Título: Ainda é outono
Gênero: Literatura e Ficção
Autora: Léa Ferro
Data: Maio de 2007
 
Ainda é Outono
 
 
Ainda é Outono, a cidade fica mais bonita e todas as folhas secas são levadas ao chão, ainda que com suavidade, devido ao vento que sopra do oceano com certa malandragem, tentando enganar-nos ao preparar o inverno sólido que está por vir. O Inverno torna-se fatal. Não há mais dúvidas.
 
É preciso apenas uma blusa leve para cobrir os ombros na madrugada. Quando retornar, provavelmente o sol já tenha adormecido há muito tempo e a cidade esteja mais silenciosa.
 
- Vai sair? Ouviu-a perguntar mecanicamente.
 
- Sim. Responde fitando-a, como quem espera que ela lhe peça para ficar. - Talvez ao Jazz. - Acrescenta enquanto seus lábios pousam um beijo em seus cabelos finos.
 
- Não beba muito, faz favor, isto não vai resolver nada. Pede encarando-a com o olhar altivo, tentando disfarçar o ar preocupado.
 
- Pelos menos o vinho faz-me companhia e eu preciso tentar não enlouquecer. Responde machucando mais a si mesma do que a ela, que baixa o olhar e volta a sentar-se diante a tela.
 
Ela deixa seus pés correrem o chão sem se dar conta da paisagem a volta, paisagem esta, que tantas outras vezes eu fez questão de parar e absorver como se fosse o último suspiro, acreditava que aquela visão tinha cumplicidade de toda a alegria vivida, nos dias marcados pela presença de um amor que agora eu já não conseguia compreender.
 
            Caminha rumo a um bar qualquer que possa levá-la a embriagues e a faça esquecer a realidade dos dias que a presenteiam com uma lâmina afiada. Sem pudor. Com os pés cansados e o joelho ainda dolorido de uma contusão, para alguns segundos diante a porta do tasco onde escreveu seu primeiro poema nesta terra, acompanhada da menina poetisa, que outrora deu colo as suas lágrimas. Tenta, nem sei por que, ajeitar os cabelos com as mãos e respira fundo querendo aliviar a tensa expressão que o rosto assumiu ao mergulhar em tantas lembranças.
 
O casal de meia idade por detrás do balcão a cumprimenta com um farto sorriso para atendê-la em seguida. Ela pede o velho e costumeiro jarro de vinho que será apenas o primeiro de muitos da longa noite a cair.
 
Lá fora o céu faz-se negro enquanto a desconhecida banda inicia o repertório regado a jazz. Observa as pessoas falantes à volta sem prestar muito a atenção no que dizem e faz forças para retirar dos pensamentos o riso doce dela, que lhe causa tanta alegria. Entre uma taça de vinho e outra, ela se perde em anotações que surgem no guardanapo de papel a sua frente. Rabisca as palavras que seu coração grita no silêncio da noite, tentando em vão aliviar a dor que envelhece a face, já imóvel, acende um cigarro e observa a fumaça alçar vôo, dissipando-se em segundos tão longos. Em sua latente loucura, enxerga as letras que se formam pelo ar antes do último trago, transporta-as para a folha em branco e sente quão lascivo é o amor que ela jurava ao leito, lindamente nua, após entregar-se aos prazeres, como fogo a crepitar na lareira das noites invernais.
- Dá-me a honra de fazer-te companhia? Ouve a voz grave despertar-lhe dos devaneios.
 
- Penso que hoje, não sou boa companhia. Responde erguendo os olhos e fitando o jovem de barba bem feita.
 
Continua a rabiscar o papel e vê o jovem sentar-se, mesmo com minha rude resposta. Ele sorri, pede outro jarro de vinho e pede a ela para que brinde com ele. Ela volta a erguer seu olhar e acaba por sorrir diante sua insistência. Ela o vê encher as taças e erguê-las a um brinde com o olhar fixo nos seus.
 
- Ao amor! Exclama.
 
- Ao amor! Repete, mesmo sem concordar.
 
Sorve de um gole que a faça acreditar nas palavras daquele brinde. Ainda com o olhar perdido, embora tente prestar ao máximo de atenção nas palavras daquele rapaz. Responde suas perguntas breves na mesma gentileza que ele as faz. Aos poucos, sua companhia vai tornando-se agradável e em meio a palavras e risos, permite que leia um dos poemas que acabara de escrever. Não poderia negar aquele pedido tão doce, com sua voz branca ele acaba por convencê-la em mostrar. Atentamente ele lê e silencia. Pede a caneta emprestada e mergulha por alguns segundos em seus pensamentos mais íntimos. Parece estar levitando, mas em seguida entrega-lhe o guardanapo que ele acabara de desenhar em poesia. Ela devora cada palavra como se aquelas fossem as últimas que pudesse ler na vida. Sente sua dramaticidade e ternura a contrastar, em versos que definem amor e ilusão.
 
- É bem assim que me sinto agora. Inda que a tristeza tente assolar-me, acredito no amor, em sua forma mais pura. Ele explica ao ver a face interrogativa da mulher.
 
- Mas este poema lhe trai. Ela provoca.
 
- Sim. Talvez porque este seja o sentimento que agora tenho em mim. Acreditando e duvidando de tudo ao meu redor, mas ainda sim, o poema termina com alguma esperança, não acha? Ele indaga e sorve o vinho de um só gole.
 
Esperança. Aquela palavra parecia tão utópica naquele momento em que sua vida desabava e ela passava os dias tentando em vão, permitir que a embriaguês a levasse ao sono, nem que fosse por algumas horas. Tinha desacreditado na esperança há muito tempo, e agora, ter esperanças era a última coisa que precisava. Seria enganar-se e fugir da realidade. Sabia que tudo estava acabado, que já não existia mais chances de juntar os cacos que haviam se espalhado ao longo do caminho, que todo o amor que sentia, tinha sido machucado da pior maneira possível. Não. Esperanças não faziam mais parte dos seus dias. Tudo o que havia restado, era apenas mágoa. Muita mágoa e ainda lutava para que esta mágoa não se transformasse em rancor.
 
- É bom manter a esperança. Responde traindo seus próprios sentimentos.
 
- Sim, mas você não parece estar vivendo de alguma esperança. Ele provoca.
 
- Talvez. Responde.
 
- Mas não é isto que seus olhos dizem neste momento. Ele teima e sorri.
Ela sorri de volta como quem se dá por vencida.
 
- Vamos ver o nascer do Sol? Ele convida com um sorriso gentil.
 
- Hum. Deixa escapar fitando-o com ar de interrogação.
 
- Olha, não estou tentando ser galante. Acredite. Mas esta noite fora por demais agradável, de alguma forma, você me ajudou a esquecer por algumas horas aquela desalmada que eu insisto e manter no coração. Podemos ir a praia ver o dia nascer, e depois tomamos um café. O que achas? Ele insiste como quem lê o seu olhar.
 
Ela percebeu naquele momento que aquele jovem tinha tanta ou mais dor do que ela.
 
- Desalmada? Talvez esta seja a palavra certa. Responde baixando o olhar.
 
- As mulheres não compreendem os poetas. Acredite. Ele deixa escapar com alguma dor contida na voz.
 
- Talvez algumas compreendam. Talvez tenhamos nos apaixonado pelas mulheres erradas. Talvez. Desafia.
 
- A parte mais complicada do amor, é sobreviver ao Inverno, e ainda é Outono. Ele acrescenta ao abrir a porta do carro e sorrir.
 
- É verdade.  Ainda é Outono.
 
A manhã parecia querer presenteá-los com as cores que o sol rabiscava no céu. O mar continuava revolto como os meus pensamentos mais íntimos. Permaneceram sentados a beira do penhasco por mais de uma hora em completo silêncio, deixando o oceano acalmar suas almas, algumas gaivotas cantavam eufóricas em torno das embarcações e a pequena praia dos pescadores começava a ganhar vida. Do alto, víam os homens descer a longa escada que levava até a praia com os olhos fixos no mar, como quem tenta decifrá-lo.
 
Ele permanecia calado como ela, mas ambos sabiam que suas almas gritavam desesperadas por um momento de alívio. Não era necessário falar, as palavras tinham tornado-se inútil diante tão bela paisagem e a fúria do mar espelhava a dor em seus corações.
 
Naquela manhã que nascia lenta, ela tentava se despedir de tudo que ali a aprisionava. Todo o amor, toda a dor, toda a revolta e mágoa, embora todos estes sentimentos piores contrastassem com a ternura que o olhar dela causava. Precisava ser mais forte e resistir. Sobreviver agora era uma questão de honra.
 
Os pássaros pareciam ler a dor, ao cantar e voar a sua volta. Viu aquele rapaz tão doce deitar uma lágrima silenciosa e desumana. Seu coração apertou, ela queria poder dissipar sua dor, ainda que eu soubesse que era apenas ilusão este querer. Ambos tinham que enfrentar o Outono e se fortalecerem para o frio cortante do Inverno que chegava a beira mar.
 
 
Deixaram a praia e caminharam, para o prometido café, as cidades ainda pareciam dormir. Só ali, voltaram a partilhar algumas palavras e até conseguiram sorrir com suavidade. Ele escreveu outro poema, que falava de amor. Seus olhos brilhavam e aquele poeta deixava-se mostrar diante tanto sentimento contido em seu coração.
 
Após o café, não houve despedida, ele apenas a deixou na porta de casa com um sorriso nos lábios, onde ninguém a esperava e o vazio era uma constante naquelas semanas. Exausta, jogou-se na cama solitária que ainda mantinha aceso o perfume dela. Um perfume levemente doce. Era mais uma manhã que ela não voltava para casa e deleitava-se em sua dor nos braços de outra mulher.
 
Ela não conseguia compreender o motivo de continuar ali. Tantos dias e noites sozinha a espera de algum milagre ou de um abraço de Deus, mas este, também a havia abandonado como ela. Caminhava pela casa a observar cada detalhe, cada pintura, cada escultura, cada porta-retrato em todo aquele silêncio estúpido rasgando-lhe o peito.
 
Despertou quando a tarde iniciava, tinha ainda algumas horas para saborear o sol.
 
Os dias que seguiram, foram povoados pela ausência dela e por sua revolta com Deus. Ela queria que Deus descesse a terra e  a encarasse de frente.
 
Precisava ir embora, não que isto fosse diminuir msua dor, mas já não suportava ouvir o barulho da chave na porta e ter que conviver com sua indiferença, ainda que estes momentos fossem raros e breves, porque ela, só voltava para casa para trocar de roupas e aumentar o seu sofrimento. Já não tinha mais paciência para ouvir aquelas razões infundadas e as desculpas atropeladas que tentavam em vão, justificar seus atos e sua traição. Toda e qualquer palavra, parecia uma lâmina afiada a cravar-se no que restava dela.
 
Sim. Precisava sair dali, ir embora, precisava alimentar-se, precisava conversar ver outro oceano, abraçar as pessoas, rever os amigos, precisava tentar viver, parar de fugir na embriaguês noturna e respirar um ar que fosse puro realmente. Tudo naqueles dias causava imenso tremor.
 
- Desça, vamos tomar um café. Era ela ao telefone com sua voz estridente e fria.
 
 - Ok. Respondeu fria.
 
Nem ela sabia de onde tirava tanta força para suportar aqueles momentos.
 
- Coma alguma coisa. Está pálida. Sua voz era gentil.
 
- Não quero. Obrigada. Respondeu com o olhar baixo. - Não tenho fome.
 
- Tem que alimentar e parar de beber. Não vai levar a lugar algum. Ordenou.
 
- Não preciso que se preocupe comigo. Não há mais motivos para isso. Devolveu.
 
- Sabe, eu queria que conseguíssemos ser amigas, você pode ficar, estudar e viver sua vida, eu vou estar sempre por perto, podemos continuar a escrever juntas, sair para dançar nos finais de semana e logo você irá conhecer uma pessoa bacana e ser feliz. Ouviu-a dizer e sentiu meu peito apertar em dor.
 
Sorveu um gole de café a amassou o guardanapo de papel em suas mãos. Viu-a pegar um cigarro, mas não ergueu o isqueiro gentilmente para acender. Não dessa vez.
 
- Para você é fácil falar.
 
- Temos ao menos de preservar a nossa amizade querida. Eu queria você por perto, quero que fique bem. Deixou escapar num tom de voz triste.
 
- Sim. Eu sei. Muito cômodo. Mas será que vamos conseguir? Indagou com os olhos cheios de lágrimas. - Sabe que o amor que te tenho está além de uma simples amizade.
 
- Não quere me ver feliz? Provocou.
 
- Eu daria a minha vida para que você fosse feliz. Mas você nem a ama, como pode ser feliz? Não. Você não será feliz, definitivamente. Despejou.
 
- Eu vou ser feliz, do meu jeito, mas vou. Respondeu com a voz embargada e desviou o olhar.
 
Ficaram em silêncio por um tempo e os olhos evitavam cruzar-se. Talvez estivessem fugindo da própria realidade. Ela tentava, mas sabia que nunca iria entender o que acontecia. Não percebia como a mulher pudera ter mudado da noite para o dia e tê-la deixado naquela casa sozinha por semanas, fingindo que tudo ficaria bem, que suas vidas não estavam dilaceradas. Não entendia alguém que me jurava tanto amor, agir daquela maneira racional e fria, apunhalando pelas costas e quebrando as promessas que haviam feito.
 
- Eu queria que soubesse que as crianças e eu colocamos quatro pratos na mesa todas as noites, mesmo nas noites que você esteve ausente para o jantar. Confessou.
 
- E eu queria que soubesse que sempre vou amar você. Respondeu desarmando-a por completo.
 
Ao ouvi-la, teve uma vontade imensa de abraçá-la e tomar-lhe a boca num beijo. Mas não o fez, não pode, porque também teve vontade de voar em seu pescoço e despejar toda sua mágoa. Mas temeu, porque sabia que as mágoas não controladas poderiam se transformar em sentimento piores.
 
Ela guardou suas sensações, respirou fundo, virou o rosto para o lado e não ousou responder a declaração de amor um tanto imprópria, para aquele momento.
 
- Bem, vamos, afinal eu vim buscar você... Disse a mulher, quebrando o silêncio.
 
- Eu preferia que você me dissesse que não me ama mais, seria mais fácil compreender suas decisões e assim eu poderia voltar para casa um pouco mais conformada.
           
            - Eu não posso dizer o que deseja ouvir.
           
            - E eu não posso mais conviver com seus caprichos. Lamento. É demais para mim. Preferia não pensar que você usa as pessoas.
 
- Eu vim buscar-te, já que vais viajar amanhã, ela convidou-te para jantar e depois podemos ir a alguma boate. Assim, vocês duas aprendem a conviver uma com a outra e tudo vai ajeitando-se com calma. Depois... Logo se vê. Disse-me.
 
Balancei a cabeça tentando organizar os pensamentos e absorver suas palavras. Fez-se uma enorme confusão dentro de mim e não conseguia perceber o que ela acabava de falar, logo após dizer que me amaria para sempre. Fiquei muda e com o olhar perdido. Pensei ter feito alguma confusão com as palavras e perguntei meio zonza.
 
- Como é?
 
- Vamos jantar, nós três, eu não tenho condições de vir de madrugada buscar-te e ela não me vai deixar conduzir sozinha por estas estradas. Se não quiseres ir jantar, ficas e venho buscar-te ao nascer do dia, mas ela virá comigo da mesma forma. Ou tu deixas o orgulho de lado e vem divertir-se conosco, ou ficas. A decisão é tua. Acaba dando na mesma. Explicou-se.
 
- Divertir-me? Estás a brincar comigo não é mesmo? Indaguei sem acreditar em suas palavras.
 
- Não. Não estou. É hora de deixarmos sentimentalismo de lado e sermos racionais. Por favor. Não dificulte mais ainda as coisas. Vamos ter de conviver de alguma maneira. Respondeu-me com o tom de voz alternando para o altivo.
 
Eu tentava não entender o que ouvia. Precisava acreditar que dentro de si ainda havia algum ato de humanismo. Fechei os olhos e tentei engolir aquelas palavras que destruíam o pouco que restava de mim. Por ações como esta, eu tinha decidido não manter mais esperanças. Era tolice.
 
- Ainda resta-me amor-próprio. Não vou jantar com vocês e fingir que está tudo bem. Fato. Caso tu não lembres, eu ainda tenho sentimentos e não tenho forças para suportar isto. Não é justo. Respondi cheia de mágoa por vê-la tão submissa àquela mulher.
 
Eu estava decepcionada e começando a deixar-me levar pela revolta. Inda que tentasse manter-me calma.
 
- Vais ter de vê-la da mesma maneira. Deixa de ser tola. Respondeu agressiva.
 
- Deixa-me num hotel qualquer e vá ter com ela, porque eu, não irei. Eu não vou suportar. Respondi deixando o pranto tomar conta de mim.
 
Realmente ainda era Outono, e diante aquela conversa, começava a ter certeza de que o Inverno seria mais rigoroso do que eu outrora imaginava. Na manhã seguinte deixei o céu de Lisboa e voei rumo a lugar nenhum, sem saber onde pousar. Era como se eu viajasse para o nada. Eu já não sorria nem chorava. A partir daquele momento minh'alma gritava apenas no silêncio. Parecia que eu não tinha mais lugar neste mundo. Sentia-me sem raiz, sem chão, sem história e sem vontade de construir uma nova estrada. Até porque, já não tinha motivos para prosseguir. Tudo em que eu acreditava na vida fora destruído quando ela partiu, e toda vez que sua voz alternava para o áspero, sabia que não poderia confiar mais.
 
Hoje.
 
Doem em mim as lembranças de ternura que tivemos, dói aquele olhar tímido do primeiro encontro a fugir dos meus, dói o toque das mãos que selaram nosso destino em cumplicidade, dói à caneca de café degustada no degrau da escada, dói às canções que dançamos e tornaram-se parte da nossa trilha sonora da vida, dói à lembrança da última vez que fizemos amor e permitimo-nos a entrega total dos corpos que ardiam mais que a alma, dói o retrato do beijo na face envolta na moldura azul que decoraria nosso lar, dói a saudade do risinho doce das crianças a brincar na manhã de Domingo e a fazer algazarra pela varanda, dói o oceano que tantas vezes uniu-nos e separou-nos, dói o abraço da Rainha do mar a deitar lágrimas pela história correspondida, estilhaçada, dói o fato de que seríamos felizes e ela nunca saberá disto, dói os poemas que embalavam as madrugadas sedentas de maresia e flores, dói o terno que ela nunca me viu vestir, dói o olhar de meu pai a perguntar se ela voltará, dói a expressão inocente de meu filho a dizer que ela causa saudade, dói ter presente na memória a despedida naquele hall de hotel, onde abraçamo-nos com tanta intensidade, dói ter a certeza que será sempre Outono, para mim e para ela, dói saber que temeremos o Inverno por toda a vida, dói o Cais de Sodré, onde eu encontrei um pedaço de mim, dói o vôo das Gaivotas que já não cantam por chorar a nossa tristeza, dói vê-la pelas ruas a fingir que está feliz. Dói o vinho, dói a rosa, dói poema.
 
Dói, uma dor aguda e forte a destruir as marés. E dói, imensamente, o Outubro.
O fato é que ainda é Outono e o desespero do frio do Inverno, ainda está por chegar.
 
 
*** FIM ***
 Léa Ferro
Léa Ferro
Enviado por Léa Ferro em 30/09/2014
Reeditado em 30/09/2014
Código do texto: T4981589
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