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“ O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia".                   
                                                                                                                 Anais Nin
 

 
EROS
 
Estiveram na conversa até tarde, cerca das duas da manhã a Fátima começou a bocejar, a Lurdes também deu sinal de sonolência e Carlos então disse que eram horas de dormir. Como a casa só tinha dois quartos, as manas tinham-lhe destinado um deles, o das visitas.
Ele estava a despir-se, tinha apenas os boxers vestidos, quando a Fátima entrou.
- Desculpa, venho só buscar a camisa de dormir.
Olhou de soslaio para ele, depois dirigiu-se ao roupeiro embutido, pegou na roupa e saiu, soltando um até amanhã sumido.
Carlos deitou-se com a secreta esperança de ter a visita da Lurdes a meio da noite, o que infelizmente não aconteceu.
De manhã, já tinham colocado sobre a mesa da cozinha iogurtes naturais, croissants, queijo, fiambre e sumo de laranja.
- Minhas queridas amigas, vocês estragam-me com mimos…
Comeram com apetite e depois ele perguntou-lhes o que queriam fazer. A Lurdes respondeu:
- Hoje podíamos ir à praia, fazemos uma cestinha de snacks, coisas ligeiras e vamos apanhar sol. O dia está esplêndido.
- Boa ideia. Vou a casa e já volto.
Carlos apanhou o elétrico até à Graça, tomou banho, vestiu roupa lavada e colocou alguma interior dentro de um saco de plástico que meteu na sacola de praia. Depois foi buscar o carro e em dez minutos estava à porta delas, à espera. Vinham ambas de calções, t-shirts e chinelas romanas a condizer, uma de verde-escuro e a outra de azul claro. Tinham um belo aspeto, como sempre apresentavam um ar muito atraente.
Ele transmitiu-lhes esse pensamento e olharam-no, risonhas com o piropo. Concordaram em ir até ao Guincho pois lá havia arvoredo que os protegeria do sol quando estivesse mais intenso. Demoraram mais de duas horas a chegar, o trânsito era imenso, mas nada de admirar ao fim de semana. Conseguiu estacionar perto do arvoredo, parcialmente à sombra, depois pegaram nas coisas e foram até à praia, deixando apenas um pequeno cesto de verga com comida na mala do carro.
Estenderam as toalhas num sítio mais afastado, o chapéu-de-sol foi bem enterrado na areia pois apesar de correr uma ligeira brisa, o vento era muito irregular e podia aumentar subitamente de intensidade, levando o chapéu pelos ares e podendo magoar alguém.
Despiram-se parcialmente e Carlos olhou para elas. Já conhecia bem o corpo da Lurdes, roliça e de carnes firmes. Tinha um biquíni preto, discreto, que lhe assentava bem. Mas quando fixou a Fátima teve uma agradável surpresa: apesar de ser quase da mesma idade, era um pouco mais magra mas cheia de curvas, não teve dúvidas em a considerar mais atraente que a irmã.
O biquíni azul claro, que condizia com a roupa que trouxera, chamava a atenção de todos, por ser reduzido e adequado às suas excelentes proporções. Olhou para ela de forma intensa, ela reparou na insistência e perguntou:
- Então, estou aprovada?
Carlos sorriu, mas com pouca convicção, ficou inibido como um miúdo apanhado em falta. Sempre assumira o controlo das situações e agora, com aquela mulher tão segura de si, estava a ficar demasiado retraído na sua presença. Tinha de alterar esse estado de coisas.
Foram molhar os pés, a água estava gelada, como de costume.
Passearam à beira-mar, até que resolveram estender-se nas toalhas. Ele ficou ao meio. A Fátima ofereceu-se para chegar o creme protetor à Lurdes, depois a Lurdes correspondeu, chegando-lhe também um pouco de creme. De seguida, Lurdes perguntou ao Carlos se queria que lhe chegasse um pouco, ele assentiu. Deitado de bruços, sentiu as suas mãos deslizarem sobre as costas, numa carícia suave, um enorme bem-estar se apossou dele e quando ela acabou e ia virar-se de costas, reparou a tempo que estava excitado. Reparou ele e também a Fátima, que desviou o rosto para o outro lado, sem conseguir evitar um discreto e dissimulado sorriso. Voltou a colocar-se rapidamente de bruços.
Passados minutos foram até à água, a bandeira vermelha não permitia veleidades em termos de banhos. Ao fim de algum tempo saíram pois a água estava gelada, secaram-se, estiveram mais de uma hora a apanhar sol e depois foram comer para a sombra, junto ao carro. O calor e a comida deram-lhes moleza e sentaram-se no carro, a dormitar. A Fátima esticou-se no banco de trás e a Lurdes no banco do pendura. Adormeceram.
Hora e meia depois, acordaram aos poucos e ele estendeu-lhes uma garrafa de água de litro e meio para elas molharem a cara, sentiam a pele a arder. Como primeiro dia não era aconselhável abusar, para evitar queimaduras desagradáveis. Vestiram-se e regressaram a casa pela marginal, lentamente, de vidros abertos, a apanhar uma brisa agradável.
Conseguiram estacionar um pouco abaixo do prédio onde a Lurdes morava e foram até casa.
Deram-lhe a primazia para tomar banho, mas ele cedeu a vez à Fátima.
A Lurdes então sentou-se ao lado de Carlos e, acariciando-lhe a coxa, perguntou-lhe se achava a irmã atraente. Ele respondeu que sim, só se fosse cego diria o contrário.
- Sentes-te atraído por ela?
Não respondeu, o que foi entendido por ela como um sim.
- Sabes, Carlinhos, eu sou uns aninhos mais velha do que tu, sei que não será fácil conseguir que fiques comigo, mas nunca admitirei que alguém te seduza. A minha irmã é divorciada, como sabes, está livre, mas não se quer ligar a ninguém, por isso estou descansada…
Carlos ficou a pensar no que ela lhe tinha dito. Era um aviso à navegação, ele devia ser mais discreto, certamente que ela o tinha visto a olhar com insistência para a irmã. Entretanto, a Fátima saiu da casa de banho, trazia vestido um roupão branco com capuz, cheirava maravilhosamente bem e sorriu-lhes.
- Que frescura…
A Lurdes fez sinal para ele ir a seguir. Ele declinou de novo, ladies first. Ela sorriu, levantou-se e desapareceu atrás da porta, que fechou. A Fátima sentou-se ao lado de Carlos, despreocupadamente, o roupão semiaberto revelava a maior parte das pernas e também os seios, de forma quase evidente.
- Então, o dia foi bom? – Perguntou ela.
- Foi ótimo, embora a água não desse para banhos - respondeu.
- Havemos de ir mais vezes juntos.
- Sim.
Ficaram em silêncio até que a Lurdes regressou.
Então ele levantou-se e foi para a casa de banho. Despiu-se e entrou na cabine, correndo o resguardo em vidro. Pairava no ar o odor do gel que elas haviam usado antes. Baunilha... Hummm... Inexplicavelmente, ou talvez não, sentiu-se imensamente excitado. Desejou a Fátima ali. Para desanuviar destes pensamentos tomou banho rapidamente, pôs a água fria a correr, para aliviar a excitação que o assolara. Vestiu-se de fresco, utilizando o saco com roupa extra que trouxera.
Foi para a sala, que estava vazia. Sentou-se, à espera que aparecessem, possivelmente teriam ido ao quarto vestir-se. Como demorassem alguns minutos, chamou pela Lurdes. Não teve resposta. Depois chamou pela irmã dela, também sem resposta.
Acabou por se levantar e foi até à porta do quarto delas, que estava entreaberta.
Olhou e viu os dois corpos, estendidos de bruços, lado a lado, em roupa interior muito reduzida e aparentemente adormecidas. «Que quadro, Bon Dieu!». Afastou-se rapidamente antes que o vissem a espreitá-las. Discretamente, encostou a porta e foi para o outro quarto, esticando-se na cama, a respiração muito rápida e um turbilhão de ideias agitando-lhe o cérebro.
Aos poucos, acalmou. Pegou no relógio de pulso e viu que eram quase sete horas. Alguns minutos depois, já vestido, saiu do quarto e foi sentar-se no sofá da sala, à espera que aparecessem.
 
 
Excerto do livro “Memórias De Um Sedutor”














 
 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 27/08/2015
Reeditado em 27/08/2015
Código do texto: T5361039
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