Não tenho nada a dizer a respeito

Bom, primeiramente eu ainda não estou nem longe e nem tão pouco perto de você. O caminho que escolhemos trilhar naquele dia não foi uma simples obra do acaso assim como nosso primeiro encontro. As coisas realmente foram acontecendo daquilo que sentíamos e fazíamos sentir. Sobre isto não nada tenho dizer a respeito. A infelicidade é permanente. Ser feliz é sempre um novo amanhecer. Mas ele nunca renasce. É tão menos ainda permanente. Eu sei disso como ninguém mais sabe. Sou um estranho e não lembro quando nasci. Eu me lembro apenas de que estou sempre morrendo. De que os dias são como as noites nubladas do inverno. Não exergo nada dentro de mim que seja profundo. Tudo em mim é superficial. Eu sou apenas como um instante, um brilho efêmero. Talvez você pudesse compreender o que eu sou e eu mesmo assim não ter compreendido-me. Se fomos para lugares tão distantes foi porque escolhemos. Agora prossigo, mas sempre sem destino. Há sempre uma partida. Nunca naufraguei. Mas sempre estive no mar. Eu já fui um rio, mas apenas por um instante. Hoje estou misturado a tudo. Homogeneizado. Se você observasse além dos meus olhos, adentrasse em meu mais íntimo sentimento saberia o que sou e o que sinto. Quero que você saiba e que também acredite nisso, que ser eu é deveras injustificável. Pois eu nunca pude escolher o que sou agora, foi-me dado ser assim e nunca pude escolher. É o melhor para nossas vidas que fiquemos assim? Talvez eu devesse olhar para trás e enxergar nosso passado novamente? Refletir e encontrar uma saída que não seja essa? Nem eu e nem você sabemos o que poderia acontecido. Parece que tudo hoje nos meus dias é previsível. Todas as circunstâncias em que me encontro me levam a crer que algo de estranho acontece quando menos espero. Eu esperaria não ver as coisas à este modo. Mas é realmente uma loucura. Apenas um devaneio passageiro. Eu quero sofrer. O sofrimento é cruel e ao mesmo tempo revigorante. Não se decida por você ou por mim. Há ainda coisas que são inexplicáveis.