CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO AMBIÇÃO

Os dias vão se passando e com eles a vida se esvai, não esta em nos o direito de parar ou acelerar o tempo, momentos felizes são passageiros, a Constancia dos dias fazem o equilíbrio do universo.

Os pensamentos transcendem o tempo e influenciam o modo de vida, todos seguem com objetivo ou não, escolhas são os caminhos que direcionam a própria vida, são o GPS de nossa existência, a todo o momento fazemos opções.

O magnetismo terrestre mantém os seres presos a terra, em carne e em espírito, não são só corpos que passam uma vida perambulando mas também almas que insistem em continuar uma jornada infrutífera.

O apego das pessoas as escraviza, deixam reféns de si mesmos, vícios e banalidades também se tornam caminhos.

A maquina mental do ser que vaga o liga a tudo, a mente do andarilho e chama eterna do conhecimento, os pensamentos fluem desordenados, mas refletir sobre a própria vida exige tempo.

E assim o andarilho segue, tentando coordenar e dar sentido as idéias que vão surgindo,pois o ritmo cerebral oscila em picos existenciais, o tudo e o nada se interligam em um tempo continuo.

Para que se ter tanto, que poder e esse que escraviza os seres, os bens deveriam ser para o provimento de nossa própria subsistência, e não para subjugar o próximo.

De longe o andarilho vê alguém caído, apressa o passo e mais um irmão a beira da estrada.

O andarilho se aproxima e oferece ajuda, o homem parece de meia idade, mas gasto pelo tempo ou pelas escolhas, o andarilho o leva ate a sombra de uma moita de cipó.

Da lhe um pouco de água, que o ser sorve lentamente, recuperando suas forças.

O homem esta fraco, mas lúcido, o andarilho senta ao seu lado e oferece ajuda, algum tempo depois a jornada reinicia, agora são dois peregrinos, a presença do andarilho trouxe conforto aquele homem.

O andarilho pergunta ao homem qual o objetivo de sua caminhada, ele sorri e diz ao andarilho.

Fuga de mim mesmo, fuga da realidade que eu mesmo construí, sou um covarde tenho vergonha da minha própria sombra.

O andarilho percebe profunda tristeza no homem, mas não se manifesta apenas ouve.

O homem continua.

Fui muito pobre, mas era feliz, e com muito esforço construí uma vida digna, os bens materiais se multiplicavam com muita facilidade.

E aos poucos me tornei muito rico, mas a riqueza com o passar do tempo passou a ser algo banal, pois tinha tudo, não precisava de mais nada em termos materiais.

E com o passar do tempo fui à busca do poder, queria ser bajulado, queria tapete vermelho, queria um tratamento diferenciado, sentia a necessidade de ser reconhecido em meio à multidão.

Sonhei com um mundo onde seria rei, mas nunca passei de plebeu, fiquei cego surdo, eu era o centro do meu próprio universo, fui corrompido por mim mesmo.

Esqueci que a lei divina não concede privilegio, todos somos iguais, e nos mesmos e que dividimos o mundo em classes, nos quais os critérios são falíveis os privilegiados se tornam egoístas e se tornam carrascos dos próprios irmãos.

O andarilho a tudo ouve, não precisa ser sábio para perceber a escravidão mental que aquele ser criou em torno de si, se encantando com a riqueza e com si mesmo, e perdendo o rumo de sua existência.

E assim o homem prossegue.

Cansei de ser mais um no meio da multidão, mas como isso estava me entediando comecei a traçar um plano de ascensão.

Então criei uma imagem de homem bom e preocupado com todos, e aos poucos passei a ser visto como salvador da minha comunidade.

E acabei me candidatando a vereador, achei que não ganharia, mas minha fama de homem bom já tinha passado as barreiras da minha região, acabei sendo eleito.

No inicio me sentia perdido, mas a bajulação me envaideceu antes me tratavam bem pelo que tinha depois de eleito a bajulação era por quem eu era, e assim fui mudando meu caráter.

Passei a me corromper por dinheiro, tudo que fazia tinha um interesse oculto, passei a pensar apenas em mim mesmo.

Descobri que só chegamos à paz através da guerra, me tornei mimado e tirânico, envolvia a todos na fumaça, sempre escondia meus objetivos, jamais revelava a ninguém o propósito dos meus atos.

Passei a agir assim com minha família e amigos, vivia de aparência, fazia com que todos dependessem de mim, eu seduzia a todos e depois disso eu os tratava como marionetes, o controle sobre tantas vidas me dava energia suficiente para cada vez mais ir a busca de novas conquistas.

Assim cada vez mais me afastei daqueles que eram meus amigos, dos que me elegeram, e me aproximei daqueles que eram meus pares e tinham os mesmos interesses. Todos como eu, infelizes, ambiciosos, manipuladores enganadores, passei a viver de alianças que sempre me beneficiavam.

Deixei de tomar partido, me mantive neutro, pois o mundo da política e volátil, uma simples palavra mal colocada destrói uma reputação, passei a ver tudo como um jogo.

Colocava as pessoas umas contra as outras e eu como salvador e intermediador passei a fazer o papel de bobo inocente, a posição de vitima sempre me foi favorável, pois dessa forma desequilibrava meu inimigo, e assim ninguém podia prever meu próximo passo.

Passei a ser visto como o homem perfeito, todos me queriam por perto, achavam que estavam me usando, mas era efeito contrario era eu quem usava a todos.

Ninguém conseguia me definir, passei a ser uma incógnita, meus eleitores me viam como santo, e meus inimigos me viam como um homem calculista, e dessa forma convencia a todos que era uma pessoa do bem.

Misturava-me em meio à multidão, planejava cada passo com a mínima maestria nada do que fazia era em vão, navegava em mares turbulentos em um bote salva vidas, enquanto os navios naufragavam.

Nos momentos de crise eu era o salvador, minha imagem passou a ser intocável, me tornei um lobo em pele de cordeiro, quando tudo estava muito parado eu criava situações para me manter sempre no auge.

Quando via que alguém estava em ascensão dava um jeito de desmoralizar e diminuir, os inimigos temiam a mim mais que a própria morte. Próximo a mim não tinha zona de conforto eu gerava instabilidade.

O andarilho não consegue enxergar naquele ser tanta maldade, mas o ser humano e algo imprevisível, não sabemos o que os outros pensam, pois mal conseguimos administrar nossos próprios pensamentos.

Mas aquele ser que ora agoniza continua a narrar sua própria desgraça.

Olha andarilho tudo tem um preço, e eu paguei e pago. Pela minha conduta desregrada eu perdi tudo, pois como todos se espelhavam em mim eu mesmo acabei criando os monstros que me perseguem.

Tudo se virou contra mim,a minha família os meus amigos, eles aprenderam a formula dissimulada de se viver, e ao final o jogo virou, acabei por perder tudo e me tornar um vagabundo errante.

Meus filhos foram tomados pela ambição, pois sempre tiveram todos os mimos, eram totalmente dependentes de mim, viviam na farra, eu os corrompi com minha forma doentia de viver, dei a eles tudo que nunca tive, mas quando cai em ruínas eles se afastaram de mim e se aproximaram da mãe que passou a controlar tudo.

A minha mulher passou a agir como eu agia, ela não se conformava com o que tinha, queria sempre mais, e hoje ela assumiu meu lugar, posando se de vitima das minhas vicissitudes.

As ilusões duraram enquanto a verdade não veio à tona, tinha medo da vida o fato de ficar pobre me enlouquecia,cheguei ate a pensar em suicídio.

Minha mulher influenciada pelos amigos meus e meu contador manipularam tudo e ao final me vi endividado, envolvido em problemas judiciais, minhas ações que eram de uma empresa publica despencaram na bolsa de valores.

Cheguei ao ponto de esgotamento mental, nem minhas pernas queriam me obedecer mais, tentei me fazer vitima de mim mesmo, mas já era tarde, a situação já havia se tornado irreversível.

Mas os que comigo conviviam sempre torceram pela minha ruína, e ao final todos eram como eu, miseráveis existenciais, vampiros com uma sede negra que consumia tudo a sua volta.

Eu não tinha mais nada a oferecer, pois estava pobre e desmoralizado, passei a ser perseguido pelos meus aliados, em um mundo sujo e corrupto, onde vingar não significa sangue.

Vingança no lugar de onde vim e bem mais cruel, os inimigos vibram com sua ruína, seu fracasso e combustível para o ódio, onde todos estão contra todos.

Mesmo que não sobre ninguém o interesse e o poder, sempre o poder, sua lagrima representa o sorriso de alguém, a razão esta com aquele que tem o domínio sobre os outros.

O andarilho olha para o homem e lhe diz.

Olha pobre homem, este mundo que você descreve sempre existiu, desde que mundo e mundo as coisas funcionam assim, aquele que esta do seu lado sempre quer estar no seu lugar.

A cobiça e algo que não tem fim, pois mesmo que se atinja um objetivo de destruição sempre surgira outro, a semente do mal se multiplica com adubo da inveja e da cobiça.

O próprio lúcifer quis o lugar de deus, ele preferiu ser rei do seu próprio inferno do que ser súdito da corrente do bem.

Esta lei se aplica a tudo e a todos, entre os ricos e entre os pobres, e uma guerra que devasta mundos e se estende por múltiplas dimensões.

A única defesa que temos somos nos mesmos em nosso intimo, mesmo se você se isolar seu corpo vai te pedir uma coisa e sua alma vai te pedir outra.

A nossa luta não e contra o mundo e contra nos mesmos, pois o brilho do outro só apaga sua luz se você se expor, viva em si, supere seus conflitos, não entre na competição da própria existência.

Cresça, se recrie, diminua os espaços dentro de si, confie em seus instintos, não exponha seus planos, não tente diminuir as distancias.

Use seu tempo em prol do crescimento continuo, e divida, porem ninguém da aquilo que não tem, seja equilíbrio no orbe que habita, o mundo real e seu mundo, o mundo do outro e imaginário, pois não sabemos o que os outros pensam.

Você parou nessa situação pelo fato de querer controlar os outros enquanto nunca controlou a si próprio, se você perdeu algo foi por que nunca teve se achava que era amado foi ledo engano, pois também era usado.

Sua essência ainda e a mesma, todos aqueles que tripudiaram sobre você ainda são os mesmos internamente, não se envergonhe, ao contrario se arrependa, retome sua caminhada.

O homem baixa a cabeça em sinal de arrependimento olha no fundo dos olhos do andarilho e pede que continue.

O andarilho então retoma suas palavras.

Seja senhor de si mesmo, você não precisa de elogios, as criticas lhe são mais favoráveis, pois com criticas podemos rever os próprios atos.

A evolução cósmica e algo cíclico, funciona como o amanhecer, pois a luz ao avançar no planeta faz com que as cores surjam, mas essa luz não e constante ela se vai.

E a noite volta a reinar, mas nem luz nem trevas são permanente, assim dias e noites revezam durante toda uma existência.

Não despreze a luz ou a escuridão, pois ambas são necessárias, o que aconteceu com você foi algo previsível, pois todos que agem como trevas se esquecem que não tem noite eterna.

Levante a cabeça e siga seu caminho, pois você não pode voltar a trás e fazer um novo começo, mas pode reiniciar sua jornada e fazer um novo fim com as experiências acumuladas no sofrimento existencial.

O homem percebe que o que sente e pena de si mesmo, e que se continuar em um sofrimento imposto por si mesmo perdera a chance de se reconstruir, as lagrimas lhe caem dos olhos copiosamente, mas ouvir tudo aquilo só serviu para que ele se lembrasse que a vida se renova sempre.

O andarilho olha para o ser e percebe o arrependimento verdadeiro, lhe estende a mão e diz.

Levante guerreiro, perdeste esta batalha, mas muitas outras virão, use a lembrança das cicatrizes para diminuir a dor causada aos outros, e a você mesmo, vá e vença.

O homem se levanta sentindo se bem mais seguro, e diz ao andarilho.

Estou de pé.

Vou continuar minha jornada, vou à busca do que perdi, quero apenas minha família, nunca mais me escravizarei por algo que me seja passageiro.

Os dois sorriem e seguem a jornada não tem fim, plantamos em uma existência para colher em outras, a multiplicidade de existências nos obriga a estar em movimento continuo.

E assim a estrada que parece interminável faz com que os dois seres sigam sempre em frente, com esperanças renovadas em um amanhã desconhecido, com um sorriso nos lábios e a confiança no dever cumprido.

O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.

Paulo César de Castro Gomes.

Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária superior pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)