Contos Femininos - Sogra Madrasta

Sogra Madrasta

Hetebasile Sevla - 2008

Sou a única irmã,de cinco irmãos,mais velhos que eu.Todos casados,com mulheres maravilhosas, porém sofredoras, pois,embora todos sejam excelente esposos e pais... No entanto, o sofrimento delas, não vem ao caso agora.

Escrevo pensando em mim.

Casei-me também. Isto depois de muitas dificuldades. Desde o princípio minha sogra fora contra nossa união. E demonstrou isto de várias formas.

A primeira que me aprontou, foi dizer que ele era pai solteiro, displicente claro. Não acreditei, mas ela mostrou-me fotos e até cartas de amor antigas. Ri-me muito da situação. Logo depois contou-me que ele era soropositivo, mostrou-me até exames específicos, mas já tínhamos feito os exames pré – núpciais e tínhamos os resultados em mão. Me diverti muito de novo. Afinal, ela era enfermeira aposentada...

De outra feita a Beth Davis resolveu forjar um encontro entre um ex-namorado e eu. Outra catástrofe em seus planos maquiavélicos, já que o rapaz informara antes meu noivo dos desígnios da megera.

Nova diversão.

Isto para mim, claro. De nenhumas destas ‘brincadeiras’ Bruno sorriu. Ficava indignado com as artimanhas de sua mãe.

O que revoltou de fato nossas famílias foi o que a Lucrecia Borges aprontou em nossa lua de mel.

Viajamos uma semana depois de casados, atrasados por um infarto sofrido pela Senhora do Destino na recepção, durante o brinde. Um espetáculo à parte. Digno de um Oscar. Internação, recomendação de repouso e tudo o mais que a velha tinha direito.

Voamos para Gramado, deixando a Sucuri aos cuidados das filhas.

Hotel lotado, embora houvéssemos reservado apartamento antes, teve alguma confusão, que não entendemos direito ao chegar, fomos dormir exaustos.

De manhã, logo cedo somos despertados pela jararaca, que sorrindo adentra a suíte, vinda do quarto ao lado, que julgávamos ocupado por outro hóspede. Um absurdo. Abrindo as cortinas do quarto a tagarelar, indiferente às nossas poucas roupas e cansaço.

Desta vez não sorri. Entrei em depressão! Procurei em minha memória um pecado gravíssimo que justificasse tamanho sofrimento. Pulei da cama revoltada, joguei minhas roupas na mala e determinei: ”Bruno, vamos embora”

Ela abriu a boca a chorar, uma chantagem absurda, segurando-o. Nem ao menos olhei para trás, saí do quarto, entrei no elevador e chorando sai pensando em anular o casamento ou envenenar a sogra.

Lá embaixo um Bruno cansado esperava-me, praticamente morto por ter decido uma porção de andares, correndo escada abaixo.

Nem conversamos. Entramos no táxi fomos para o aeroporto.

Lá, determinado a continuar nossa Lua de Mel, Bruno conseguiu trocar nossas passagens com outro casal e fomos para Florianópolis, onde passamos 15 dias maravilhosos, com os celulares desligados e sem ligar para ninguém.

De início cogitávamos em sumir do planeta, mas temos nossas profissões e carreiras em São Paulo e, minha família vale a pena.

Se esta história fosse um filme, poderia ser dividida por frases como esta: ”Enquanto isto...”

Pois é, como sumimos sem deixar rastro, a megera foi a casa de meus pais atrás do filho.

Como nossos vestígios terminavam no aeroporto de São Paulo, já que o casal que nos ajudara não substituirão os dados da passagem, a digníssima senhora acreditou que meus familiares escondiam o paradeiro do filho dela.

Foi assim que as madrastas se encontraram. Minha mãe é quase satânica como sogra. Sempre intrometeu-se nos relacionamentos de meus irmãos. Chega sem avisar. Liga a toda hora, sem necessidade alguma. Implica com o jeito das noras administrar suas casa. E defende os filhos, intrometendo-se em quaisquer que sejam as rusgas por eles enfrentadas em seus relacionamentos matrimoniais, transformando-as em brigas homéricas.

Quando minha sogra contou a última na sala da casa de minha família, minhas cunhadas acercaram-se de minha mãe, beijando-a e agradecidas.

Imagine a cena!

Aquelas noras que constantemente sofriam em suas mãos, agora agradeciam por sua bondade até.

Minha mãe ficou tocada. E a atitudes de minhas maravilhosas cunhadas acabou por mostrar à minha mãe a extensão de meu desespero.

Minha mãe soltou–se das noras e literalmente passou para o ataque. Passou das palavras para a atitude e sob os olhares de minhas família estupefata, pulou no pescoço de minha ‘dolce’ sogrinha, estapeando-a e ameaçando das Chamas do Inferno em vida se ao menos ela se aproximasse de mim outra vez.

Quinze dias depois chegamos a São Paulo. Celulares ligados, descobri que nos últimos 13 dias a preocupada senhora não deixara nenhum recado na Caixa Postal de nenhum de nossos aparelhos e nem da secretaria eletrônica.

Liguei para minha mãe avisando que estava de volta. E da sogra nada. Um dia inteiro sem sinal dela. Eu não estava nem aí, lembrando-me ainda do espetáculo patrocinado por ela no início de nossa Lua de Mel. E Bruno muito menos.

Na noite seguinte, descansados da viagem, fomos a casa de meus pais, para jantar e revr os familiares.

Quando chegamos encontrei minhas cunhadas entretidas na cozinha com minha mãe, todas sorrindo e felizes, meus irmãos jogando cartas na sala com meu pai. Quase sai de cena, pensando ter entrado na casa errada.

Afinal meus irmãos viviam protegendo suas esposas do contato com mamãe. Meus sobrinhos corriam pela casa, como se não existisse ali uma avó para brigar com eles pela bagunça na sala. Ruan, meu irmão mais velho, levantou –se para me abraçar. Mas o que quase mata Bruno e eu de susto foi ouvir minha mãe dizer, ainda da cozinha, às noras:”Filhas, sua irmã chegou”. E saírem todas felizes para nos ver, matar a saudade.

Transformadas.

Horas depois, descansando todos na varanda, Julia, esposa de Donato, meu irmão mais novo, contou – nos o motivo da transformação da minha mãe, que de sogra malvada, passara a amiga delas e que com isto conseguira a leveza que podíamos sentir palpável no ar. Bruno foi quem mais se divertiu imaginando o susto que a mãe passara com a ira de minha mãe e todo o restante da família a tentar com desespero, retirar minha mãe de cima dela.

Ao final da noite, quando chegamos em casa, felizes ainda, nossa paz se mostrava ameaçada pela luz vermelha da secretaria eletrônica, que piscava absoluta na sala. Estávamos certo que era a mãe dele. Bruno pediu que eu só pegasse o recado pela manha, mas não achei justo, afinal passara a tarde com minha família e era justo ao menos ouvir seu recado.

Murmurando que me arrependeria, beijou-me e jogou-se no sofá, deixando para mim a decisão de ouvir o recado ou não.

Apertei o botão. Qual não foi minha surpresa, quando, com uma voz excitante, porém facilmente reconhecível, ouvi a sanguessuga dizer ”Carmem, minha querida, me perdoe de verdade. Sua mãe ligou avisando que você chegaram ontem. Quando consegui, me ligue, para que possamos começar de novo. Caso não queira, entenderei. Sei que fará meu filho feliz. Boa sorte” E o estalido do telefone sendo posto de forma delicada no gancho.

Seria o fim da sogra madrasta?

Foi sim. Dona Maria hoje praticamente marca hora para ver os dói netos que a adoram e que já quebraram metade das porcelanas de sua cristaleira, com boladas e mais boladas em seus jogos intermináveis , que acontecem até dentro de casa, sob sua fiel supervisão.

Isto por que ela e minha mãe dividem a tarefa de cuidar deles, quando estamos trabalhando, é uma verdadeira Marin Poppins.

Ficaram para trás os dias de Beth Davis, na verdade reina a paz na casa de Poliana.

Hetebasile Sevla

Elisabeth Lorena Alves
Enviado por Elisabeth Lorena Alves em 04/08/2009
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T1735806
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