*A fábrica de bonecos

Fábrica de Bonecos

É verdade que Teresina tem umas excentricidades que em lugar algum do planeta ou, quem sabe, das galáxias poderá haver sequer parecidas. Muitas dessas ultrapassam o campo do “sei lá que diacho é isso”, bizarro é pouco.

Havia na Rua Paissandu uma pharmácia que, mudando de endereço, os donos não levaram a placa luminosa do estabelecimento. Em seguida, no mesmo local um novo inquilino se estabeleceu com uma imensa mercearia que, se não vendia de tudo, andava perto disso. Só que os novos ocupantes do imóvel não retiraram a placa da pharmácia nem tampouco os comerciais das portas e paredes. Ora, que choque isso não representava para os antigos fregueses que, não sabendo da mudança de endereço, entrava com uma receita a mão e davam de cara com todos os tipos de mercadorias. Saiam desapontados, sem explicações, pois ali a única coisa que não se vendia eram medicamento.

O pior foi que o local ficou mesmo sendo conhecido como A PHARMÁCIA e os comerciais veiculados na Rádio Difusora de Teresina chamavam a atenção pelo ineditismo: “A Pharmácia avisa aos seus clientes a amigos que recebeu um novo estoque de tricoline, linho, tropical e gêneros alimentícios como arame farpado, sabão, remos para canoas, sal, cal, gibão de couro, fumo de rolo, sapatos...”

Já no Bairro Piçarra (Os gaúchos não nos levem a mal), havia um posto de lavagem de veículos conhecido como POSTO ELEFANTINHO. Era muito concorrido, mas devido a ação do tempo e mais por falta de manutenção, um dia caíram as duas primeiras letras do seu nome, ficando apenas: STO ELEFANTINHO. Claro que ninguém conhecia a origem, nem a canonização de tal santo, mas que ele existia, existia sim.

Faruk e Aixa era um casal de carcamanos -turcos- que vieram para Teresina ainda pequenos com seus pais. Aprenderam a falar português, mas nunca perderam o sotaque carregado de sua terra natal. Casaram-se por conveniência, embora também se amassem. Passaram a viver no bairro Vermelha, numa casa encravada no final do terreno. Na frende da casa, tinha um imenso galpão, onde Faruk havia montado seu pequeno atelier, nos fundos, para fazer artesanatos de gesso. Eram águias, garças, deusas gregas e anões de jardins.

Mas devido a expansão imobiliária. seus negócios começaram a despencar. Os terrenos, antes muito grandes, agora estavam reduzidos a pequenas áreas, E sem espaços para jardins, como ele iria vender suas peças? Estava numa sinuca de bico. Para sobreviver, teria que vender sua casa e mudar-se para um imóvel menor, na periferia.

Foi quando lhe apareceu a ideia de fazer um empréstimo e montar uma fábrica de bonecos de plástico. Pensou bem e melhor o fez. Com o dinheiro comprou um pequeno maquinário e insumos e montou a fábrica na parte da frente do galpão. Já os fundos, ele resolveu alugar, a fim de ganhar um dinheirinho extra. Prontamente, ele colocou uma placa, anunciando o aluguel do imóvel, onde se lia: AIXA ALUGA OS FUNDOS.

Isso só serviu para aumentar ainda mais as esquesitices da cidade.

Um dia, quando apareceu um suposto inquilino interessado no imóvel, perguntando por que dona Aixa não alugava a frente. A resposta veio surpreendente e irrefutável:

- E marida meu vai fazer bebê aonde? A frente de Faruk fazer bebê. Eu adora ver minha marida fazer bebê na frente.

O inquilino saiu dando risadas, deixando dona Aixa admirada, sem atinar o motivo para tantos risos.

São coisas de minha terra.