As Sementes

Eu tinha medo. De comer sementes. Achava-se que, se engoli-se sementes de melancia,iria nascer uma melancia enorme dentro de mim.Eu olhava mamãe descascar a abóbora,e sem ela saber eu ia no meio do lixo e pegava aquelas sementes e pegava e colocava dentro do bolso do meu vestido rosa.

E, ia para fora brincar no quintal perto das galinhas. Fui, ao meu quarto, sentei-me na cama e levantei o meu vestido e coloquei a semente de abóbora dentro do meu umbigo. Coloquei, e havia me lembrado de que ela não iria crescer, pois eu tinha que colocar terra, porque semente precisa de terra e água para crescer.

Fui ao jardim da mamãe onde ela tinha muito ciúme, muita frescura e muito amor.Onde ela não podia nem desconfiar,pois senão ela me daria uma coça,se descobri-se que eu estava procurando terra para colocar em meu umbigo.

Lembrei que tinha que passar em meu quarto, pegar a minha pá.

Que eu levava junto com meu balde vermelho de catar conchinha e areia, quando eu e minha prima passeávamos na praia.

Pronto!Peguei um punhado de terra, coloquei dentro do balde e com a pá eu dei umas batidinhas na terra, para que minha mãe não desconfiasse de mim. E fui ao quarto, plantar as sementes dentro de mim. Quando a minha mãe grita:

—Lorenaaa!O almoço está pronto!Venha almoçar e vê se lava as mãos menina!

Ixe!Vou ter que deixar para depois. Vou por este balde debaixo da cama. Vou logo, senão mamãe vai vim atrás de mim. Ver o que eu estou aprontando.

— Já vou mamãe!

Quando chego, paro e percebo que o cheiro de alho e feijão se exala sobre a cozinha. Onde de repente, abre o meu apetite.

—Sente-se filha!Já vou colocar o seu prato. O que você quer minha filha?

—Tudo, mamãe!Eu quero tudo!Eu estou com muita fome!

Logo, a mãe franziu as sobrancelhas. E pergunta:

— O que você anda aprontando Lorena?Para estar com tanta fome dentro daquele quarto?

Engulo em seco.

—Nada, mãe. Não estou aprontando nada. Só estava lendo o livro Reinações de Narizinho. A senhora sabe que eu, adoro ler. E o livro é sempre o melhor amigo. Vamos comer mãe, estou com fome!

—Está bem, minha filha. Já coloquei o seu prato.

— Hummmm...!!!Que cheirinho bom, mamãe!Lorena come a abóbora com carne seca,lembrando das sementes.E arroz com salada de alface,em cada garfada degustando com muito sabor.

Em instantes, Lorena acaba com o seu prato. Leva para a pia, lava o prato e enxuga e guarda no armário. E passa, na mesa, e dá aquele beijo: cheio de amor, ternura e admiração pela mãe. Dizendo:

— Eu te amo muito, mamãe!

Lorena passa no quarto com aquela ideia de querer plantar a semente dentro do umbigo. Agora, eu vou plantar!

Levantou-se o vestido e com a mão ela colocou um pouco de terra no umbigo e a semente. A inocência era tanto que, ela não tinha noção que sementes não podiam crescer em gente. Ela não sabia que o ser humano havia sistema digestivo. Ela queria apenas compreender o medo de comer sementes e ela achara que iria nascer uma planta dentro de si.

Ela tinha pânico de ingerir as sementes, tinha medo de que um dia pudesse crescer uma verdura, uma abóbora, melancia dentro de sua barriga.