O ROUBO DA BICICLETA

Havia alguns dias que os amigos notavam um comportamento estranho no pobre “Defonso”, o jardineiro da empresa. As pessoas não costumam atentar para as suaves mudanças, mas nos últimos dias ele estava sempre atrasado, com o semblante carregado, poucas palavras, na verdade a alegria de viver parecia ter escapado por entre seus dedos. No refeitório era um herói, um épico glutão, no entanto também seu apetite havia desaparecido.

Um dos amigos foi até ele intrigado com a mudança repentina de hábitos, afinal poderia ser relativo à saúde e estávamos solícitos uns para com os outros.

Não. Na verdade o que havia acontecido era que no sábado anterior haviam lhe furtado a bicicleta. Era uma velha barra circular fora de moda, bem surrada pelo tempo, porém parecia enfeitada para um desfile de carnaval. Possuía faróis, franjas no guidão, moedas coloridas entre os raios, buzina e por último e mais importante uma capa para selim com o escudo de seu time do coração, era um verdadeiro carro alegórico.

Revelado o problema, todos nos empenhamos em ajudá-lo a recuperar sua sempre fiel e companheira magrela, aquela que o levava em segurança de casa ao trabalho e vice versa. Primeiro passo seria procurar um posto policial e dar queixa mesmo que este fato tenha ocorrido há uns quatro dias.

Ele não queria, pois se sentia constrangido, quem iria querer aquela velha bicicleta. Mais que tudo para ele contava muito o valor sentimental, além do que seu pequeno salário não lhe permitia a compra de uma outra tão cedo.

Próxima etapa, definir de onde ela tinha sido subtraída.

Ele não tinha certeza. Não fazia idéia de como tinha acontecido. Deveríamos refazer todos seus passos desde a ultima vez que esteve com sua amada.

A última coisa que tinha em mente foi que no sábado de manhã havia saído montado nela, daí não soube dar mais explicações.

Repentinamente uma terrível angústia tomou conta de sua alma. Por mais que conversássemos não chegamos a nenhuma conclusão, nada mais pode nos esclarecer, também não falou com mais ninguém naquela tarde.

Em nada poderíamos ser úteis, e nos dias seguintes também não o vimos para saber as novidades. Cada um seguiu sua vida, triste pela sorte do amigo “Defonso”.

Mais um fim de semana se passou. Sábado com a família, cinema, pizza e no domingo o futebol e churrasquinho com os amigos. Segunda-feira chegou cruel como sempre, a maior ressaca, corpo acostumado com o ócio e brutalmente assolado pelas responsabilidades profissionais.

Um único fato animou a todos.

Ainda no vestiário, seis e trinta da manhã chega nosso bom amigo novamente unido a sua fiel parceira e feliz como de costume, ele foi cercado e felicitado por todos, estava recuperado do susto e sem prejuízos, sua bicicleta estava como sempre, com a mesma fantasia de costume.

Mais tarde em particular vieram as explicações:

No sábado, sua esposa pediu que ele fosse até a mercearia comprar uma dúzia de ovos. Lá se foi.

Depois das compras, como já estava na hora do almoço parou em um boteco para tomar uma pinguinha e abrir o apetite, toma uma, toma duas e toma outras, o calor sufocante, seguiu para casa com a preciosa encomenda, temia a bronca da mulher pelo atraso. Em casa almoçou e dormiu, ao acordar continuou sua rotina, na segunda ao sair para o trabalho percebeu o sumiço da bicicleta, a esposa não sabia do seu paradeiro, ele saiu atrasado, passou o dia angustiado e os demais como o primeiro até a conversa com os amigos.

Quando sugerimos que ele fizesse a rota baseado na última lembrança que tinha, foi como um estalo.

Havia a esquecido na porta do boteco.

Naquela mesma tarde correu, a saber, do dono do estabelecimento se tinha visto alguém furtando sua condução.

Ao chegar, de longe reconheceu seu objeto encostado na frente do estabelecimento. Perguntou quem estava com ela?

Surpreso, como resposta o dono do bar disse que desde sábado alguém esquecerá aquela bicicleta ali na porta, desde então ele passava os dias colocando-a para fora de manhã e para dentro à noite, sempre esperando que seu proprietário viesse reclamá-la, isso só foi acontecer naquele momento.