Expectativas

Barulhos, vozes. Chegamos! Como o tempo está trabalhando ao nosso favor, paramos no alojamento para deixar nossas tão pesadas malas. Araucárias tomam para si a atenção dos recém-chegados. Sua imponência é algo difícil de se ignorar. O ar frio enche meus pulmões e me abraça por dentro.

A casa tem um charme que não consigo explicar. É como se fosse um ser vivo, com uma aura linda que imana e encanta todos que se aproximam. Na sala, vejo o coração da casa, que com certeza será um companheiro para minhas noites frias: a lareira. A casa parece falar quando nossos passos marcam seu piso de madeira.

Depois das coisas arrumadas, partimos. Nosso destino? Reserva Betary. Lar de animais e plantas exóticos, pelo o que eu ouvi dizer.

Aqui preciso parar para fazer algumas observações... Expectativas são coisas curiosas... É algo que depende inteiramente do indivíduo, mas nunca vemos desse modo. Como seres humanos que somos, sempre arrumamos "culpados" pelas nossas ações. No meu caso em particular, meu culpado tem nome e sobrenome: Reserva Betary. Não me entenda mal, o lugar é realmente de uma beleza inestimável. Mas fomos em uma época ingrata - esse clima gélido que nos permeia faz com que os animais procurem lugares mais quentes que, como percebi, não ficam ao alcance dos meus olhos.

Fomos à reserva ouvindo palavras de elogio acerca de cogumelos bioluminescentes. Chegada a hora de ver tais seres tirados do mundo dos sonhos. Entro em um quartinho escuro - afinal, não conseguiríamos vê-los com luz. O guia fecha a porta. Escuro total. Aguardo... Quando não consigo mais me conter, pergunto onde estão os cogumelos. O guia ilumina com o celular um filete milimétrico, que, quando escuro, emite o que nos ensinaram a chamar de luz. Na minha opinião aquilo não é digno de ser chamado de luz, já que não é justo que os raios luminosos do sol recebam essa mesma designação. Como eu disse, expectativas.

O que acabamos por ver foi uma tartaruga. Você me conhece, adoro tartarugas! Talvez as expectativas frustradas não tenham sido tão em vão quanto eu imaginara.

Acho que meu esforço de observar as coisas belas que me cercam têm saído pela culatra. Não tenho olhado com bons olhos o que a natureza tem comigo partilhado... Espere. Um passarinho amarelo se aproxima de onde estou. Pequeno, não maior que a palma da minha mão. Delicadamente pousa no galho da árvore. Um ninho! Ternamente alimenta bocas famintas que confiam cegamente na proteção desse pequeno ser. Como pode existir tanta responsabilidade em cima de tão pequena criatura? Percebo que tudo é relativo e depende dos olhos de quem observa. Deus deve me olhar como um ser frágil, pequeno, diminuto; assim como agora estou olhando para o pássaro. A natureza é sábia. Deus é sábio. Apenas cobra o melhor que cada ser pode fornecer. Grandiosa é a vida daqueles que fazem o melhor com aquilo que lhes é dado. Espero, um dia, ser capaz de atender as minhas responsabilidades com a mesma graça e dedicação daquele pequeno passarinho.

Apiaí, 20 de junho de 2014

Sollarys
Enviado por Sollarys em 21/05/2017
Código do texto: T6005088
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