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MASCARAS E FANTASIAS = EC
 
  Era um sábado de carnaval e Lílian estava tristonha. Aos quinze anos já não achava graça nas matinês infantis e não tinha idade para ir às festas noturnas. Os pais não iam a bailes e com o namoradinho de dezenove anos... nem pensar...!
  Estava só em casa com o Tio Pedrinho, irmão mais velho de sua mãe, solteirão, tido por todos como meio esquisito e que morava com eles há muito tempo.
  Há alguns dias, quando foi guardar umas roupas no armário dele, Lilian viu uma caixa fechada que lhe chamou a atenção e não resistindo a curiosidade levantou a tampa e viu que continha uma fantasia de carnaval.
  Não teve coragem de mexer muito, mas ficou intrigada. Que significava aquilo? O tio um velho solteirão, sisudo, por que teria uma fantasia feminina no seu armário? Chegou a pensar que seria um presente para ela, mas achou absurda a ideia, não era de seu feitio oferecer-lhe presentes, quando queria presenteá-la, geralmente ele dava o dinheiro para que ela mesma comprasse. Ele nunca lhe daria uma fantasia de presente.
  Quando o tio saiu dizendo que ia ao barbeiro ela não resistiu à tentação de ir ver melhor a fantasia, já que ele com certeza ia demorar para voltar.
 Com ansiedade abriu a caixa e dela tirou uma bela fantasia de borboleta.
 Resolveu experimentar e quando se requebrava frente ao espelho o tio entrou no quarto.
 Assustada ela não sabia o que dizer, mas o Tio que raramente sorria, sorriu com um misto de ternura e tristeza e disse:
  —Não se assuste, princesa, vou contar a você a historia dessa fantasia. É um segredo que era só meu e agora será de nós dois.
E Lilian ouviu surpresa e emocionada a surpreendente estória do velho tio:
  — Eu tinha dezessete anos e estava apaixonado por uma garota de quatorze que segundo seus pais não tinha idade para namorar muito menos para ir a um baile de carnaval com um pivete feito eu. Mas, nós queríamos ir e resolvemos tomar uma atitude ousada. Eu roubaria dinheiro do meu pai, compraria uma bonita fantasia para ela e depois pediria o carro que ainda não tinha permissão para guiar, mas que meu velho liberava para dar só uma voltinha, pararia diante de sua casa e ela fugiria pela janela do quarto e viria encontrar-se comigo...  
  Mas, nunca soube por que ela não apareceu e eu acabei enfiando a fantasia de borboleta, colocado a máscara e indo sozinho ao baile.
Era comum homens com fantasias femininas e eu me diverti até as tantas.  Quando voltei, pensando que meus pais já estivessem dormindo, entrei pé ante pé, mas...
 Quando entrei na sala meu pai me esperava com a bronca na ponta da língua por eu ter ficado até àquela hora na rua com o carro que nem tinha habilitação para dirigir e, quando me viu fantasiado de borboleta, virou um bicho e veio por cima de mim de socos, bofetadas e até pontapés.
  Fiquei tão aturdido que só vi quando minha mãe chegou chorando e perguntando o que estava acontecendo de tão grave e então eu ouvi a acusação falsa, mas que me feriu profundamente e da qual nunca consegui me livrar:
— Seu filho é um bicha! Eu sempre desconfiei e agora tenho certeza. Ele não é meu filho! Deve ser filho de algum vagabundo que andou com você.
 Acusações, lágrimas, agressões, até hoje quando me lembro me parece que aquilo foi um pesadelo, mas infelizmente não foi.
 Eu me senti profundamente envergonhado. Meu pai não sabia que era comum homens disfarçados de mulher no carnaval e ninguém conseguia convence-lo do contrario. Nunca mais minha relação com ele foi amistosa. Eu nunca mais consegui me interessar por mulher alguma o que reforçou sua suspeita a meu respeito.
Calou-se constrangido. Não devia dizer essas coisas à sobrinha adolescente, mas Lilian nem o ouvia mais, mirava-se no espelho pensando como seria bom ir ao baile fantasiada de borboleta:
— Que pena! Uma fantasia tão linda!
— Tive uma ideia. Quer ir ao baile com ela? Eu a levo.
— Mas... será que a Mamãe deixa?
— Tem que deixar. Eu sou o irmão mais velho e ela tem que me obedecer.
E a Mamãe acabou ajeitando a velha, usada e trágica fantasia de borboleta para Lilian ir ao seu primeiro baile de carnaval com o velho tio Pedrinho.
          
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Este texto faz parte do Exercício Criativo
MASCARAS E FANTASIAS
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Maith
Enviado por Maith em 28/09/2015
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