"Why'd you only call me when you high?"
Ela acordou assustada com seu celular tocando. O nome dele gritava no visor para ela, que suspirou. Olhou as horas. Uma hora e quarenta e oito da madrugada. Isso não podia ser nada bom. Quando ia atender, o celular parou de tocar e a ligação caiu. Agradeceu internamente e aproveitou para levantar e beber água.
Quando estava voltando para o quarto, seu celular começou a tocar novamente. Ele era teimoso e insistente.
– Alô – ela atendeu irritada.
– Oi, meu amor – ele disse com a voz enrolada de bêbado.
Ela decidiu ignorar aquele “meu amor” e perguntou:
– O que você quer?
– Você.
Ela suspirou.
– Olha, está tarde e eu preciso dormir.
– Vamos conversar. Vamos nos ver.
– Eu preciso dormir.
– Por favor.
Ela suspirou. Isso não podia estar acontecendo com ela; devia ser um sonho.
– Vai dormir, cara.
– Mas eu quero você.
– E a sua namorada?
– Ela não é você.
– Pois é. Me lembro de você ter dito que ela era melhor do que eu.
– Ela é. Mas eu não quero melhor. Eu quero igual. Eu quero você.
Ela riu; riu de verdade, com vontade. Aquilo tinha que ser um sonho mesmo, não era possível.
– Olha, você está bêbado. Considerando o barulho no fundo, deve estar em algum bar ainda. Chama um táxi e vai para sua casa dormir.
– Eu vou para sua casa.
– Não! Você vai para SUA casa! Você vai dormir e nunca mais vai me ligar, ok? Acabou. Será que você não entendeu?
– Não pode ter acabado – ele disse com a voz de choro.
– Pode parar com o show. Faça um favor a você mesmo e vai dormir. Você está bêbado e não sabe o que está falando. Aliás, você só me liga quando está bêbado. Chega disso.
Ela não esperou por uma resposta e desligou o celular na cara dele. O que tinha feito para merecer aquilo? Colocou o celular no modo silencioso, se cobriu com o edredom até a cabeça para se esconder e entrou no mundo dos sonhos que parecia menos surreal do que aquela ligação.