Estiagem de amor

Regressando para aquela represa, me vieram a tona memórias do amor que vivi com minha amada Cláudia, amor que teve como palco de um primeiro e vários posteriores encontros, a mesma represa da Light, situada na cidade de Votorantim.

Olhando para aquela imensidão de água, que já não era tão vasta como dantes fora, as minhas juras de amor de certa forma passaram a fazer sentido de uma forma que inicialmente seria inesperada, entretanto era como se a natureza estivesse de acordo em suas ações, com o processo de desencantamento que meu romance vivia.

O primeiro encontro me despertou emoções rompantes que eu até então desconhecia, foram tantas emoções que seriam impossíveis de serem transcritas. Como dissera Shakespeare outrora: "Se eu pudesse descrever a beleza dos teus olhos e enumerar teus atributos em épocas vindouras, diriam: o poeta mente! A terra jamais foi acariciada por tal toque divino."

No pouco que não me fugiu a memória, recordo-me da metáfora que fiz naquele prazeroso momento, comparando a paixão e desejo sentidos por mim, a extensão daquela represa, uma vez que ambas eram impossíveis de se precisar a extensão, inesgotáveis e mesmo nas gotículas mais ínfimas que pudessem existir, ainda assim eram infinitas. Prometi que meus esforços para fazê-la feliz seriam proporcionais aquele conglomerado de água e fui prontamente retribuído com beijos e abraços calorosos.

Com o passar do tempo, a paixão e desejo, transformaram-se em um sentimento mais nobre e concreto, o amor. Tínhamos uma ótima relação, muito intensa, de sentimentos e ações correspondidas.

Em um tempo mais longínquo, assim como acontece em todas as relações, passaram a ocorrer brigas e desentendimentos, que fizeram com que todo aquele amor imensurável ficasse latente. No momento das dificuldades, me inspirei na água e procurei insistentemente por uma solução, tal qual água mole em pedra dura, todavia não obtive o resultado almejado. Tendo mais uma vez como inspiração a água que desvia dos obstáculos com delicadeza, ao invés de "discutir" com eles, simplesmente contornando-os, resolvi agir da mesma forma, porém novamente sem êxito.

Diante de um cenário de dissabores, resolvi regressar a represa, com a finalidade de retomar aquelas emoções, que ali começaram a se firmar. Eu estava esperançoso e animado, ignorei os noticiários, alertando sobre a falta de água. Ao observar aquele lugar que simbolizava o amor que eu sentia, quase que sem água, secando como o amor que eu possuía, minha primeira jura de amor fez sentido, de um jeito desagradável é verdade, mas que não deixava de fazer sentido. Eu me perguntava se assim como as notícias diziam que em breve faltaria água, se também faltaria amor em meu coração.

Era como se a natureza estivesse conspirando para o término do meu sentimento e consequentemente do relacionamento que era consolidado sob este pilar. Para um homem supersticioso como eu, aquilo era um desastre.

Depois da tempestade vem a bonança, resolvi me apegar a esse dito popular em busca de uma solução. Procurei um diálogo sincero e direto, dizendo a minha ilustre amada celestial que ao passo que a água é essencial para a vida e única na terra, ela representava o mesmo para mim, portanto assim como os veículos de comunicação, solicitam e alertam para que a água fosse preservada, eu via a mesma importância para que nosso amor ficasse resguardado.

Da mesma forma que a água tem a vida como seu fruto, eu gostaria que o nosso amor gerasse como fruto, uma nova vida, um novo amor, maior, eterno e para que isso ocorresse era necessário permanecermos juntos e em sintonia

Nos dias atuais, seguimos em busca de regressar ao ápice e ao que tudo indica, até mesmo São Pedro está empenhado em nos ajudar, com fartas chuvas, preservando o símbolo do nosso amor, tal qual no primeiro encontro.

Eu gostaria de encerrar dizendo que vivenciamos um período de tempestades e que vivemos felizes para sempre, como por enquanto ainda não ocorre este fato e como não desejamos voltar ao período de estiagem, seguimos preservando, tanto o amor quanto a água.

Gui Machado
Enviado por Gui Machado em 27/09/2014
Reeditado em 30/12/2014
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