O ABOMINÁVEL HOMEM QUE ERRAVA

Era uma vez, um homem que sempre errava. Ele queria acertar de todas as formas, mas errava, errava sempre. Era, certamente, o homem que mais cometia erros em todo o mundo. Ele pensava uma coisa, e no fim era outra. Fazia um bem, e era um mal. Ao sair de casa, não havia uma vez que não tropeçasse, resvalasse, alguma coisa caísse ou o estressasse. Ou um troço quebrasse.

Os caminhos que ia, não havia um por que não se perdia; as contas que ele aprendia, na hora da prova, as esquecia; sua dificuldade no português, era escrever que aparecia; — tantos eram os erros, todo o tempo, todo dia!

Errava tanto que, de repente, começou a crescer... A alimentar-se de seus erros, cada vez maiores, e a crescer. Ficou alto da altura dos postes e, depois, dos prédios, e era o maior ser vivo do mundo, monstruosamente, e pudera esmagar populações. Sim. Já que só podia errar, vingar-se-ia daqueles que, diferente dele, acertavam: As pessoas felizes.

Pisara no senado, com nojo dos políticos, mas também varrera, de entre os dedos dos pés, as casas, as lojas e hospitais, e tudo o mais.

Por fim, quisera voltar à sua cidade natal, derrubar aquele lugar em que apenas o fizeram sofrer, como se ele fosse um bobo. Riam dele como ele fosse um palhaço, imbecis! Alimentado, agora, também pelo ódio, soltava faíscas dos olhos e pela boca, como se relampejassem fios de luz vermelha dançantes pelos céus, e o ar se carregasse de fumaça espessa, preta, como que se queimasse borracha.

O céu, por onde passava, anoitecia e o abominável começou a se tornar gasoso, como uma nuvem carregada, e, nos pontos em que pisava, tudo derretia, com a asfixia e o calor de sua tez nebulosa.

De repente, dele começou a chover uma chuva inóspita, corrosiva, letal. Cuspia fogo e ácido à sua volta, como uma tempestade do céu, devastando toda a fauna e a flora por que passasse, até chegar à pequena cidade onde nascera. E quando ia vomitar sobre ela um rio de fogo maldito, atacado de ânsia e horror, feito um grito de dentro da garganta, subido de uma úlcera nervosa a estourar; viu a casa de Princesa, sua amiga de infância.

Princesa se chamava assim mesmo, era o nome que lhe deram. Lembrou-se de que gostava dela. E pela primeira vez pensou que estava errado. Que tudo o que fizera estava errado. Que deveria ter-se dado conta, prestado atenção. Deveria, ou senão, ter voltado atrás, buscado acertar. Não tinha de ir tão fundo ao erro. Não tinha que se matar.

E, nesse momento, tomado de decepção e lágrimas, seu corpo de névoas dançou pelo ar, como um redemoinho leve que se desfizesse aos poucos, volatilizando. E o mundo se salvara daquele monstro, que tinha por erro — errar demais.