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MEUS DOZE FILHOS = EC

Poucos passageiros viajavam naquela manhã. Uns liam, outros cochilavam, outros olhavam a paisagem que se descortinava lá fora enquanto o trem deslizava pelos trilhos, enorme e vagaroso.

Eu deixava meu pensamento a solta, revivendo tudo que já vivera até o momento presente com a dúvida que me assaltava  

Perdi meus pais quando era ainda criança e fui criada em um colégio de madres do qual só sai quando fui aprovada em um concurso público e lotada em uma cidade distante

Embora tivesse tido das madres toda a proteção e carinho, achava falta de uma família, pais, tios, primos, irmãos, e sonhava um dia casar-me e ter uma grande família, doze filhos!

O tempo foi passando, e meu sonho cada vez mais embalava os meus dias solitários. Já não pensava mais em uma dúzia de filhos, mas apenas três meninas, lindas como o pai, que já tinham até nomes escolhidos: Regina, Estela e Leticia., mas o pretendente a ser o lindo pai de minhas lindas filhas não apareceu.

Quando me aposentei, ainda relativamente jovem, resolvi desistir da idéia de casamento e adotar três meninas para realizar pelo menos a metade de meu sonho.

Mas, quando procurei pelo juizado de menores para inteirar-me sobre a adoção, soube que havia uma longa fila de pretendentes  de meninas recennsacidas e que os casais eram preferidos às mulheres sós, mas a própria assistente social indicou-me uma casa de caridade que abrigava crianças abandonadas ou que foram tirada dos pais por maus tratos e que as colocava em casas de família para passar um tempo em experiência para eventualmente serem adotadas.

Não era bem o que eu queria, mas resolvi ir até lá conhecer essas crianças.

A instituição era muito pobre. Recebia do Municipio uma verba insuficiente para a manutenção da casa que era completada com doações esporádicas e grande parte do trabalho era feito por voluntários.

Ofereci ajuda, comecei a passar por lá, levar presentinhos para as crianças, brincar com elas, mas não conseguia ver aquelas crianças maltratadas, sofridas como as belas meninas de meus sonhos. Alem do mais, achava desumano escolher três meninas dentre elas como se fossem animaizinhos dados para adoção.

Até que um dia chegaram seis crianças cuja mãe havia morrido e o pai desaparecido há tempos.

Eram três meninas como eu queria, mas havia ainda dois meninos e um bebê. Como eu podia levar as meninas e deixar os outros?
 
Mas, não sei dizer porque essas crianças me comoveram e eu comecei a me sentir responsável por elas.

Como a essas alturas já tinha um cargo voluntario no Abrigo, passei a cuidar de maneira especial da turminha e cada vez que alguém aparecia para adoção ficava com medo que levasse uma delas, mas não tinha coragem de levar os seis para casa.

O trem parou em uma estação e meus devaneios foram interrompidos pela algazarra de uma família que entrava,

A mãe gravida carregava uma criança de menos de um ano e puxava pela mão uma menina que devia ter uns cinco anos O pai carregava duas meninas menores, três garotos corriam a sua frente e mais atrás três mocinhas e um rapaz que não devia ter mais do que dezoito anos.
Doze filhos!

A mulher sentou-se a meu lado e os outros se acomodaram pelos outros  bancos.

Os quatro adolescentes sentaram nos últimos lugares, pegaram os celulares e não se incomodaram com nada mais.

Os três meninos corriam o tempo todo pelo corredor e ora a mãe ora o pai tinham que gritar com eles: Guilherme! Fabrício! Leonardo! Sentem! Fiquem quietos!

As meninas também queriam acompanhar os irmãos, caiam choravam e esperneavam quando eram contidas.

Todos foram várias vezes ao toalete. Qual a criança que não tem curiosidade de ver como é o banheiro do trem? Gosto não se discute, ainda mais gosto de criança.

Quando o garçom passou oferecendo sanduiche de mortadela e latinhas de coca cola, todos quiseram comprar  apesar da mãe dizer que tinha um lanche mais gostoso que trouxe de casa.

Derrubaram farelos e pingaram coca cola por todo o carro, pois por mais que os pais falassem não ficavam quietos nos bancos. Se um sentava, dois levantavam ...

Mãe! Olha o Léo! O Gui puxou meu cabelo! Mãe... Mãe ,,, Mãe,,,

E a mãe ao meu lado estava tranquila. Acalentava o bebe, dava atenção quando os outros se aproximavam, tinha sempre um sorriso, parecia não se perturbar com a confusão. Devia estar acostumada!

Eu não podia deixar de sentir inveja dela. Ela era amada, útil, tinha por que viver enquanto que eu era uma peça completamente desnecessária no jogo da vida..

Conversamos um pouco.Ela falou com carinho do bebe que ia nascer da discução dela com o marido para a escolha do nome. Ela gostaria que fosse uma menina, mas o marido preferia um menino.

Sabe como são os homens! Riso: - Machistas! Mas pensando bem ele tem razão, já temos seis meninas, que venha um menino para completar a dúzia!

Quando foi á toalete eu ofereci para segurar o bebê. Que coisa linda, doce, macio, uma criaturinha tão frágil, inocente, alguém para a gente amar com o mais puro de todos os amores.

Logo mais eles desembarcaram. Mais uma vez o tumulto, a correria, malas sacolas e mochilas sendo apanhadas, crianças puxadas, gritos, choro,  e lá se foram eles. Ainda pude observar um pouco do alarido que fizeram na plataforma da estação, mas o trem partiu e deixou para traz toda aquela alegria.

Nos dias seguintes eu procurei uma casa maior, com um grande quintal, em um bairro tranquilo e preparei tudo para acolher os seis filhos que por determinação divina tinham que vir para mim ainda que por caminhos indiretos.

Um dia, talvez ainda adote mais seis.
 
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UM POUCO DE MIM
Eu tenho seis filhos e meu marido tem tambem seis filhos. Ele é o pai de meus filhos e eu sou a mãe dos filhos dele. Quantos filhos nós temos?
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Este texto faz parte do Exercício Criativo
Meus Doze Filhos

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Maith
Enviado por Maith em 10/08/2015
Reeditado em 10/08/2015
Código do texto: T5341174
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