"Dona Vilóca"ou "O Pesadelo"-Série Contos Curtos.

Maximiliana sentou, confortavelmente, no sofá da nova casa por ela decorada e aspirou o perfume de suas flores ,suas violetas e margaridas, enquanto pensava, satisfeita e feliz que, desta vez, a mudança de casa era para valer, desta vez ficaria ali até morrer ou adoecer , pois o que a contista ainda não escreveu ainda ,é que Viloca já se mudara ao longo da vida, por dez vezes ,sendo ,no mínimo, duas ao ano e, sempre, ao efetuar suas mudanças e decorar toda uma casa de novo, dizia para si que desta vez era definitivo .E , ainda ,a contista esqueceu de dizer que o apelido de Maximilaina, seja Dona Vilóca , provinha da época da morte do pai, quando, em herança, ele lhe deixou uma pequena vila com oito pequeninas casinhas enfileiradas, as quais ela alugava para viver e criar os dois filhos .De maneira que, carinhosamente, era chamada por todo o bairro São João de Vilóca, em alusão à vila herdada.

A vizinhança toda sabia de suas mudanças que começaram a acontecer após a morte do pai e motivadas ,seja por seu ganho financeiro com as vilas, seja por ter ficado traumatizada com a morte dele ,pois eram muito ligados, mas o certo é que durava no máximo seis meses na nova moradia, findos os quais começava a achar tudo horrível ao seu redor, era tomada por um frenesi, um arrepio, um impulso, e saía a correr atrás de um novo aluguel, um novo local para habitar que, sempre, era visto como definitivo.Dizem os fofoqueiros do bairro que seu marido morreu no desgosto de nunca ter um lar.

Vilóca era uma mulher mignon, de cabelos curtos à la garçonne , olhos verdes, divertidos,e que gostava muito de umas fofocas, sem maldade, claro, como ,também , de decoração de ambientes ,onde não lhe faltavam ideias para a cor da poltrona ou para um novo bibelot, porém tinha este problemão, estas mudanças inexplicáveis...

E Maximiliana, ou Vilóca, agora relaxada, na nova casa, preparou o almoço para si e os filhos posto que era viúva e foi dormir , mas ,desta vez, resolveu pensar, pensar em si, nas suas rotineiras mudanças e, desta vez estranhou sua conduta, desta vez pensou que os comentários das pessoas a respeito delas eram verossímeis, desta vez estranhou, ela também, sua conduta bizarra e ,então, dormiu, e sonhou.

È verdade, ,Maximiliana, ou Vilóca, teve um tremendo pesadelo em sua nova casa , um terror :" a casa pegara fogo e ela,desesperada, saiu para a rua ,tendo encontrado um homem que se identificou como sendo um vidente, e que lhe disse que, assim como sua casa ,a vila também ia queimar e ela ficaria sem dinheiro para viver e nunca mais poderia se mudar."

Neste momento, acordou, suada e assustada com a previsão do vidente, pois não poderia mais se mudar eresolveu escutar os amigos ,os parentes e foi procurar um outro tipo de vidente, um vidente que lhe mostrasse de onde vinha e porque ela tinha esta necessidade compulsiva de viver em mudanças.

Ao amanhecer, Vilóca , ou Maximiliana ,como o meu leitor preferir chamar, estava na rua, entrando em uma nova residência ,a residência de um psiquiatra e, seja lá o que ele lhe tenha dito o fato ,é que após seis meses, continuou achando bonita sua casa e não teve aquele arrepio, aquele frenesi ou impulso de se mudar.

Um ano depois encontramos Maximiliana, ou Vilóca morando na mesma casa e com um íten a mais na decoração: um pequenino livro na mesa do café da manhã, com o dizer, anote seu sonho...

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 10/10/2014
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