A cegueira da luxuria

Tudo começou quando conheci Joaquim, nunca me esqueci daquele dia, é como um carma, um pesadelo que insiste em me dizer o quanto foi tola. Ele me enxergou, ninguém tinha me visto daquela forma. Todos só viam minha beleza exterior e abusavam dela. E eu gostava... adorava me sentir desejada. Cobiçada. Fazia joguinhos com os homens, lançava charme... seduzia e só me entregava aquele que me pagasse mais. Provocava até deixar qualquer homem louco para me possuir, mas naquele dia não tire sorte. Fugiu do meu controle e se não fosse aquele bondoso homem não estaria aqui contando-lhe esta história. História da minha burrice, do meu egoísmo, da minha ingratidão.

Naquela noite fui ao mesmo bar de sempre. Bebi, comi, dancei com todos que me agradaram, porém tinha um filhinho de papai por lá que não aceitava não como reposta. Ele era lindo, um homem que qualquer mulher gostaria de chamar atenção. Ele gostou de mim, então quis tirar proveito da situação. Dessa vez me dei mal quando quis fugir de suas intenções, fui seguida por sua tropinha de cães babões que faziam tudo que ele queria. Corri o mais depressa que pude. Mas com saltos altos e um pouco embriagada não fui muito longe. Era madruga todos estavam dormindo e aqueles que ouviram minhas suplicas não se manifestaram, presavam sua segurança e de suas famílias. Foi, então, que cheguei à estação ferroviária. E quando me dei conta já tinha sido agarrada por aqueles homens e aquele “playboyzinho” que quis me violentar ali mesmo. Apanhei muito como lição, por tentar enganá-lo.

Nesse momento, chegou Joaquim com toda sua coragem enfrentou o meu algoz quase não saímos ilesos dali, logo que vimos o trem parar subimos e fugimos da morte. Este homem cuidou de mim, me tratou como nunca ninguém tinha me tratado. Levou-me para sua casa. Era solteiro e morava sozinho. Como estava muito machucada deixou-me ficar na sua casa até me recuperar e durante este tempo jamais tentou algum envolvimento comigo, apesar de algumas vezes perceber seu olhar em meu corpo.

Finalmente, quando me recuperei totalmente tentei me despedi, porém pude perceber o quanto aquele homem já me amava. Nunca imaginei que alguém pudesse amar assim sem ao menos me tocar! Depois de uma conversa franca resolvi tentar começar uma nova vida ao seu lado, mesmo sabendo que não o amava me aceitou e prometeu me fazer feliz e me fazer amá-lo, pois se sentia solitário, aliás era o único medo que ele sentia. Ficar sozinho, viver seus dias amarguradamente sem ter ninguém ao seu lado, sem construir uma família. Resolvi ficar e me tornar uma dona de casa, logo descobri que estava grávida e por mais que eu tentasse não conseguia ser feliz naquela vida normal, sabia que isso era o desejo de muitas mulheres, algumas me elogiavam pela conquista.

Joaquim era o marido perfeito, não deixava faltar nada nem para mim e nem para casa, com a noticia de que seria pai as coisas melhoraram ainda mais. Ele tinha perdido os pais cedo e não teve o privilégio de viver numa família. Ele acreditava que sendo um bom marido, bom pai estaria comprimindo seu papel de pai e de filho.

Eu já não aguentava mais aquela casa, aquela vida, aquela gravidez. Quando nossa filha nasceu foi um alivio. Comecei a sair mais uma vez pela noite, escondido dele, aproveitava os dias que ele trabalhava a noite devido escalas. Conheci outros homens, o trai muitas vezes dentro da nossa própria casa. Estava começando a me sentir livre novamente. Viva!

Foi, então que assinei meu estado de mortificação. Enganei-me fui à busca de diamantes e só encontrei vidros pelo me caminho. Tomei coragem e fugi de casa deixando apenas um bilhete dizendo que não tinha nascido para ser dona de casa e tampouco mãe e o golpe final... que não era mulher de um homem só. Sai sem destino, peguei muita carona, me vendi várias vezes e em algumas até passei fome, mas sentia-me livre e feliz.

Cheguei nessa grande cidade o que aguçou ainda mais minha luxúria. Tinha mais chances ainda de viver da maneira que gostava. Porém, não demorou muito adentrei por um caminho de desilusões... violência... tanto mental quanto física. Ninguém mais me via como Joaquim, alias eu nem me lembrava dele ou da nossa filha que abandonei ainda amamentando. Quando me dei conta do que tinha se transformado minha vida depois de quase dez anos consegui volta aquela cidadezinha do interior... no íntimo tinha esperança de reencontrar Joaquim e recomeçar tudo. Não achava que já era tarde demais... Por ironia de destino cheguei justamente no dia do seu casamento, nossa filha estava lá de daminha. Já era um pouco grandinha, mas como ele valorizava muito a família fez questão que ela participasse desse momento.

Soube que ele viveu sozinho todo esse tempo e que só agora tinha aberto o coração para o amor. Durante esses anos dedicou-se apenas a cuidar da Clara. Frustrada, tomei um gole de realidade e voltei a essa cidade. Sobrevivi até hoje me arrastando com o peso do meu passado e com a consequência da minha ilusão, ou melhor, burrice, pois nem ao menos tentei ser feliz com ele e com nossa filha.

Hoje, percebo o significado que Joaquim dava a família. Vinte anos se passaram e nunca tentei conhecer minha filha, aquele ser indefeso que pus no mundo. Amargo, hoje, a solidão... Bip, bip...bip ecoou no quarto daquele hospital, era parar de seu coração. A testemunha da angústia daquela mulher; uma enfermeira que aplicava seus medicamentos e por pena escutava aquela pobre solitária que teve tudo na vida, mas infelizmente, erra cega. Cega do que realmente importa nessa vida: a família.

Flincia Barbza
Enviado por Flincia Barbza em 20/04/2014
Reeditado em 24/05/2014
Código do texto: T4775825
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