CONTO BRANCHURIANO
- De às voltas consigo mesmo! -


Ele decidira contradizer a si mesmo.
Questionar conceitos, edificar teorias, renegar a tudo que lhe fora ensinado desde a infância.
- Nada mais lhe serviria de referencial -
Haveria de provar a mediocridade de todos, a imbecilidade filosofal de muitos, e que, ninguém mais, além dele, haveria de merecer aplausos.

Estudou Platão, Sócrates, Aristóteles, e deduziu que muito tinha para lhes ensinar. E o quanto haveriam de lhes aprender acaso não houvessem morridos.
Diderot, D'Alembert, Russeau, Lamartine, Schoupenhauer, Victor Hugo, e muitos outros... Eram ínfimas pessoas...Ele agora rotulava a todos como de Incapacitados.

Estudou e vasculhou todas as religiões... E até, em algum momento, creu, e admitiu fosse Deus, a suprema inteligente do Universo, e causa primeira de todas as coisas. Mas num ato de rebeldia e insensarez, demoliu-se à idéia, e imaginou-se, Onisciente e Onipotente, superior a tudo e a todos. e que ninguém lhes haveria de ser criador.

Estudou filosofia!
Virou rato de biblioteca... Se imaginou portentoso.
Paginou os Vedas, revirou clássicos, pesquisou a fundo todos os papiros da Biblioteca de Alexandria. E se admitiu em conflitos com o próprio Theron, último diretor da sublimada instituição. Disse-se Iluminado e Sublimado em tudo, concluindo que nada mais houvera para lhes ser ensinado.

E ainda assim, essenciava-se à necessidade de em tudo mostrar-se superior e diferente. E nunca, exatamente, em renegando-se, admitiu até mesmo, a ridícula possibilidade de algum dia dá o cu. Mas sentia-se não tão sublimadamente prostituido para isso.

Mas nada disso lhe bastava.
Ainda era pouco. Ansiava por algo que o fizesse ainda mais diferente, que pudesse fazê-lo sublime, edificado, e perpetuado à memória de todos. E num estalo momentâneo de consciência, advogou e perseguiu insessantemente pra si a articulação do derradeiro ato.

- Agora sim, seria, merecidamente, imortalizado por todos!

E numa noite de natal, quando toda a cidadezinha fazia-se em festa, vestiu a calça do avó, a camiseta colorida de quando hippie, o paletó sujo e amarrotado de imensuráveis décadas atrás, um lenço multicores subistituindo atrevidamente a gravata, os sapatos em dimensões de palhaço, admitindo-se, enfim, representativo a tudo e à todos.

Dirigiu-se a pracinha central da cidade, única necessariamente em ocupção e beleza, e apossando-se do coreto. dançou, bailou, e discursou, manifestando-se num pronunciamento estonteante e de caráter político-poético-porno-erótico-sexual.
Depois, sem que ninguém ousasse intervir, sorveu solenemente, e em vagorosos goles, uma taça de champagne francesa impregnada de veneno para ratos, saltando em seguida sobre a multidão com uma corda amarrada ao pescoço, e ao desempenho malabarístico de detonar, ao propósito de nada lhes sair fora do planejado, contra o próprio ouvido.

Moral da História:

Realizou o maior sonho de sua vida... - MORREU DOIDO!