O Judeu e o Romano

- Senhor Meu Deus, Bendito e louvado seja o Teu Nome, Seja feita a Tua vontade em nossas vidas. Bendito seja o Deus de Abraão, Isaque e Jacó...

O guarda romano acordou e se irritou.

- Este judeu não se cansa de clamar e implorar por um deus que não o podes responder? Será que não dorme nunca?

Ele procurou as chaves e abriu a porta da cela. De costas para a porta, de joelhos estava o velho judeu, orando a seu deus. Ele sequer pareceu perceber que a porta havia sido aberta.

O guarda romano conteve um impulso de chutar-lhe as costas e por um instante ficou transtornado e curioso com a devoção daquele prisioneiro.

Ele já era guarda naquela prisão havia 10 anos, antes que aparecesse o tal nazareno. Um pregador judeu que falava sobre amor e perdão aos inimigos.

Perdão aos inimigos? Isso com certeza não tinha lugar em Roma, que esmiuçava e destruía seus inimigos com a força de sua mão poderosa. Com certeza os deuses de Roma podiam muito mais que este tal deus judeu, que ao invés de defender seu povo, os fazia perdoar os romanos e se ajoelharem diante deles. Que tipo de deus era esse que preferia ver seu povo escravo, do que lutando? Isso ele jamais entenderia.

E que tipo de prisioneiros eram aqueles que começaram a chegar depois que um tal Paulo passou a falar contra os seus próprios mestres? Eles eram presos, açoitados, crucificados, jogados nas arenas para serem devorados por leões, incendiados vivos diante de todos nas praças, e mesmo assim, não levantavam a voz contra seus assassinos.

- Perdoe-me se lhe acordei, senhor.

O romano se assustou. Era o judeu que havia terminado suas orações enquanto ele ponderava sobre deuses e escravos.

- Oh, velho, não te cansas de falar a um deus que nunca te respondes?

- Mas Ele me respondeu, meu senhor.

O romano pigarreou duvidoso.

- E o que poderia lhe dizer este deus, estando você aqui preso e condenado a fogueira? Prometeu-lhe a liberdade? poderá ele derrubar estes muros ou quebrar esta centena de espadas que te separam da liberdade?

- Oh, meu bom senhor, com certeza este Deus poderia derrubar estas paredes como fez com Jericó, ou dissipar seu exército com um sopro de Sua boca, porém, não é para isto que Ele me despertou esta noite.

O romano sorriu diante da insolência daquele velho prisioneiro. Dizer que as paredes e seus homens não seriam suficientes para manter preso um velho aleijado como ele requeria coragem. Ou loucura.

- E o que afinal, este seu deus tinha de tão importante para lhe dizer, que teve de atrapalhar inclusive o meu sono.

- Era sobre a sua esposa, meu senhor.

O romano avançou contra o judeu segurando-lhe com violência pela gola da túnica. Seu rosto quase encostado no do prisioneiro.

- O que está me dizendo, velho? Queres morrer aqui e agora?

- Não meu senhor, perdoe-me, mas eu preciso lhe avisar que sua esposa corre o risco de perder o menino que está para dar a luz.

Que tipo de trapaça era aquela, pensou o romano. Algum guarda do dia, com certeza havia contado ao prisioneiro que sua mulher aguardava uma criança. Mas quem? Ele praticamente não conhecia nenhum outro guarda. Ele preferia se manter distante daquele bando de bêbados arrogantes. O prisioneiro haveria de contar quem era o autor daquela piada desgraçada.

- Fale-me! - gritou ele - Fale-me o nome daquele que lhe mandou fazer esta brincadeira! E depois eu mesmo vou cortar sua garganta e a dele.

- Oh, meu bom senhor, ninguém mais que o próprio Deus me visitou esta noite e me disse tudo a seu respeito. Disse-me seu nome: Valérius. Disse-me que tu nasceste de uma família pobre de Roma, e que apenas depois de muito custo conseguiu entrar para o exército romano.

O romano o empurrou para longe estarrecido. Fez sinal com as mãos para que o judeu continuasse falando.

- Nosso Deus teve misericórdia de tua esposa, Valérius. Ela escondida de ti, escuta as palavras dos Apóstolos. Ela encontrou nas palavras deles o sentido da vida.

- Mentiroso! Esta acusando minha mulher de sedição?

- Não, Valérius. Muito pelo contrário, estou dizendo apenas que dependerá de você se ela continuará com vida ou morrerá junto com seu filho.

Valérius se apoiou na porta tonto pelas palavras daquele prisioneiro. Ele deveria saber que aquele velho só poderia ser um feiticeiro. Este povo, contava-se havia trazido pragas aos egípcios, e haviam destruído povos antigos. Contavam-se histórias de cidades fortificadas que haviam sido subjugadas por aquele povo. Só poderia ser isso feitiçaria.

- Que tipo de bruxaria é esta, velho?

- Escute minhas palavras, Valérius. Daqui a dois dias, sua esposa terá o menino. Mas uma fraqueza muito grande poderá matar a ela e a seu filho. Quando ela estiver sentindo dores, leve-a até a casa de um certo Simão Lázaro.

- E para que? Lá este bruxo poderá salva-la?

- Não haverá nenhuma bruxaria, Valérius. Este homem será movido pelo Espírito a orar pelo seu filho e pela sua esposa. O demônio que intenta levar a via dos dois será expulso por ele. Neste momento, sua esposa está angustiada em sonhos. Ela vê a casa de Simão Lázaro. Ela irá te guiar até lá. escute as minhas palavras, creia e sua esposa será salva.

O romano trancou as portas da cela, e vomitou. Ele queria entra lá novamente e matar aquele feiticeiro, mas temia por sua esposa. Tão logo o sol nascesse ele correria para casa e levaria a mulher para longe daquela cidade e daqueles judeus. Mesmo que tivesse de fugir da própria Roma, ois sabia que seus superiores não acreditariam no que havia acontecido.

No dia seguinte, Valérius interrogou a esposa. E ela acabou por confessar que estava sim, se reunindo com outra mulheres romanas para ouvir as palavras do Senhor Jesus, ditas por seus Apóstolos.

- Só há um senhor, mulher! E este é César!

- Está enganado, Valérius. - respondeu ela mansamente - Existe um único e poderoso Deus. E este andou entre nós, mas nós não o reconhecemos. Sobre o sonho que o velho lhe falou, é tudo verdade. esta noite sonhei com uma casa perto da muralha. Uma casa simples onde um homem colocava sobre meu ventre suas mãos e seu filho nascia com vida.

Valérius tremeu de medo. Se não cumprisse o que este velho havia dito, que tipo de feitiço mataria sua esposa e seu filho?

No dia seguinte, pela manhã, sua esposa sentiu dores. As parteiras chegaram, porém após muita discussão chegaram a conclusão de que a mulher de Valérius morreria.

Ele em desespero pegou-a no colo e saindo pelas ruas da cidade correndo feito um louco, procurava pela casa de um tal Simão Lázaro. A mulher foi lhe dizendo que direção seguir em voz baixa, que foi sumindo cada vez mais. Quando ele chegou até uma casa humilde perto da muralha, perguntou a uma mulher por Simão Lázaro. Esta o levou para dentro.

Duas crianças correram e voltaram trazendo Simão Lázaro. Este olhou para o romano e pediu que este lhe contasse o que estava acontecendo.

O romano contou tudo que havia acontecido nos últimos dois dias e com muitas lágrimas nos olhos terminou a narração desesperado.

- Mas agora não há mais tempo, judeu. Ela está morta, e meu filho também.

O judeu se aproximou de Valérius colocou a mão sobre seu ombro, e disse calmamente.

- Não temas, homem. Tudo que lhe foi dito pelo meu irmão é verdade. Eu já vos esperava e sei bem o que devo fazer.

Simão Lázaro colocou as mãos sobre o ventre da morta e orou. Por mais de um quarto de hora ele ficou ali, se dirigindo a Deus e pedindo em Nome de Jesus, que confirmasse o que Ele mesmo havia revelado em sonhos e visões o que havia de acontecer aquela mulher.

Do lado de fora, os vizinhos que viram o romano carregando a mulher entrar na casa, escutaram o choro de uma criança. Eles se abraçaram e louvaram a Deus.

Três dias depois, Valérius, sua esposa e seu filho recém-nascido assistiram sem poder fazer nada a morte do prisioneiro queimado vivo em praça pública. Junto a eles estava o irmão do prisioneiro Simão Lázaro.

No mês seguinte, Valérius foi batizado com sua mulher em um rio da região, e recebeu o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pouco tempo depois foi preso e condenado ao exílio sob a acusação de traição. Ele e sua esposa foram enviados para Cartago, e nunca mais viu seu irmãos judeus novamente.

Hoje, mais de dois mil anos depois o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo continua libertando, curando e salvando pessoas de todo o mundo.

AMÉM.

Tarciso Tertuliano Paixão
Enviado por Tarciso Tertuliano Paixão em 31/07/2015
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