45 Andares até a morte

O silêncio da madrugada é tão bonito, tão autêntico, tão convidativo. Enquanto as pessoas dormem, eu continuo aqui, calado, apenas escutando o silêncio.

Espero por algo que não sei o que é. Talvez seja a destruição, as dores, as mortes.

O vento bate em meu rosto, congelando-o, arrepiando-me, ameaçando me derrubar desse prédio.

45 andares. Por ter asma, provavelmente ficarei sem ar ao cair. O vento me dá impulso, como se dissesse freneticamente "vá, não tema, afinal, olha que vista linda". De fato, ver o mundo de cima sempre foi bonito. As nuvens correm rápido, logo irá chover. Pelo menos a chuva levará meu sangue. O vento continua me empurrando, e já não sinto tanta vontade assim de me segurar. Segurei-me demais para continuar a viver, e agora estou oficialmente desistindo. Chega de se segurar tanto a uma vida passageira. Deixar de viver é deixar de sentir dor, e sendo assim eu quero ir.

Levanto-me. Agora estou a um passo do vazio, do medo, da morte. O vento parece mais forte agora. Há um frio na barriga. Ansiedade, comecei a ter na adolescência. Eu era só mais um adolescente achando que a vida era fácil. Outro vento bate contra minhas costas.

E eu ganho impulso.

E eu olho pra baixo.

E eu estou caindo.

E eu digo:

— Adeus, mundo que destruiu minhas esperanças.

Leticia Moura
Enviado por Leticia Moura em 24/08/2016
Código do texto: T5738494
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