O Desvio de Percurso

Sentado em sua poltrona e claramente desconfortável, Ricardo visualizava precariamente a parede azul da sala como se o céu estivesse a poucos metros de distância.

Os seus pensamentos estavam muito além daquele conjunto de areia, cimento e água, sua mente estava tomada por acontecimentos que haviam mudado a forma como ele via a vida.

Por vezes a tristeza lhe consumia de tal maneira que ele não conseguia encontrar o amparo necessário para prosseguir, o que lhe causava dores emocionais que refletiam notadamente no seu estado físico e de saúde.

Nada mais tinha muito sentido para Ricardo, nada mais lhe trazia a alegria como outrora e mesmo nos momentos felizes um limitador emocional impedia que o seu contentamento fosse pleno.

Para Ricardo, o presente e o futuro se confundiam em uma desventura sem tamanho e o passado era algo lúgubre.

Agora, intimamente Ricardo sabia que existia uma mácula na sua vida que o impedia de ser quem era e que lhe traria sofrimentos que se arrastariam por toda a sua existência como ser humano, como espírito.

Entretanto, ele tinha conhecimento que nos dias vindouros jamais entregaria novamente o seu coração e a sua vida a alguém que não sabia o verdadeiro significado do amor.

Ricardo então fechou os olhos e sorriu por dentro, como se de algum modo tivesse encontrado forças ao relativizar a importância daquela pessoa em sua história.

Abrindo vagarosamente os olhos fitou novamente a parede azul e conseguiu enxergar o quadro que transparecia uma gravura de um lindo campo coberto com árvores e rochas, cortado por um riacho cuja correnteza parecia sair da tela.

E de algum modo, aquela correnteza levou Ricardo a continuar o seu percurso.