Amores Improváveis XVI - A branquinha e o Nariz.
Imagine alguém bom de lábia, capaz de fazer pão duro dar dinheiro, engatar um namoro com uma pessoa a partir de uma ligação errada. Esse era o "Narigão".
Sabia chegar e sair. Conquistava amizades com golpes discretos e inesperados.Tinha amigos da diretoria a equipe de limpeza do colégio federal, onde trabalhava como secretário na associação de professores. Dos grupos de esquerda mais radicais ao povo de direita pós-moderna.
E as mulheres? Imagine o moço, negro bonito, bom falador, sempre bem perfumado e militante, vindo do Rio. Ele fazia pedagogia, mas era como um marujo: um namoro em cada porto do país. O gasto com telefone era alto, mas ele conseguia tempo para todas.
Até que Marcela apareceu. Numa festa em outro estado, eles dançaram. E ele dançou.
O casal estava junto nas passeatas, atos e festas. Ela branca, alta, de personalidade forte. Tão forte que encarava tudos e todos pelo que pensava e achava correto. Arretada, essa dona Reis.Se precisasse meter o dedo na cara do prefeito ou de reitor, ela o fazia. Depois pensava no que tinha feito e dizia: "Jura que eu fiz isso?". E se riam de tudo.
O casal na rua chama a atenção: aquela mulher toda grande, poderosa, quase que uma personagem de Robert Crumb, e do lado nosso amigo "Narigão", com seu andar malemolente, negro Sul-americano forte, com brinco de ouro na orelha.
O olhar racista bate em seus ombros, eles dão o beijinho e seguem se amando.
Ela o ajudou a seguir em frente na carreira, quando as adversidades de várias formas chegaram. Não esmoreceram, mesmo quando o mundo parecia desabar sobre eles.
Ele a ajudou, quando ela achou que o mundo podia desabar, que não ligava mais. Foi sua âncora. Seu porto. Seu negão. Ali, presente.
As nuvens passaram. A filha veio. As doenças também.
Nas horas de aperto nos hospitais, eles perceberam como se bastavam, mesmo com tantos amigos por perto.
E caminham lado a lado, vêem o Sol, se o sair, e a chuva, se a chuva cair.