Fazendo Evangelion

"Fly me to the moon/Let me play among the stars ...". Sakura penteava seus cabelos curtos, cor azul de metileno (despenteando na verdade) quando nota nota a raiz preta, já estava na hora de tingir novamente. Akira abotoava sua camisa branca, treinando o olhar de menino abandonado, também diante do espelho. Rebeca gritava ensandecida com um colega imaginário, olhando para uma parede branca. Miho espremia-se dentro de um top roxo, em uma disputa pessoal, se abaixava a saia, seus seios ficavam quase à mostra, se ela cobria a parte de cima, sua calcinha ficava vizível. Moka fazia uma pinta em baixo de seu olho com lápis de maquiagem. Rogério acariciava sua barba enquanto vestia a jaqueta preta com símbolo da NERV por sobre a blusa vermelha. Toshiro fazia o rabo de cavalo, seguido pelo nó na gravata, frouxo por sobre o colarinho desbotoado.

Os sete amigos estavam quase prontos: Sakura coloca suas lentes de contato vermelhas, Akira desliga a televisão e pega um mangá de Evangelion para ler no caminho, Rebeca desliga o alarme do carro enquanto Miho enfrentava o metro lotado de Tóquio, assim como as mãos bobas dos executivos japoneses, Moka atravessava a cidade a passos largos atraíndo atenção para seus cabelos loiros e jaleco branco, Toshiro ziguezagueava a multidão temendo chegar atrasado. Rogério estava no local do encontro, a área de lazer de seu prédio, ele olhava para o céu azul do inverno torcendo para que não nevasse. Sakura fecha a porta de seu apartmento.

Miho é a ultima que chega no lugar marcado, ainda brigando com seu top. Seus amigos aplaudem a garota, por finalmente ter se juntado a eles, Toshiro sobe em um banco de pedra assobiando.

- Gostosa!

- O Kaji nunca falou gostosa - gritava Miho envergonhada.

- Ela tem razão - interrompe Rogério - temos que começar a pensar como as personagens, a apresentação está chegando.

- Qual é, senhor diretor - Rebeca gritava de maneira superior - fazemos esta apresentação todo o ano, durante os quatro anos de faculdade. Por que agora seria diferente?

- "Lebeca" tem razão - conclui Sakura com sotaque japonês - nós conhecemos Evangelion de trás para frente.

- É Rebeca, em quatro anos você não aprendeu o meu nome. Rrrrrrrrrebeca.

- Lllllllllebeca.

- Chega - Rogério interrompe as duas amigas - temos muito trabalho pela frente.

- Ouça o "logélio". "Lebeca".

- "Você faz tudo o que te mandam fazer, você é uma boneca"!

Rebeca suspira, enquanto todos aplaudem sua interpretação de Asuka, a garota olha para Sakura, como se a tivesse desafiando. A garota de cabelo azul não deicha por menos.

- Vejo que você sabe o texto, "Lebeca".

- Pare com isto.

- "Lebeca" - sussurra Sakura.

- Chega de palhaçada - grita Miho - eu não atravessei a cidade de metrô, neste vestido "atrai tarado" só para ver a Rei e a Asuka brigarem. mesmo por que a Rei não fica provocando ninguém.

- Toma - Rebeca cutuca Sakura.

- Isto por que a Rei sabe que ela é muito melhor do que a Asuka.

- Como assim "muito melhor"?

- A Rei salvou a vida da Asuka e você tem que conviver com este fato "Lebeca".

- Chega - Rogério interrompe mais uma vez - eu vou ter que colocar as duas de castigo, não me obriguem a separa-las meninas. Miho tem razão, temos muita coisa para combinar hoje e depois vamos comprar alguns toys.

Todos aplaudem Rogério, que agradesce como político em eleição. Ele logo pede calma para poder expligar.

- Muito bem amigos, o leitor não deve estar entendendo nada então eu irei explicar sucintamente. Desde que entramos na universidade de Tóquio, quatro anos atrás, fundamos este grupo de fãs, viciados, apaixonados por "Neon Genesis Evangelion" desde este dia nós nos apresentamos em eventos de Anime interpretando trechos do anime e do mangá.

- Muito bem resumido, senhor diretor mas faltam algumas informações - Toshiro pede a palavra - cada um de nós representa apenas uma personagem, a Sakura e a Moka tingem seus cabelos para ficarem mais parecidas com a Rei e a Ritsuko.

- Obrigado e respondendo sua pergunta, Miho, não vamos interpretar nenhuma cena isolada neste evento - todos os demais ficam exautados, Rogério espera que eles se acalmem para continuar - neste ano vamos interpretar todo Evangelion.

- Como assim "todo Evangelion"? - Miho estava desesperada com a idéia de Rogério - como vamos fazer as batalhas, não como vamos encontrar tempo?

- Eu nos inscrevi como uma companhia de teatro amador - Rogério sorria - vamos ter uma hora de apresentação, e quanto as batalhas vamos usar o som original do anime e sugeri-las, como figura e fundo.

- Eu não sei - Akira toma a palavra - nós sempre fizemos cenas de dez minutos no máximo e agora isto.

- Você precisa ter mais confiança em si mesmo, nós amamos este anime, está na hora de pararmos de ter medo. Nós podemos fazer.

- E se as pessoas não gostarem - Rebeca estava séria - não somos atores, eu estudo matemática, você psicologia, a Moka e a Miho biologia. Ninguém aqui faz artes cênicas.

- Isto não importa, não me interessa se as pessoas vão gostar ou não, se vão nos chamar de pretenciosos ou arrogantes. A única coisa que me interessa é que eu amo Evangelion. Fora que...

- Fora que?

- Fora que este é o ultimo ano de muitos de nós na Todai, quando me formar eu volto para o Brasil, você vai para Londres, os outros vão seguir seus caminhos, pode ser que nunca mais nos vejamos.

Sakura seca uma lágrima "não quero me separar", Rebeca abraça sua amiga. Toshiro senta-se ao lado de Akira, Moka bate no ombro de Rogério, que permanece em silêncio enquanto todos assimilam o "mundo real".

- Se vamos nos despedir, eu quero uma despedida em grande escala.

Os amigos se abraçam no centro do pátio de atividades, começa a nevar, porém nenhum deles se importa, estava decidido, eles iriam fazer Evangelion.

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No dia seguinte os amigos vão para universidade, cada um assiste à aula de sua maneira. Rogério aproveitava uma aula chata para digitar o roteiro em seu Lap top, o diretor assistia cenas dos episódios e as adaptava.

Moka assistia à aula de biologia molecular, a porta perto dela abre-se e Miho entra na sala de quatro, engatinhando na direção da amiga. Com muito cuidado Miho senta-se ao lado da amigasem fazer ruído.

- Você está atrasada - comenta o professor, sem olhar para trás.

Miho encolhe-se na cadeira constrangida, enquanto sua amiga ri de sua vergonha.

- Como ele consegue saber que eu cheguei atrasada sem olhar para trás.

- Esqueça isto, mesmo por que a culpa foi sua.

- Que bela amiga você é.

- Mas Miho, você chegou atrasada, na próxima vez saia mais cedo de casa.

- Você sabe que eu moro longe.

- Todos tem problemas, mas só você chega atrasada.

- Velha rabugenta.

- Velha é a vovosinha.

- Será que as duas podem fazer silêncio - o professor volta-se furioso para as amigas - vocês estão atrapalhando.

Miho e Moka encolhem-se em suas cadeiras envergonhadas.

Depois das aulas todos recebem torpedos de Rogério confirmando o dia e local do ensaio. Rebeca vai para casa de Sakura onde a mãe desta faz a janta para as duas amigas.

- Espero que você goste - dizia a mãe de Sakura para Rebeca - não sei se você está acostumada com a comida japonesa.

- Muito obrigada senhora.

- Não precisa se preoculpar mãe - provoca Sakura - esta ai não sabe nada.

- Se eu não sei nada, por que minhas notas são melhores do que as suas?

- isto não é justo - Sakua levanta-se indignada, sua mãe ri.

Após o jantar Sakura estende um cochonete ao lado de sua cama, Rebeca procurava seu pijama, quando sorri pensando em uma maneira de provocar sua amiga.

- Não vai me espiar enquanto troco de roupa.

- Por que eu faria isto?

- Porque eu sou linda e você deve ter inveja do meu corpo, sua tábua.

- Você está muito parecida com a Asuka - sorri Sakura maliciosamente.

- Lógico que sim, a final nós duas somos as melhores.

- A Asuka ficou louca depois de fracaçar.

- Sua vaca.

- O!? esta semelhança toda é vontade de beijar o Akira? A final ele interpreta o Shinji.

- Cale a boca.

Regina corre para o banheiro onde retira sua roupa, mede os enormes seios perante o espelho, em seguida coloca seu pijama.

Longe dali, Akira vira a noite estudando, Toshiro também estava concentrado, sentado sozinho no escuro ele lia um mangá com ajuda de uma lanterna. Moka passa a noite costurando seu cosplay, enquanto Miho bebia em um bar. Rogério assistia pela centásima nona vez "the end of Evangelion".

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No dia seguinte os amigos estam reunídos na área de lazer do prédio de Rogério, menos Miho que estava atrasada.

- Muito bem - começa Rogério - depois alguém avisa a Miho, pensei em seguirmos uma cronologia igual a da série, enfatisando algumas cenas, pelo menos uma cena importante para cada personagem.

- Imagino que vamos começar pelo início? - pergunta Akira.

- Sim, com seu encontro com a Misato.

Neste momento Miho chega correndo se desculpando, ela senta-se ao lado de Toshiro que sorri de maneira sedutora (como sua personagem Kaji). Miho afasta-se.

- Ontem a noite tive uma idéia, os dubladores tiveram que entender as personagens, entrar em suas mentes, entender não apenas o por que eles são assim, mas o porque do por que.

- Como vamos fazer isto? - Assim como os demais Sakura não entendia o que estava acontecendo - Que história é esta do porque do por que?

- Quantas vezes nós discutimos sobre a mitologia de Evangelion? Quantas noites demoramos para dormir pensando em um determinado episódio? Quem de nós não perde parte do dia pensando em suas personagens favoritas? por que elas são assim? Por que Gendo ignora Shinji? Por que Misato abandonou Kaji ou por que Asuka não é mais sincera com seus amigos?

- Você tem razão - levanta-se Rebeca - nós conhecemos muito bem nossas personagens favoritas, inclusive em muitos aspectos nos parecemos. Você mesmo, Rogério, é rabugento e autoritário como o Gendo.

Todos dão risada da piada de Rebeca, que aproveita para se exibir, Rogério apoia-se na parede sorrindo satisfeito.

No resto do dia os amigos preparam o figurino, pintam o cenário, Rogério distribui os roteiros, Miho pousa para uma foto de shorts e top exibindo seu decote, imitando a foto que Misato dera para Shinji, em seguida Miho escreve "preste atenção nestes volumes" com uma seta apontando seus seios.

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Os dias passam, agora os amigos/atores estavam reúnidos em um salão escuro, com apenas uma luz sobre o palco improvisado. Os amigos estavam sentados em círculo na frente do palco, nenhum deles conseguia ver o rosto do outro.

- Evangelion é uma criação de Hideaki Ano - começa Sakura - No ano de 1991 o diretor entrou em depressão, a qual perdurou por três anos, em 1994 ele retornou com Evangelion, fruto de seu período negro. A narrativa surrealista, temas psicanalíticos e personagens que beiram o abismo são a sublimação da doença de Ano.

- Esqueçam a temática religiosa - complementa Rogério - o cenário de fim do mundo e até mesmo os roboôs gigantescos. O tema de Evangelion é a solidão.

- Shiji Ikari - Akira apresenta sua personagem - É o eterna conflitante, ele nunca sabe o que fazer, procurando sempre por alguém para lhe dizer como agir. Shinji quer interagir o mínimo possível com o mundo que o cerca. Com a morte de sua mãe e abandono por parte de seu pai Shinji fechou-se dentro de si. Ele tentou isolar-se do mundo na esperança de não mais sofrer, Shinji ignoravao fato de que ao isolar-se das pessoas ele sofreria cada vez mais com a solidão.

- Asuka Langley Soryu - é a vez de Rebeca explicar a dinâmica de sua personagem - está equilibrada na corda bamba, ela é a que mais facilmente poderia "pirar". Na infância Asuka foi abandonada pelo pai, enquanto sua mãe permaneceu trabalhando em seus projetos, em um acidente sua mãe perdeu sua alma, em consequencia abandonou Asuka, tentando mata-la. Enquanto crescia Asuka nunca ouviu nada de positivo de sua mãe por isto ela mesma se elogia, a garota sempre pensou ser auto-suficiente, o que à isola das outras pessoas e mantém seu isolamento. Quando ela sofreu o ataque psiquico no episódio 22 todas suas lembranças vieram a tona, inclusive quando sua mãe a trocara por uma boneca. Subtamente Asuka, a menina prodígio, tornou-se sem valor e ela entrou em estado catatônico, fechando-se em si.

- Rei Ayanami - Sakura explica sua personagem - era inicialmente um corpo vazio, sua alma fora criada por Gendo Ikari e pela Dra. Ritsuko, ela nunca teve nenhum vínculo afetivo real, nem mesmo uma relação afetiva em consequencia ela não conhece nenhum sentimento. Aos poucos ela passa a sentir algo pelo Shinji, que a garota não sabe o que é, ela começa a protege-lo, Rei nunca importou-se consigo mesma, oferecendo-se para missões suicídas. Com o despertar de seus sentimentos ela passa a ter medo da morte e medo de ser abandonada, justamente por despertar seus sentimentos e perder sua utilidade para Gendo, uni-lo com a alma de sua esposa.

- Misato Katsuragi - Miho encerra as apresentações - Sua história de vida é parecida com as histórias de Shinji e Asuka, seu pai vivia para o trabalho, o que fazia sua mãe sofrer, ele era um homem ausente que não ligava para sua família, mesmo assim ele deu sua vida para salvar Misato. Em consequencia a garota ficou muda, entrando em estado catatônico. Misato superou este estado mas continua sendo uma criança. Irresponsável, desleixada e birrenta ela está procurando seu pai nos homens de sua vida, para atraí-los Misato os seduz e transa com eles.

Cena 01: Episódio 02 "Um teto não familiar"

O trecho do anime mosta a mesa posta, o jantar era comida congelada, Shinji estava encolhido em sua cadeira, já Misato bebia serveja, gritando pela mesma estar gelada, com as pernas trançadas sobre a cadeira. "É tão bom jantar com alguém..."

Akira e Miho estavam sentados em uma mesa, na mesma posição das personagens no anime, vestindo as mesmas roupas. Miho fica um pouco incomodada já que ela vestia um micro shorts e um top que não escondia quase nada. Roger sobe no palco, os demais assistiam do chão. O diretor começa sua explicação.

- Embora estejamos no segundo episódio é aqui que as personagens Shinji e Misato são apresentados. Shinji aceita passivamente viver com Misato, já esta comenta sobre sua solidão.

- Não é só isso - interrompe Miho - Missato diz que irá tomar conta de Shinji, mas o que acontece é o contrário, será Shinji quem irá cozinhar, limpar a casa e acorda-la. Missato está procurando alguém que cuide dela.

- Shinji também - emenda Akira - só que ele não sabe como fazer isto, então ele toma conta da Misato, como se ao cuidar desta mulher mais velha ele estivesse de alguma forma garantindo a existência de uma figura materna. Shinji está pensando: se ele fizer tudo direitinho Misato não irá abandona-lo.

- Eu, ou melhor Misato, seduz o Shinji com uma promessa de um lar e de uma família, mas também com seu corpo, ela tenta seduzi-lo de todas maneiras, assim ela garante que Shinji não irá abandona-la.

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Em um raro momento de folga Miho estava largada na cadeira da faculdade, sozinha na sala de aula ela bebe cerveja, sem perceber a aproximação de Toshiro que a abraça, tentando beija-la de surpresa.

- Você não muda, se ficar bebendo muita cerveja durante o dia vai ficar barrigura.

- O que você está fazendo aqui? - Miho consegue soltar-se de Toshiro e ficar longe dele.

- Depois de tudo você me trata assim?

- Como assim "depois de tudo"? Foi apenas uma vez e nem foi tão bom assim.

- Sério? Seus gemidos diziam o contrário.

- Você pode me deixar em paz, Toshiro?

- Claro! Só me responda uma coisa: Você ainda cai da cama?

- Você não pode falar mais baixo?

- Por que? Estamos sozinhos?

- Sai daqui!!!

Toshiro foge correndo da sala vazia, no corredor ele cruza com uma estudante linda usando mini saia.

- Bonitas pernas - Toshiro segue a garota que parecia incrédula.

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Cena 02: Episódios 05 "Rei, além do seu coração" e 06 "Confronto em Tokyo-3"

Shinji abre a porta do apartamento de Rei chamando pela garota, como não ouve nenhuma resposta ele entra reparando no chão sujo, remédios e ataduras displicentemente guardados em uma caixa, uniforme sobre a cama, travesseiro sujo de sangue. O que mais chama a atenção de Shinji são os óculos em uma gaveta aberta, com o nome de seu pai escrito neles.

Rei sai do banho, nua, envolta por uma toalha Shinji fica assustado com a garota, que preoculpa-se apenas com os óculos, Shinji fica desesperado e cai sobre Rei apoiando sua mão no seio dela. Rei não se importa

Pouco depois Rei e Shinji desciam uma escada rolante no QG da Nerv a garota ia na frente. Shinji sabia que não tinha como ele piorar a situação e resolve iniciar uma conversa pedindo desculpas, Rei pergunta por que?

Shinji questiona se ela tem medo de pilotar o EVA, Rei devolve a pergunta questionando se Shinji não confia em seu pai. "Como eu posso confiar em um pai como ele" Rei vira-se para Shinji desferindo um tapa em seu rosto.

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Era noite, véspera da batalha. Shinji e Rei estavam sentados ao lado de seus EVAs esperando pelo momento certo, Shinji questiona por que Rei luta, ela responde por causa de seu "elo". Chega a hora do combate Rei despede-se dizendo para Shinji que irá protege-lo.

Akira estava de pé no palco improvisado, ao lado de uma cama Sakura surge com roupas normais, para a tristeza de Akira.

- O que foi?

- A Rei está nua nesta cena.

- Só por que você quer.

- Eu só acho que a cena tinha que ser realista.

- Eu concordo - grita Toshiro, que estava sentado na frente do palco com os demais.

- Chega de bobagens! - Rogério sobe no palco encarando Sakura, que fica constrangida.

- O que foi?

- Deveríamos fazer a cena ficar mais realista.

- Eu não vou ficar nua.

Cinco minutos depois Sakura volta ao palco trajando um roupão e sua roupa de banho, visivelmente constrangida.

- Isto era para ser um ensaio.

- Escolhi estas cenas - começa Rogério - por um motivo óbvio é neste momento que Rei e Shinji "se conhecem", mais do que isto é nesta cena que somos apresentados para Rei.

- Shinji estava tímido - Akira toma a palavra - ele estava prestando atenção em Rei já fazia algum tempo, não por causa dela, mas pela atenção que seu pai dava à ela.

- Antes desta cena existe outra onde Gendo aproxima-se de Rei, a garota conversa sorrindo e Shinji apenas observa - complementa Sakura.

- Por que ele não olha para mim? Por que ele não fala comigo? Minha personagem fica intrigado com Rei, teria sido ela minha subistituta?

- Então você vem na minha casa.

- E coloco os óculos do meu pai, colocar os óculos significa ver com os olhos dele, quero entender o meu pai, a Rei é o caminho para entende-lo.

- Mas não é só isto, você sente alguma coisa por mim.

- Sim, eu vejo sua solidão, seu apartamento reflete a maneira de como a vida te trada, sujo, depreciado, abandonado. Eu me identifico e quero me aproximar de você.

- Eu me importo apenas com o Gendo, vivo para ele, a prova disto é que eu o esbofeteio quando ouço você falar mau da única pessoa com quem mantenho-me vinculada.

- Eu quero protege-la, mas é você quem me protege, como uma mãe. A mãe morta, que você subistitui.

- A Rei é construída a partir do DNA de sua mãe Shinji, provavelmente o meu corte de cabelo é uma imposição de Gendo para que eu lembre sua esposa.

- No final do episódio eu salvo você dos destroços do EVA, em troca você me mostra um sorriso.

- Um sorriso maternal.

Todos permanecem em silêncio refletindo naquelas palavras e no que restou delas, qual sua carga emocional? Qual sua importância para a trama? Isto não é importante. O importante era que todos estavam lá naquele momento.

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Ao final do ensaio Akira estava esperando perto da saída principal, ele sorri ao ver sakura, mas logo muda de aparência quando Rogério aproxima-se dela. Os dois conversam rindo. Rogério tinha sua mão esquerda no bolso, Sakura trança as mão adiquirindo uma aparência meiga.

Akira fica desolado ao ver Sakura e Rogério indo embora juntos, ele suspira, em seguida leva um susto quando Rebeca apoia sua mão no ombro dele.

- Você continua olhando para aquela garotinha?

- "Garotinha"?... pensei que vocês fossem amigas?

- Eu sou sua amiga, Akira.

- Você passa o dia me chamando de idiota.

- Você é o meu amigo idiota.

- Obrigado pela concideração, agora vou para casa.

- Espere um pouco, eu vou provar que sou sua amiga.

Minutos depois eles estavam sentados em uma sorveteria, Rebeca tomava alegremente um Milk Shake de US$ 5.00 (Pulp Fiction) enquanto Akira chupava um picolé e contava tristemente suas moedas, fora ele quem pagara o Milk Shake.

- Éra por isto que você me convidou?

- Um cavalheiro sempre paga as contas de uma dama. Mudando de assunto até onde você foi com a Sakura.

Akira engasga com seu sorvete, que cai no chão.

- Como assim?...

- Estou falando grego? Vocês já deu "uns pegas nela"?

-Cla... claro que não, eu nem disse que gostava dela.

- Você tem isso. Como você pode saber se gosta dela, ou pior se você criar coragem falar que gosta dela e ai quando se beijarem for uma merda?

- Você fala muito palavrão.

- Foda-se o que você acha.

- Aqui no Japão as coisas são diferentes.

- Se você diz, em todo caso você e a Sakura não tem nada?

- Ela passa o tempo todo com o Rogério.

Rebeca bebe mais um pouco de seu Milk Shake, como se estivesse pensando em alguma coisa, já Akira separava o dinheiro da condução, caso Rebeca quisesse mais alguma coisa.

- Então Akira... quer me beijar.

O garoto quase cai da cadeira com o susto, Rebeca olhava para ele com olhos sedutores.

- O que foi agora?

- Por que? Você pagou meu Milk Shake, uma dama sempre honrra suas dívidas - Rebeca inclina-se sobre Akira expondo seu decote para ele - o que foi? Está com medo de gostar e esquecer da Sakura?

- Tu... tudo bem, não tenho medo de você.

- Humm... a é? - Rebeca estava descrente - feche os olhos.

Akira obedesce, Rebeca deita-se sobre a mesa, fica corada, e finalmente beija Akira, para a surpresa das atendentes da sorveteria, Rebeca volta para seu lugar e bebe o resto do Milk Shake.

Akira estava paralisado, ele toca seus labios, podendo ainda sentir o calor do beijo de Rebeca. O garoto é trasido de volta á realidade por Rebeca que chacoalhava o copo vazio na frente dela.

- Acabou, quero outro.

- Como assim outro? Eu não tenho dinheiro.

- Não quero saber, se vira.

- Como assim se vira?

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Cena 03: Episódio 09: "dancem como se quisessem vancer"

Shinji e Asuka abrem a porta do apartamento de Misato, ambos falavam em sincronismo. Os dois explicam que estão seguindo ordens para dormir, comer e falar ao mesmo tempo, para assim entrarem em sincronia.

Pouco depois Shinji e Asuka iniciam uma dança supervisionada por Misato. Asuka adianta-se em seus passos culpando Shinji pelo erro "por que eu tenho que abaixar o meu nível?". Misato manda que Rei dance ao lado de Shinji, ambos combinam perfeitamente e Asuka foge furiosa.

Akira e Rebeca usavam colant preto com camiseta cor-de-rosa estampada com notas musicais, ele estava mais envergonhado Rebeca por sua vez exibia sua silheta. Rogério bate palmas chamando à atenção de seu elenco.

- Muito bem, todos nós conhecemos a Asuka quando ela e Shinji derrotam um anjo no porta aviões, mas é neste episódio que vamos realmente conhece-la, tanto Asuka quanto shinji falham em derrotar um anjo, Misato os coloca em um treinamento especial e um tanto estranho, para dizer o mínimo.

- Durante o episódio - começa Rebeca - percebemos que Asuka não aceita ficar em segundo lugar, não por querer ser uma vencedora mas para não ser uma perdedora.

- Sim, existe uma grande diferença.

- Mais para frenta, sabemos do meu passado, isto é, da Asuka. Sua mãe psicotisou, adotando uma boneca como filha e a abandonando, seu pai também havia abandonado ambas. Fica nítido o pensamento de Asuka "mamãe se matou por minha culpa, eu não fui a filha que deveria ter sido". Agora ela quer provar que é melhor do que todos.

- Por outro lado, minha personagem o Shinji, é obrigado a ficar com Asuka que o esnoba, mas também se aproxima dele. Ela é a primeira mulher que de fato fala com ele como mulher.

- Asuka vive uma mentira, ela criou uma máscara com a qual convive com o mundo, nesta representação ela é a aluna perfeita, namorada ideal e amiga para qualquer situação. Na cena em que ela recebe as casrtas de amor fica claro esta duplicidade Asuka fica contente em ser admirada, mas em seguida pisa sobre as castas pois sabe que não são para ela, mas para sua mascara de aluna ideal.

- Ao meu lado ela não precisa fingir, Asuka me bate, me xinga e grita comigo, quer dizer com Shinji, e o garoto à aceita, Shinji faz de tudo para não ser abandonado e ser maltratado é melhor do que ser ignorado.

- Então minha personagem - diz Miho - pede para Asuka trocar de lugar com Rei e esta dança melhor do que a Asuka. Eu repito o que a mãe de Asuka fez ao substitui-la por uma boneca.

- Quando sou substituída me recordo que não fui boa filha, que minha mãe preferiu alguem melhor e fujo. O mesmo acontece mais para o final da série, minha máscara que tanto odeio cai, sem ela eu não sou nada, sou subistituída como piloto, não resta mais nada a não ser morrer. Então Asuka entra em estado catatônico.

- Você decide morrer, interrompe Rogério, então seu corpo para de funcionar e começa uma deteriorização, podemos pensar que Asuka encontrou nos braços da morte o carinho que procurava de sua mãe e posteriormente em Misato, Kaji e Shinji.

- Neste ângulo minha personagem é importante - Toshiro sobe no palco - Asuka se diz apaixonada por min, quando na verdade eu sou alguém que cuida dela. podemos dizer que o Kaji é tudo o que ela tem, lógico que Asuka não vê assim e tenta conquista-lo.

- Eu sei, digo Asuka sabe, que o Kaji é mulherendo e a melhor forma de ficar perto dele é sendo mulher e não menina.

- Mas kaji ainda está enfeitiçado pela misato - Toshiro tenta abraçar Miho que foge dele - minha regeição pela Asuka e aproximação da Misato gera em Asuka outra sensação de troca.

- Por que a Misato é melhor do que eu? - Rebeca senta-se no chão.

- Quando Shinji a supera - diz Akira - Asuka entra em queda livre, de certa forma Shinji era um porto seguro, alguém que sempre estaria abaixo dela.

- Por que o Shinji é melhor do que eu?

- Quando o Gendo envia a Asuka para salvar minha personagem, Rei, Asuka se pergunta se ela é sem tão valor, por que no episódio anterior Asuka esteve em perigo e ninguém foi salva-la.

- Por que todo mundo é melhor do que eu?

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Em um local escuro, no limiar entre a realidade e a fantasia uma luz acende sobre Akira/Shinji, este observa Rogério/Gendo.

- Olhe para mim.

Rogério estava no centro, iluminado por outra luz, este observava uma fotografia, outra luz ilumina Moka/Ritsuko, esta também olhava para Rogério/Gendo.

- Olhe para mim.

Uma quarta luz surge sobre Rebeca/Asuka, esta segurava uma boneca e olhava para um ponto na escuridão, onde uma luz recai sobre Toshiro/Kaji.

- Olhe para mim.

Toshiro/Kaji dá as costa para Rebeca/Asuka e observa Miho/Misato ser iluminada, segurando sua cruz.

- Olhe para mim.

Miho/Misato ergue sua cabeça, olha na direção da luz, cerra suas mãos em volta da cruz.

- Quem olhará para mim?

Sakura/Rei surge na outra estremidade, passa seus olhos vagarosamente por cada um deles.

- Ninguém olha para mim.

Rogério/Gendo ergue sua cabeça, encara Akira/Shinji e volta sua atenção para a fotografia.

- Não olhe para mim.

A escuridão se converte em uma luz tão clara que fica impossível ver alguma coisa. A imagem branca como leite se dissipa, podemos ver o palco vazio, ainda com parte do figurino e do canério caídos no chão, ouve-se apenas a voz de Akira.

- De todas as personagens é apenas Shinji quem percebe. O passado não volta, embora nossas lembraças sejam valiosas elas podem nos destruir caso não possamos remeche-las. É dada a Shinji a possibilidade de reconstruir o mundo segundo sua vontade, ele opta por voltar de onde saiu, sabendo que a vida é feita de perdas e ganhos e principalmete que perdas aceitáveis não são perdas.

- Neste ponto - Sakura emenda - nos assemelhamos muito com estas personagens, poderíamos pensar que no final do ano estariamos perdendo algo de precioso, por isto esta montagem, mas estamos ganhando algo mais valioso, lembranças.

-É por isto que nos reunimos pela ultima vez - é a vez de Rebeca falar - obrigada amigos, nunca esquecerei de vocês, não importa onde eu estiver, estaremos sempre juntos, mesmo que separados.

Passam-se os dias, uma corneta ecoa pelo evento anunciando o início da peça de teatro. Os amigos/atores correm pelos bastidores, arrumando os ultimos detalhes, eles colocam-se em seus lugares, soa a segunda corneta e abrem-se as cortinas.

FIM