SEXTA FEIRA DA PAIXÃO

- Seu moleque desgraçado, que cê ta fazendo? Onde oce passou a noite?

Eu sem entender nada, fui levantando sendo puxado pelos longos cabelos e na porta do quarto um Policial Militar me olhando com uma cara bem furiosa. Apanhava e era arrastado de cima da cama aos berros pelo meu pai.

- Levanta desta cama ou vou te quebrar na bordoada, seu irresponsável, vagabundo...

- Calma bem! Calma bem! Temos que ouvi-lo antes, não sabemos se ele esta envolvido...

Minha mãe com seu senso de justiça tentava amainar a ira de meu pai.

- Calma o escambau! Toda vez que fazem merda na cidade ele esta envolvido.

Realmente existia esta fama, de que tudo de ruim que acontecia na cidade eu estava envolvido, e geralmente estava mesmo. No alto de meus quinze anos, eu era muito levado, inconseqüente, irresponsável e temido... Temido sim! Fazia caratê e tae Ken doo, brigava muito, brigava tanto que cheguei ao ponto de viajar para uma cidade vizinha que tinha academia para brigar com os alunos de lá. As reclamações sempre chegavam aos ouvidos de meu pai.

Neste momento eu não sabia o que estava acontecendo, pedi para o meu pai contar o que eu tinha feito. Apanhar eu não ligava, estava acostumado, jamais reagiria contra meu pai e aos berros ele me mandou contar o que eu fiz na noite anterior.

- Ontem fui à missa, depois fui à lanchonete com a namorada e ai a turma decidiu fazer uma galinhada na casa do Raimundinho, porque seus pais estavam viajando...

- Eu não falei! Ele tinha que estar nesta zona, ele esta em todas, você quer me matar, matar de desgosto, onde foi que eu errei? Porque você não toma jeito? O que foi que eu fiz para merecer um filho assim?

Virou as costas e foi para um canto do quarto, acho que para esconder as lagrimas e se recompor.

- Meu filho, o que mais vocês fizeram?

- Nos dividimos em grupos, o primeiro grupo foi com o Raimundinho para casa dele para preparar as coisas, por bebidas para gelar, e fazer a comida...

- Com certeza este desgraçado não estava neste grupo... Vou te mandar para uma escola de Padres!

Nesta hora o Policial sorriu, todos olharam para ele e ele disparou:

- Não fica uma semana, aposto todo meu soldo...

Todos riram inclusive eu. De fato, no ano seguinte fui internado em Araxá no colégio de padres, em uma quarta feira e o Monsenhor me levou de volta na sexta feira pela manhã, dizendo que o Demônio se fazia presente em mim.

- Meu Deus! Será que estou pagando por ter lutado na guerra? Neste caso preferia ter morrido lá, ou será pela repressão? Neste caso gostaria muito que Deus me levasse agora, estou envelhecendo, estou ficando doente, acho que vou morrer...

- Vai não bem! Tua saúde é de ferro...

- Este desgraçado esta acabando comigo, se Deus continuar a me punir assim, vou acabar fazendo uma besteira, ou eu te mato ou meto uma bala na minha cabeça, não agüento mais.

- Calma bem! Vamos ouvir o resto de historia, a Ana foi com você?

- Não mãe, Clo não quis ir, então ela foi direto pra casa do Raimundinho.

- Ele estava com o Luizão, o Neguinho, o Zezé e o Patrício, tinha mais alguém? Perguntou o Policial.

- Não! Éramos só os cinco, fomos roubar galinhas na casa do Sr. Calixto, eu entrei peguei um frango só e fui embora, um frango grandão assim ó! E fiz um gesto com as mãos.

- Mas você é muito burro, alem de ladrão é burro. Você não conhece um galo?

- Ah! Então é por isso que tivemos que tacar fora o danado, ele não cozinhava de jeito nenhum, já eram seis horas da manhã e o danado tava duro.

- Puta que te pariu! Tenho um filho ladrão e burro e alem de tudo vou ter que pagar por um troço que vocês jogaram fora? Vou dar um tiro na cabeça, na cabeça não, vou dar um tiro no rabo, de tanta raiva que eu estou.

- Po pai! E só um galo, desconta da minha mesada...

- Vou descontar sim, você vai ficar uns cinco anos sem mesada e talvez o dinheiro nem de para você ir para faculdade...

- Porra que galo caro! Era de Ouro?

- Não! Seu idiota, imbecil, retardado, burro. Este galo era de raça, de briga, campeão Estadual e Nacional. Você matou um campeão.

Nunca mais roubei nada na minha vida e a parte de meu pai no rateio foi de mais ou menos mil e quinhentos Dólares na época.

Cesão
Enviado por Cesão em 18/04/2014
Reeditado em 18/04/2014
Código do texto: T4773505
Classificação de conteúdo: seguro