DÍLSON e EU. PARTE 14.


Recapitulando.

 
     - Trovador, há uma vila onde fica a nossa marina particular e eu tenho lá uma tia que não tem como passar e não ir cumprimentá-la, mas vou pedir para você não ir e me esperar, pois, se você aparecer lá, a gente não sai mais, é que minha tia está meio carente e se ela vê você com este jeitão, olhos azuis, e esta conversa de cerca Lourenço... Ai vai ferrar tudo! - Respondi, pode deixar mestre, vou ficar esperando sua volta numa boa.
 
SEGUE

     Entramos na vila e mestre conde Dílson encostou a picape numa rua e foi visitar a tal tia, sem o que fazer, e com saudades da viola a tirei da capa e conferi a afinação, gozado que eu não tinha reparado, no banco de trás estavam algumas aramas.

     Dois rifles shaps de caça pesada e calçam além de cartucho com chumbo grosso comportam também balas dundum quarenta e quatro mais dois colt quarenta e cinco, facões, facas e até uma azagaia tinha. Na hora pensei em não usar, mas lembrando dos leões e elefantes, achei que teria de aguentar o tranco.

     Tive que afinar a corda sol e depois comecei a dedilhar as cordas ensaiando um ponteado gostoso, pontear a viola, mesmo não sabendo muito, ficava bonito. Embalei-me e naquele instante eu não tocava para ninguém e sim para os meus ouvidos.

     Nisto ouvi alguém limpar a garganta e vi uma bola de catarro cair bem perto do meu pé e uma voz grossa dizer: - errei delegado. Outra limpada de garganta e outra bola de catarro cair quase em cima da minha bota e outra voz meio aveludada dizer: - há, também errei sargento, ao que o outro respondeu: - Estamos ruins de pontaria hoje.

     Antes que me acertassem eu resolvi olhar para quem perturbava meu momento de concentração nos acordes. Levei um susto, dois caras com quase dois metros carda, um fardado e com divisas de sargento e outro de terno com gravata e tudo, pensei... Neste calor ai, ai, ai. Quando olhei o sargento de voz grossa vociferou: Como é que é ô vagabundo, não sabe que não pode pedir esmolas na cidade? Eu abri a boca para responder e ouvi o outro de terno falar: caladinho viu menino louro, senão ele te bate.

     Pensei... Melhor ficar calado mesmo, eu hem? O fala grossa perguntou: - de onde é que o meliante veio? Claro, porque da cidade não é, senão conheceria a lei. Ai tive de responder: - Eu sou de Minas Gerais e não estou pedindo esmolas, estou apenas esperando um amigo chegar e já vamos partir.

     O fala grossa, voltou a falar: está vendo só delegado, o meliante está apenas esperando o amigo, claro que deve ser outro meliante verificando onde é mais fácil roubar nossa cidade e olhe bem delegado, este meliante aqui está sentado bem em frente do banco: - é mesmo, disse o delegado, com certeza são marginais dando o pião para explodir caixas eletrônicos... Sargento veja o que tem dentro desta picape. - Já estou abrindo delegado.

     Sou tímido, pensei em protestar, mas fiquei calado. Quando abriu já foi logo olhando e tirando do banco de trás dois rifles, dois revolveres colt quarenta e cinco, duas facas, dois facões e uma azagaia. Perguntou: - onde está a dinamite meliante? Responda por que a casa caiu. O delegado falou: Está preso em nome da lei, algeme o marginal sargento, vai ter muito que explicar na delegacia. Choraminguei:- Autoridades, estas coisas não são minhas são do mestre Conde Dílson, pra que eu fui falar.

Tá depois conto mais. Prometo.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 16/03/2017
Reeditado em 16/03/2017
Código do texto: T5942931
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