Um fevereiro qualquer...

Ele se sentou nas escadas e deixou que o perfume dela se esvaísse junto com suas lembranças. Olhava por todos os lados do apartamento vazio e nem sinal daquele sorriso, somente o que restava era a presença cortante da ausência dela. Olhou para os cantos como quem procura consolo na solidão, mas nada diminuía a dor de tê-la visto partir. Acendeu um cigarro e transformou em cinzas o que restava do seu sentimento. Pegou a cachaça para que talvez assim adormecesse a dor que sentiu ao ver aqueles olhos mareados. Foi em vão, pois aquilo rasgava seu peito. Deitou-se no chão gelado da sala e chorou. Chorou por todas as palavras que não disse, por todos os afagos que não fez e, principalmente, por não merecer o amor dela. Sentiu medo de não a ver mais, angústia por não ouvir mais sua voz, tudo isso o levou ao desespero e quando percebeu que não conseguiria suportar aquela separação - a campainha tocou - era ela. Ao vê-lo totalmente destruído e entregue ao sentimento de abandono, simplesmente o abraçou e mais uma vez o perdoou.

Luciana Rossetti

Ps: este pequeno conto deve ser lido ao som de Ne Me Quitte Pas