O Silencio (Melhor Do Que Nada)

Eric do Vale

Não poderia deixar de perguntar pelo irmão dela, assim que nos vimos, pois esse tinha sido meu amigo de infância.

-Ele está muito bem. _ Disse ela.

- E o que ele está fazendo da vida?

- Trabalha em uma xácara como caseiro. Ele é muito inteligente, tem uma bela caligrafia!

Não entendi o porquê dela ter me dito aquilo. Eu devia ter uns dez ou onze anos de idade, quando ela me viu escrevendo alguma coisa e disse:

- Sua letra continua igual.

Aquela resposta soou como um soco no estômago. Todo mundo me dizia que a minha letra não era bonita, inclusive ela. Mesmo assim, não deixava aquilo me abater e por isso, procurava aperfeiçoá-la sempre. Seria pura desonestidade de minha parte dizer que não fiquei chateado, quando ouvi aquele comentário

Somente agora, depois de ter alcançado a maturidade, percebi o quanto supervalorizei tal episódio, assim como entendi que ela não falou aquilo por mal. Mas, a maneira como expressou o seu ponto de vista...

Os elogios tecidos por ela a respeito da bela caligrafia do irmão possibilitaram-me pensar no seguinte: “Posso não ter uma boa caligrafia, mas possuo curso universitário e já tenho uma posição definida, ao contrário de você e do seu irmão.”. Aquelas palavras estavam atravessadas na minha garganta e não tinha nada a perder, caso lhe dissesse aquilo. Mas, recuei. Por quê? Foi melhor assim.