HOMOFOBIA

Eu gosto de meninos desde criança. Eu sou gay. Essa é minha verdade e tudo poderia ser mais fácil se eu não tivesse nascido em uma casa hipócrita, que esconde os “podres” para se mostrar melhor do que os outros núcleos da mesma família. Mas eu havia decidido que ninguém iria me impedir de ser o que sou, sem máscaras, sem me esconder, sem fingimentos. Eu sou gay e pronto!

Desde jovem eu decidi que seria uma pessoa diplomada e que ganharia honestamente o meu dinheiro. Minha família adora dinheiro. Nascemos pobres, mas eles vivem de aparência e, por mais risível que pareça, custeados por um parente gay. Ele me dá pena, pois nunca se assumiu, nunca viveu. Isso sempre me irritou e eu decidi que comigo não seria assim. Meu pai é homofóbico assumido, mas se deixava sustentar e a nós, seus filhos, por esse parente. Quanto oportunismo!

Dediquei minha vida a estudar e buscar minha diplomação e independência. Durante um tempo, mesmo sabendo que mulher não era algo que me interessasse, eu namorei o que comumente denominam “dragão”. Uma mulher muito feia mesmo! Mas meus parentes estavam satisfeitos: ele é homem. Homem eu sou, mas gosto de homens. Eu sou gay!

Claro que esse namoro não durou, ao contrário de outro gay da família que se casou para não criar problemas, para não enfrentar críticas e preconceito ou, pior ainda, repressão. Minha família é repressora. Repressora, hipócrita e falsa. Através dessa namorada eles descobriram (ou já sabiam?) que eu era gay, mas fingiram não saber porque eu já estava quase chegando aonde desejava: à profissão bem remunerada. E como adoram dinheiro ...

Me formei e comecei a ter um alto salário. E fazia questão de gastar com eles. Vocês precisavam ver o sorriso daquele bando de sanguessugas ao gastarem largamente o que eu lhes dava.

Mas havia uma parte mais distante de minha família, que eram pessoas mais esclarecidas, cultas e liberais, que não viam problema algum em ver seus filhos conviverem harmonicamente com gays e lésbicas, mesmo sendo heterossexuais. Certa vez eu estava conversando com uma dessas pessoas e me foi dito: os melhores amigos de meus filhos são gays. Dormem no mesmo quarto, viajam juntos, são muito bem recebidos em nossa casa. Não vejo nenhum problema em relação a isso. O que me incomoda é a repressão que muitos gays sofrem, sendo impedidos de serem como são. A sociedade me enoja.

Ao ouvir essas coisas eu decidi que já estava na hora de eu me mostrar como sou. Afinal, apesar de saber que minha família esconderia dos demais, o meu dinheiro era mais importante. E assim foi. Não me importa se estão insatisfeitos por terem que fazer malabarismos para ocultar minha sexualidade. Aliás, minha homossexualidade. Eu tenho um relacionamento estável e não me importo de exibi-lo ao mundo.

Dizem que os homofóbicos são gays enrustidos. Eu acredito nisso. E vejo o meu pai dessa forma. Para mim ele é um invejoso porque não teve condições de assumir sua condição de homossexual. E morro de rir ao olhar naquela cara nojenta e ver o riso fácil que o meu dinheiro causa, mas me pergunto: será que ele o usa para pagar garotos de programa?

Sim, eu sou gay! E se você também é, assuma!

Campos dos Goytacazes, 16 de maio de 2015 – 14:03 horas

Emar
Enviado por Emar em 16/05/2015
Reeditado em 16/05/2015
Código do texto: T5243921
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