Sol em peixes

SOL EM PEIXES

Às vezes a vida nos dá um bom guarda-chuva, mas isso acontece quando já estamos completamente molhados. Mesmo sabendo disso, ela entregando-se a Morfeu mais uma vez, sentiu-se um tanto vulnerável. A noite estava calma e, em sua mente, não havia espaço para uma experiência tão diferente daquelas que vinha vivenciando em sua nova fase. Entrando em outro mundo, ela encontrou algo um tanto surreal. Um homem atraente. Mais do que isso; de beleza exótica. Parecia intelectualizado e guardava doçura no olhar. Era o tipo de homem que não chamaria a atenção de qualquer mulher, mas ela não era qualquer uma... Ele era moreno, cabelo bem liso e tinha um sorriso encantador. Usava óculos e mantinha as pazes com a academia. Entretanto, seu estilo nerd o afastava dos padrões de beleza pré-estabelecidos pela nossa hipócrita e superficial sociedade. Vestia uma camisa social rosa; algo bastante significativo para ela até então. A atração foi mútua e imediata. Havia um ímã que os ligava. Uma força estranha; algo muito maior e inexplicável. Os olhos se cruzaram e ao passar por ele, ouviu aquela doce e agradável voz lhe indagando algo. Respondeu-lhe rispidamente e continuou caminhando em direção ao nada na noite fria. Ele lhe fez outras perguntas e o diálogo durou certo tempo. De repente, estavam no sofá de sua casa. O silêncio os cobria como um lençol se seda branco. Ele, vestido de amor, mordia os lábios e olhava pra ela, que estava tímida, mas interessada. Os sorrisos também se correspondiam e um beijo foi inevitável. O beijo durou alguns segundos, mas, ela pode sentir sua respiração, seu cheiro, seu toque... Os lábios se cruzaram de forma diferenciada. Não havia rapidez no gesto; havia calma como se houvesse muito amor e cumplicidade entre o casal. Dali a pouco os dois estavam estirados no sofá, mas abraçados. Ela conseguia senti-lo completamente e chegou a pensar que ele seria seu. As risadas de sua tia trouxeram-lhe de volta à realidade. O príncipe se esfumaçou. O cenário era outro; um quarto. E o sofá se tornou a cama solitária, sobre a qual estava acostumada a deitar. Assim, a jovem Macabéa pode constatar que não mais veria o belo rapaz, pois esse estava dentro dela; somente dentro de suas fantasias adolescentes. E a chuva continuou...

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 30/08/2014
Reeditado em 03/04/2018
Código do texto: T4943306
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.