"A Ironia de Vitória"- Série Contos Curtos.

Aproximou se da janela embaçada e escreveu seu nome com o dedo, enquanto sorria irônica:-Vitória! E no entanto, ninguém sabia que era uma grande perdedora. Vitoria suspirou. Chegou o dia, seu dia de contar ao marido Alex, a verdade , o dia de desabafar. A verdade é que era frígida. Fingia para Alex diariamente que sentia prazer nas relações, porém era seca, não sentia nada, era frígida. Invejou outras mulheres anos a fio, sem falar do que a atormentava. Chegou a buscar tratamento, mas o que lhe recomendaram era longo, penoso ,caro, e não havia certeza que se curaria. Havia entretanto, uma esperança. Podia dar certo, mas ela desistiu, desanimou. A partir deste dia começou a ser uma artista na vida. Fingiu sussurros, ais,estremeções de prazer e um orgasmo que nunca sentiu. Alex não suspeitou . Mas agora , passados 40 anos e às vésperas do aniversário de casamento, resolveu contar, desabafar, o que não pudera falar. Encaminhou se para a sala atrás do marido, decidida, mas escutou: - Vem,André,a nossa festa de casamento amanhã, para veres tudo que a vida me deu, inclusive minha maravilhosa mulher que , além de ter meus filhos ,contemplou me com uma rica vida sexual, maravilhosa, em todos os dias de nosso casamento.

Vitória cerrou os dentes, sufocada, e fingiu mais uma vez um sorriso para Alex. Convidou André para a festa pelo casamento de sucesso que teve, e decidiu seguir fingindo enquanto houvesse vida.

Levou o segredo dolorido e arrependido para o túmulo,decidida a dividi lo com os anjos ou, quiçá ,com os demônios.

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 03/01/2015
Reeditado em 03/01/2015
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