DÍLSON E EU, PARTE 22.



RECAPITULANDO

 
          Descemos da picape e o mestre Conde Dílson disse: - vamos tomar um café Trovador, depois pegar o isopor com comidas e frutas típicas da ilha e que venha os peixes. Animei-me e o acompanhei, quando passei perto da pretinha ela meteu o dente no meu ombro, só foi um mordidinha rápida, mas doeu e eu falei para o mestre, ele riu e me disse que era um casal de canibais domesticados e que ela só estava brincando, não acreditei muito, mas o mestre falou tá falado.

SEGUE
     Tomamos café reforçado, enquanto isto os camaradas da fazenda colocaram coisas no freezer da picape e mais um isopor com tantas frutas que pesou à picape. As meninas que nos serviam, eram de tirar o fôlego, até a canibalzinha não era de se jogar fora, mas era só eu me descuidar e ela vinha com aqueles dentinhos pontiagudos para o meu lado, deu uma mordida na minha orelha e quando levei a mão para tirá-la da minha orelha ela mordeu no meu dedo, saiu até sangue, mas o mestre estava rindo na firme convicção de que era brincadeira, fiquei calado. Fazer o que?

     Ainda bem que saímos logo da fazenda e entramos no brinquedinho do mestre Conde Dílson e lá vamos nós pela mata adentro de novo. Na entrada da mata já pulei no colo de Deus e apelando para todos os santos disponíveis. Na trilha vimos muitos animais de grande porte, de repente ele parou e ficou olhando uma enorme cobra, a grossura dela era maior do que o meu tronco que ultimamente anda meio fora das medidas para mais.

     O ouvi dizer: - Trovador esta é uma “sucupiton”, meu bisavô quando trouxe um píton grávida para a ilha, ela criou mais de cinquenta filhotes e as crias cruzaram com as sucuris formando esta nova espécie. Que beleza, viva a natureza. Eu respondi com um viva, não muito à vontade. A dona cobra não queria sair da trilha o mestre me disse: - Trovador eu vou passar por cima dela, você abra o vidro e fique olhando, se ver que ela está saindo me fale e eu paro, não quero machucar o bichinho.

     Abri o vidro, “com medo, mas abri” e ele avançou, quando estava à meio da cobra, ela apareceu à cabecinha entre os pneus bem abaixo de mim, do meu lado. Fechei o vidro rápido e gritei ela saiu mestre. Ele parou na hora e ela em vez de sair, se enroscou dando um abraço apertado na caminhonete. Senti-me como se apertado num *pitipi*, “uma máquina para espremer massa de mandioca e fazer farinha”.

     Mestre Dílson disse: - olhe ela quer brincar, - falei mestre, ela vai nos esmagar, E ele rindo e me gozando respondeu: - Trovador esta máquina aqui pode enrolar dez cobrinhas destas que nem arranha a pintura De repente escutamos um baque surdo e o mestre ficou consternado... Disse: - coitada se arrebentou de fazer força, abriu o vidro, único lugar para conseguir sair dali, fiz o mesmo do meu lado, ele muito esperto saiu rápido eu mais velho e perna atrapalhada tive de ser ajudado por ele que me puxou com carinho.

     Saí voando pela janela e caí a uns três metros de distância e já me levantei como se ainda tivesse quinze anos tal à ligeireza e parti numa corrida. O mestre gritou, volte aqui Trovador tem mais cobras ai e podem estar com fome. Voltei na mesma velocidade e fiquei a uns dez metros da caminhonete que agora parecia aquele nó de forca que eles dão na corda de enforcar.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 23/03/2017
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