veias e a dor vai passar por um momento". E ele já não mais se segurava.

Bekah
Enviado por Bekah em 24/10/2013
Reeditado em 02/07/2016
Código do texto: T4540520
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