A Avó de Alguém.
Eu disse a ela que sua avó me causara uma forte impressão, que em seus olhos havia uma sagacidade loquaz. E ela, sem surpresa, disse-me que, conhecendo daquela senhora a história de vida, os dramas e tramas pelos quais já havia passado, parecia-lhe natural que assim o fosse.
Mais tarde, enquanto me levava até a parada, comentou que eu não andava, nem corria, que eu praticamente voava, e eu expliquei que me habituara a andar depressa, pois, para mim, era costumeiro estar atrasada. "Como minha avó.", ela disse, e me contou um episódio no qual sua avó teria saído com tamanha pressa, que esquecera de pôr a blusa, andando até a passarela do bairro apenas de sutiã.
Se me impressionei com essa história, foi menos pela cena cômica que por um pensamento que me assediara: Os distraídos e os loucos também envelhecem, e assim, algum dia, minha suposta excentricidade se tornaria a avó de alguém.