O NATAL DE MILA

Mila tinha apenas sete anos. De uma família muito rica e tradicional. Seu pai Henrique era um empresário, dono de uma grandiosa rede de supermercados e da maior empresa da cidade. Sua mãe Celine era uma psicóloga muito respeitada. Moravam numa mansão no ponto mais nobre da cidade. Tinha tantos quartos que Mila ainda não conseguira contar, sempre perdia a conta.

Porém, mesmo rodeada de riquezas e luxo, a menina se preocupava com os mais pobres e necessitados. Não foram raras às vezes em que pediu para seu pai dar dinheiro aos pedintes nos semáforos. Quando jantavam fora, já era de praxe seus pais levarem um saco de lanches para os mendigos da praça, que dormiam embaixo dos bancos. E os cobertores e os mini colchões que eles usavam, foi seu pai também que comprara, a pedido da filha. “Mamãe eu tenho pena da gente de rua”. Dizia.

Sim, Mila era rodeada de luxo. Sua boneca que falava e andava ganhou de presente quando passaram as férias em Paris. Sua mãe andava repleta de joias. Seu pai, que embora sempre estivesse correndo, saia de casa cedo, retornava já à noite. Tinha tudo o que um homem podia querer e sonhar para si mesmo e sua família. Na garagem tinham cinco carros importados. Porém, por mais absurdo que fosse os pedidos de sua filha, ele sempre a atendia. Mas não eram pedidos caros, nem supérfluos. Ela pedia coisas não para si, mas sim para a “gente de rua” como ela mesma dizia. Ah, aqueles olhos amendoados e castanhos, profundamente brilhantes, faziam com que o coração dele derretesse-se tal como manteiga ao sol num dia de verão. Desta forma, ele sempre atendia seus pedidos. Como dizer não para Mila? Impossível...

O jardim que rodeava a mansão era de um colorido sem fim. Ela sempre dizia à Maria, a empregada da casa, que ali no seu jardim moravam todas as cores do mundo e também todos os perfumes. Corria feliz perseguindo uma abelha que indiferente a tudo isso, procurava pólens para fazer o mel. Encostava o nariz dentro das flores e aspirava fortemente, tentando trazer para dentro de si, toda aquela essência e doçura. Incrível como ela encontrava a felicidade em coisas tão simples.

Um dia Maria leu para ela o trecho de uma poesia: “São nas coisas mais simples, que moram as coisas mais belas...” Aquele poeta tinha razão. Mila também, quando sorvia o perfume das madressilvas, orquídeas, violetas, rosas e as flores de todas as cores. Mila era simplesmente adorável. Um anjo em face de uma menina.

E desta forma, os dias passaram... Finalmente estava chegando o Natal. O melhor dia do ano. A família escolheu a árvore de Natal, a maior e mais bela que estava à venda. E quando montavam aquela árvore grandiosa em sua grande sala toda em mármore, rodeada de quadros caros, estátuas e até uma mini fonte que centralizava toda aquela obra de arte, indiferente a tudo isso, a menina só tinha olhos para a árvore e segurava bolinhas de cristal e um mini Papai Noel que estava prestes a pendura-lo nela. Foi quando seu pai perguntou a ela:

- Então, o que o meu benzinho quer ganhar de presente de Natal?

Mila parou um pouco o que estava fazendo, segurando uma bola de cristal multicolorida e de olhos fixos naquele mini Papai Noel. Sabia, podia pedir o que quisesse e seu pai atenderia. Prendeu por alguns segundos sua respiração: Annabelle sua prima, havia pedido um pônei. Cíntia a amiguinha de escolinha, aliás, a mais cara da cidade, pediu um piano. Renata outra amiguinha pediu uma viagem à Disney e Paulinho o filho do dono do maior restaurante da cidade pediu uma piscina no jardim.

E por alguns segundos ficou refletindo... Então, respirou fundo, olhou para seu pai com aqueles já conhecidos olhos amendoados e pedintes e disse:

- Papai, tudo o que eu queria neste Natal, o melhor presente era ver a gente de rua feliz. Queria ver eles com presentes, roupas, comida. Queria que Papai Noel fizesse isso. Levasse um pouco da alegria do natal para eles...

E teus olhos amendoados estavam tristes. Seus pais não puderam conter a emoção. Ela podia ter o que quisesse para si, porém, ela escolheu que seria feliz se visse os moradores de rua passando um Natal feliz...

Seu pai não conseguia dizer nada, sorria por dentro por ter uma filha tão maravilhosa. Um presente de Deus. Um anjo. E foi sua mãe que disse:

- Amor pede pro papai do céu, quando for rezar quando se deitar. Dizem que ele ouve as crianças de bom coração e pode ser que ele atenda você.

E assim a menina fez: Ajoelhada ao lado de sua cama por sobre o carpete felpudo e fofo que mais lembrava lãs de ovelhas a calçar teu quarto lindo e grande, que mais parecia um sonho de fantasia, a menina indiferente a este luxo todo, apenas cerrou teus olhos e pediu à Deus:

- Meu papai do céu vou te fazer meu pedido de Natal. Eu quero que o Senhor mande o Papai Noel no dia de Natal levar presentes, roupas e comida para a gente de rua. Eles precisam tanto. Eu não quero nada pra mim, não precisa. Ao invés de dar pra mim, que já tenho tanto, dê a eles que nada têm. Amém!

E deitou sua cabecinha em seu travesseiro de pena de ganso, repousou o corpo em seu colchão de agua pré-aquecida automaticamente e disse olhando para o teto: Vê meu Deus? Tenho muito mais que preciso...

Enfim... Chegou o tão esperado dia de Natal. À noite celebraram com uma ceia e ela ficou muito feliz que a Maria aceitou seu convite e levou sua família humilde e alegre. Brincou muito com Aninha, a filha da empregada. Aliás, ela nunca gostou que chamassem Maria de empregada, ela dizia: “A amiga da casa.”

Acordou ainda cedo, na expectativa de ver seu sonho realizado. Perguntou pelo seu pai. Sua mãe dissera que saiu ainda antes do sol nascer para resolver uns problemas na fábrica.

- Mamãe, será que Deus ouviu meu pedido?

- Talvez, minha filha, quem sabe? Mas nem nós saberemos se não formos lá ver não é mesmo?

Mila sorriu e correu para trocar-se de roupa. Já dentro do carro, extasiada ela via vários moradores de rua ou, a gente de rua como dizia, sorrindo. Eles estavam felizes aquele dia, e não simplesmente porque era Natal. Seguravam sacos de presente. Alguns mostravam aos outros o par de tênis novo nos pés. Outros vestiam roupas novas. Outros ainda bebiam refrigerantes e comiam felizes, a mostrar os dentes e inclusive alguns deles, dente nenhum. Tinha um que parecia um vampiro. A mãe sorriu e foi repreendida pela menina: - Mamãe não ria da desgraça dos outros!

Mas então ela o viu: Era o Papai Noel, estava na praça que rodeava a igreja, a qual sempre ia aos domingos. Ele curvado, carregava nas costas um saco transbordando de presentes, parecia pesado. Sendo rodeado pelos pobres mendigos que hilariantes, custavam acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Havia um brilho de felicidade naqueles olhos tão sofridos que até então estava apagado. Aquele Natal lhes trouxe alegria e certamente seria um dia inesquecível em suas vidas.

Ela pediu para a mãe parar o carro e saiu correndo pela praça. Pediu um abraço.

- Obrigada Papai Noel. Deus te mandou para realizar meu sonho e fazer a gente de rua feliz! Este é o melhor Natal que já conheci em toda minha vida. E o melhor presente que já ganhei.

Ela disse com os olhos marejados. Estava muito feliz. Quando teus olhos encontraram tão de perto os olhos daquele Papai Noel, teve a estranha sensação que já conhecera aquele olhar. Mas sem nada dizer, apenas deixou as lágrimas escorrerem a molhar o chão. Eram lágrimas de felicidade e emoção.

Despediu-se dele e também dos moradores de rua, deu um abraço em cada um deles, desejando-lhes um feliz Natal. Em casa, após um tempo, seu pai chegara. Parecia cansado. Sua mão nas costas acusava dor na coluna. Já era quase na hora do almoço, o peru e pernil que a Maria estava preparando cheirava deliciosamente.

- Olá minha querida, desculpa o pai estava resolvendo umas coisas na empresa. E ai eu passei de carro perto da praça e vi os mendigos felizes, o que será que aconteceu?

Mila sorriu:

- Sim papai, é verdade. Fui com a mamãe e vi também. Até dei um abraço no Papai Noel. Deus realizou meu desejo.

- Você está feliz minha querida garotinha?

- Sim papai... Noel!

E os três choraram juntos se abraçando, ou melhor, os quatro, pois Maria vendo aquela cena tão emotiva não se conteve e foi chorar junto. E desta forma, entenderam que o presente mais caro do mundo, o presente mais valioso e o bem mais precioso, não há dinheiro que compre. Este presente mora dentro de um coração, mesmo que seja tão pequenino quanto o coração de Mila, porém, tão cheio de valor.

Este presente chama-se amor.

Poeta imaginário
Enviado por Poeta imaginário em 22/10/2017
Reeditado em 29/10/2017
Código do texto: T6149460
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